Mobilidade de produção

30 May 2018

Condições de mercado mudam o modelo de produção de concreto, e centrais móveis ganham terreno. 

convicta

A total desorganização do mercado de construção nos principais mercados da América Latina deixou sobre o setor de concreto uma ferida profunda. Mesmo que algumas empresas em alguns países apresentem sinais de retorno, os cálculos de preço, demanda e custos ainda não estão em seu melhor equilíbrio.

No coração do setor, as centrais dosadoras de concreto têm que se adaptar a esta nova realidade. Operações de custo controlado e alto potencial de gerar margens de economia e receitas são o grande objetivo nestes momentos.

Esta adaptação significa, em muitos casos, o investimento em centrais dosadoras ou misturadoras que sejam móveis e/ou transportáveis. As razões são várias, mas sempre têm a ver com uma nova realidade econômica das empresas provedoras de concreto.

Novo cenário

Para o ex-gerente de centrais de concreto da Odebrecht Julio Cesar Camargo, um contexto econômico de recessão não necessariamente extingue as grandes centrais de produção. Mas sua operação deverá ser reduzida, guardando as capacidades do equipamento para quando o mercado voltar.

“Há grandes centrais que sobrevivem no mercado de obras médias e pequenas. Mas, por exemplo, se a central tem dois ou três pontos de carga, terá que trabalhar só com um, além de reduzir pessoal, ou dar férias coletivas. Mas, quando a demanda voltar, o equipamento terá capacidade disponível”, diz o especialista.

Suelen Prudente, consultora comercial da Convicta, fabricante paranaense de centrais e outros equipamentos, tem uma visão ampla sobre como se chegou a este contexto. Sua análise começa com a tendência entre as concreteiras de buscar a instalação de centrais em obras (obras de canteiro), dado que nelas pode-se negociar previamente o preço do concreto, ao mesmo tempo que os caminhões rodam só dentro da obra. Com menos caminhão rodando, o custo cai; e com o preço combinado, muitas vezes o investimento em caminhões pode se pagar só com o concreto vendido na obra.

Ocorre que instalar uma central de concreto na obra envolve investimentos em infraestrutura associada. “Tem que nivelar o solo, fazer fundações, cabine de comando e operação, infraestrutura para os trabalhadores, coisas que encarecem o concreto e muitas vezes o inviabiliza. Esta foi a razão pela qual algumas construtoras compraram suas próprias centrais de concreto nas décadas de 80 e 90, e algumas se tornaram concreteiras”, afirma ela.

Este foi o princípio da ideia de central de concreto móvel: equipamentos que pudessem ser transportados por caminhão e montados in situ, muitas vezes longe das filiais da concreteira. “Estas centrais não têm necessidade de base de fundação ou cabine de operação (pois já vêm incorporadas). Tudo para reduzir o custo operacional das concreteiras, e fazê-las mais competitivas nas obras de canteiro”.

Mas novamente esta solução não foi definitiva, o que mostra como o mercado de concreto vive sob grandes pressões do contexto econômico. Com o bom momento da construção no Brasil, a Convicta verificou que para as concreteiras nacionais era mais difícil adquirir um terreno para instalar filial, enquanto passou a ser mais barato alugar o terreno. Esta mudança tornou inviáveis muitos investimentos em infraestruturas fixas. Porém, talvez a central móvel tampouco fosse a melhor opção.

“A pergunta que o concreteiro se fez foi a seguinte: como estar próximo de onde mais se demanda volume de concreto sem precisar investir muito? Não posso comprar uma central móvel e instalá-la num terreno onde posso ficar um ano ou dez, isso quem vai dizer é o mercado. Se colocar uma central móvel, pode ser que perca o intuito da mobilidade”, diz ela. Neste cenário, o concreteiro poderia assumir um risco de longo prazo.

Assim nasceu o conceito de central dosadora de concreto transportável. Em seu caso, a Convicta as produz desde 2012. “Nesse modelo, a central completa é montada sobre uma plataforma única, a fixação de todo o equipamento é feito diretamente sobre a estrutura, que conta com patolas para garantir a estabilidade e segurança. Tem todos os itens de uma central fixa (balança de agregados, aditivo, silo para estocagem de cimento com pesagem, dosador de água com pré determinador, cabine de operação, caixa de água de 3.000l e reservatório de aditivos para 500lts)”, diz.

“Com isto, não se faz nenhum investimento de infraestrutura para instalar a central. Toda ela pode ser fixada em um terreno que tenha apenas sido nivelado. O cliente se isenta de fazer fundações, radier e tudo mais. E como o terreno é alugado, não tem porque fazer um investimento que depois ficará para o proprietário”. Na Convicta, a central campeã de vendas nesta categoria é a COMPACTA 45.

