América Latina cai forte

27 November 2020

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A crise sanitária ocorrida devido à pandemia de Covid-19 produziu a pior contração econômica e social das últimas décadas, seja em nível mundial, seja nas economias da América Latina e Caribe. 

Neste contexto, o último Estudo Econômico da América Latina e Caribe apresentado pela Cepal espera uma queda na economia regional de 9,1% (o PIB mundial cairá 5,2%, pior recessão desde a segunda Guerra Mundial), que será acompanhada de aumentos significativos na taxa de pobreza, que chegará a 37,3%, e um aumento na taxa de desocupação, que deverá ficar em torno de 13,5%. 

Já antes da pandemia, a região exibia taxas modestas de crescimento (0,4% médio entre 2014 e 2019) e crescentes vulnerabilidades sociais e macroeconômicas. Em função disso, a Cepal prevê que a dinâmica de recuperação será lenta e os custos econômicos e sociais desta crise poderiam continuar aumentando ao longo de 2021. De fato, espera-se que em 2020 o nível do PIB per capita da região seja equivalente ao de 2010, e o de pobreza ao de 2006, o que significaria uma década perdida em termos econômicos, e quase uma década e meia em termos sociais. 

“Esta é, sem dúvida, a crise econômica e social mais forte que a região experimentou em décadas, e desnudou as fragilidades estruturais das economias. Embora vários países tenham feito esforços fiscais e monetários significativos para mitigar os efeitos sociais e econômicos da pandemia, em alguns este esforço foi limitado pelas restrições fiscais, restrições externas e a disponibilidade de financiamentos. Por sua vez, os efeitos da pandemia foram aumentados em consequência da fragilidade dos sistemas de saúde e proteção social dos países da região, além da alta informalidade dos mercados de trabalho”, indica o estudo. 

Apesar de a pandemia ter chegado na região já no final do primeiro trimestre, de imediato gerou efeitos na economia. Durante o período, nove das 20 economias da América Latina tiveram crescimento negativo. “Em função disso, a América Latina entrou em recessão econômica a partir do primeiro trimestre, e seu PIB apesentou uma contração de 1,53% em comparação com o registrado no mesmo período de 2019. As economias que se contraíram são Argentina (-5,2%), Brasil (-0,3%), Cuba (-3,7%), Ecuador (-2,4%), Haiti (-3,1), Honduras (-1,2), México (-1,4), Peru (-3,4) e a República Bolivariana de Venezuela (-29,8%)”, diz o documento. 

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E se o primeiro trimestre foi difícil, o golpe veio ainda pior no segundo. “Os dados mostram que a atividade caiu significativamente em abril, superando as piores expectativas e confirmando os graves efeitos do confinamento. De acordo com os números preliminares, os setores de comércio e construção são os que registram a maior deterioração, e em menor medida, a indústria manufatureira”, indica a Cepal. 

Estimativas 2020 

De acordo com o Estudo Econômico 2020, na América Latina como um todo haverá uma queda mais pronunciada na sub-região da América do Sul, com perda de 9,4%, seguida da América Central e México (-8,4%) e Caribe (incluindo Guiana) com queda de 5,4%.

As cinco economias que devem tombar com mais força este ano são precisamente da América do Sul. Trata-se da Venezuela, cuja deterioração do PIB se calcula em 26%, Peru (13%), Argentina (10,5%), Brasil (9,2%) e Equador (9%). 

Dentre as economias mais resilientes estão a do Paraguai, cuja contração será de 2,3%; Guatemala, com queda esperada de 4,1%; e Haiti e Uruguai, com perdas projetadas de 5%. 

Construção 

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A construção não está alheia à debacle econômica da região. Recentemente, a consultoria GlobalData reduziu seu prognóstico de 2020 para a região. Antes, previa queda de 6,8% e agora prevê queda de 11,4%. Isto principalmente devido à recuperação mais lenta do que o esperado na segunda metade do ano, à medida que o coronavírus continua se propagando pela região e as empresas de construção seguem em luta para reativar suas operações. 

“A previsão revisada faz da América Latina a região do mundo com pior desempenho em termos de produção da construção, e reflete os danos econômicos cada vez mais profundos da pandemia de Covid-19 fruto dos estritos bloqueios impostos pelas autoridades para limitar sua propagação”, afirma Dariana Tani, economista da GlobalData. 

Entre os maiores países da região, espera-se que a produção da construção do Peru se contraia mais este ano, com -24%, sendo seguida pela Argentina (-23,5%), México (-15,2%), Colômbia (-13,2%) e Chile (- 8,2%). Uma notícia mais “positiva” (note-se que entre aspas) é que a previsão para a construção do Brasil é de que da de 4,8%. Positiva porque esta redução será menor à calculada anteriormente, que chegava a -6%, já que a continuidade de quase todas as atividades de construção desde o início da pandemia ajudou a evitar um resultado muito pior no segundo trimestre. 

“O avanço na reativação dos projetos e o início de novos em alguns países foram afetados pelo contínuo aumento de casos de Covid-19 e à maior incerteza em relação à economia. Em 2021, a GlobalData prevê que o setor se manterá fraco, aumentando apenas 0,2% antes de uma recuperação de 3,1% no período restante do prognóstico 2022-2024”, afirma Tani. 

Espera-se que Peru, Chile e Colômbia sejam os de melhor desempenho no ano que vem, com recuperações da construção respectivamente de 16,8%, 6,8% e 4,8%. Enquanto isso, espera-se que a atividade na Argentina, México e Brasil continue caindo, ainda que a taxas muito mais suaves, em 5,4%, 3,4% e 1,6%, respectivamente. 

“Embora esperemos que a atividade se recupere gradualmente nos próximos meses à medida que se aliviem as restrições relacionadas à Covid-19 em toda a região, não há expectativas de que os níveis de produção registrados antes da pandemia se restabeleçam nos próximos quatro anos, dadas as fragilidades estruturais da região e os problemas de longa data que se agravaram na pandemia, incluindo as restrições fiscais, as tensões sociais, a crescente desigualdade, a baixa produtividade e o descontentamento geral com as instituições democráticas”, conclui Tani.

 

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