 

Sobre rodas

Outro fabricante que percebeu a necessidade de mobilidade para a produção de concreto é a argentina Indumix. Seus cinco modelos de central dosadora são da linha Indumovil, que faz jus ao nome ao ter o corpo da central posto sobre rodas.

Os valores nominais de produção da linha Indumovil são 40,60, 80, 100 e 120 m3/h. Embora só o corpo essencial da central esteja sobre rodas, todos os demais componentes são transportáveis em caminhão.

“Todas as centrais estão equipadas com sistemas de transporte e são fáceis de instalar uma vez que cheguem à obra”, afirma Noélia Gómez, gerente comercial da Indumix, cuja fábrica em Córdoba, Argentina, começará em breve a exportação das centrais Indumovil ao mercado chileno.

Por sua vez, o fabricante nacional RCO SITI, que também tem olhos postos no mercado latino-americano através de exportações, investe em modelos móveis. Sua linha Nomad tem quatro modelos, com capacidades nominais de 20, 30, 45 e 60 m3/h.

De acordo com Alex Guimarães Nogueira, consultor de vendas da RCO SITI, “a linha Nomad é plug&play, não demanda fundação de concreto para ser instalada, tem sua hidráulica e mecânica de fábrica e o transporte do silo e da própria central é em um só conjunto”. Não obstante, a fabricante oferece também centrais dosadoras fixas, “para concreteiras que tenham operação em locais estáveis, ou em grandes obras como hidrelétricas, devido a sua maior capacidade de produção”, diz o executivo.

Em seu caso, a RCO SITI tem entre as centrais fixas de sua linha CDR cinco modelos com capacidades nominais de 30, 40, 60, 80 e 120 m3/h.

Obras pesadas

Mas a esperança de todos é que dias melhores surjam no horizonte, e que os investimentos em infraestrutura pesada voltem à América Latina no ritmo que já tiveram.

Seguramente, então, fabricantes de centrais de concreto de magnitudes especialmente grandes retornarão a seus postos. Assim se espera de empresas como a Schwing-Stetter, marca de origem alemã que tem fábrica no Brasil e está presente em toda a região com muitos equipamentos para o mercado de concreto.

No caso de centrais, sua principal especialidade é prover ao mercado de infraestrutura pesada, com centrais que em sua maioria são misturadoras, cujas capacidades podem chegar a 150 m3/h. Este seria o caso do modelo HN 3.0 horizontal, que tem misturador de duplo eixo horizontal.

A linha HN da Schwing é de aplicação absolutamente específica por sua enorme capacidade e tamanho. Mas um ponto a considerar na oferta da fabricante alemã é sua oferta para o mercado de pré-fabricados. A linha de central misturadora CP 30 tem nominal de 30 m3/h, enquanto seu misturador é de 0,5 m3. Com fácil montagem e mobilização, esta central é opção para pré-fabricadores e indústrias de argamassas para edificações.

Ao final, encontrar a central de concreto adequada dependerá de cálculos. Como define o especialista Julio Cesar Camargo: “Uma central pode ser excelente para uma obra e muito ruim para outra. Isso dependerá do espaço disponível, do fornecimento de materiais, de quantos metros cúbicos por hora se quer produzir, da disponibilidade de pessoal treinado e peças de reposição. Deve-se considerar também que há um investimento associado à central, como licenças de operação, obras civis, instalações elétricas e hidráulicas, controle tecnológico”.

“Em resumo, sempre tem que fazer contas, não há como escapar das contas”, define o especialista.

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Energia eólica é negócio para concreto

BETOMIX. Central misturadora Liebherr Betomix 3.0 produz para torres eólicas da Wobben-Enercon.

Embora a recessão tenha deixado o Brasil sem obras de infraestrutura pesada por longo tempo, houve um setor da economia que não parou: o da energia eólica.

A Wobben-Enercon é uma empresa fabricante de torres para geração eólica que decidiu construir suas torres com concreto usinado.

Desde 2015, a empresa trabalha com uma central misturadora Liebherr modelo Betomix 3.0, que pode produzir até 120 m3/h, com misturador de 3 m3 de capacidade.

De acordo com Edilson Tomé, gerente de produção da fábrica da Wobben na Bahia, a empresa escolheu instalar uma central de concreto porque “com as torres feitas em concreto é possível alcançar alturas maiores do que com as torres feitas apenas em aço, o que uma solução melhor em regiões onde estão os melhores ventos”.

O executivo conta que a Wobben-Enercon produz ao redor de 3.500 m3 de concreto por mês. “Estamos trabalhando com esta central desde 2015 e já produzimos cerca de 72.000 m3. Nunca tivemos problemas com a central, que atende as necessidades de qualidade do concreto, produtividade e desempenho, sem grandes problemas de manutenção”, diz.

Edilson Tomé afirma que a Wobben-Enercon é fiel cliente Liebherr. “Foram testados outros modelos em outras fábricas, e a Liebherr é a que tem o melhor desempenho em nossa atividade”.

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