Tsunami de aço chinês: demissões, crise e desconfiança na indústria siderúrgica brasileira

Importação do aço chinês e causa desequilíbrio ao setor siderúrgico brasileiro.

O setor siderúrgico brasileiro enfrenta significativo impacto devido ao aumento nas importações de aço, resultando na redução da produção e na falta de geração de empregos.

Foto: AdobeStock

Exemplo disso foi que a Gerdau, empresa brasileira produtora de aço, anunciou que demitiu 100 trabalhadores da fábrica de Pindamonhangaba, no interior de São Paulo.

Em comunicado oficial, a Gerdau justificou as demissões como uma resposta ao “cenário desafiador enfrentado pelo mercado brasileiro diante das condições predatórias decorrentes das importações de aço chinês”, ocorrendo após o período de layoff promovido pela empresa.

A nota ressalta a urgência na implementação de uma tarifa emergencial de 25% sobre as importações de aço, visando garantir a sustentabilidade das operações da Gerdau, bem como do setor siderúrgico nacional, e preservar os empregos na área.

O Sindicato dos Metalúrgicos de Pindamonhangaba sinalizou que a Gerdau havia indicado a não renovação do layoff, sem, no entanto, especificar o volume de demissões, pegando o sindicato de surpresa.

Posteriormente às demissões, o sindicato anunciou um acordo com a empresa, envolvendo o pagamento de cinco meses de salários para os trabalhadores demitidos, além de uma indenização de R$ 3 mil. O acordo também estabelece a garantia de emprego por três meses para os demais funcionários.

Preocupante: 15 meses seguidos de falta de confiança

O Indicador de Confiança da Indústria do Aço (ICIA) cresceu 3,2 pontos em janeiro de 2024 frente ao mês imediatamente anterior e atingiu 40,9 pontos.

Apesar de registrar a terceira alta seguida, o ICIA ainda se encontra abaixo de 50 pontos, o que mantém o quadro de falta de confiança dos CEOs da indústria do aço. Com esse resultado, o indicador acumula o 15º mês consecutivo abaixo da linha divisória de 50 pontos, entre confiança e falta de confiança. O ICIA de janeiro de 2024 ficou 12,6 pontos abaixo da média histórica, de 53,5 pontos.

Todos os componentes do ICIA continuam abaixo de 50 pontos pelo quinto mês consecutivo, o que indica falta de confiança tanto sobre a situação atual quanto sobre as expectativas para os próximos seis meses.

O índice que mede a percepção sobre a situação atual cresceu 9,5 pontos em janeiro frente ao apurado em dezembro, para 39,6 pontos.

O indicador de situação atual da economia brasileira cresceu 11,8 pontos e atingiu 39,5 pontos. O indicador de situação atual sobre a própria empresa aumentou 8,4 pontos, para 39,7 pontos.

O índice de expectativas para os próximos seis meses ficou estável em 41,6 pontos frente ao apurado no mês anterior. A estabilidade desse indicador se deu pelo contraponto do aumento de 3,5 pontos no indicador de expectativas sobre a economia brasileira (para 40,4 pontos) com a queda de 1,8 ponto no indicador de expectativas sobre a empresa do entrevistado(para 42,1 pontos).

Razões...

Mercado reduz novamente previsão de inflação para 2024

O mercado financeiro reduziu novamente a previsão da inflação para este ano. Segundo projeção do Boletim Focus, em janeiro pelo Banco Central (BC), o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - considerado a inflação oficial do país - deve fechar este ano em 3,86%. Há uma semana, a projeção do mercado era de que a inflação este ano ficasse em 3,87%. Há quatro semanas, a previsão era de 3,91%. 

Divulgado semanalmente, o Boletim Focus reúne a projeção de mais de 100 instituições do mercado para os principais indicadores econômicos do país. Para 2025, a projeção da inflação ficará em 3,5%. Para 2026 e 2027, a previsão é que o índice fique nos 3,5% nos dois anos.

A estimativa para 2024 está dentro do intervalo de meta de inflação que deve ser perseguida pelo BC. Definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), a meta é 3% para 2023, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual (p.p) para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 1,5% e o superior 4,5%.

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Para alcançar a meta de inflação, o BC usa como principal instrumento a taxa básica de juros, a Selic, a taxa básica de juros, definida em 11,75% ao ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom).

Concorrência desleal?

Economia chinesa está em desaceleração, desde 2016, a expansão econômica do país asiático tem se mantido abaixo da marca de 7% e com excesso de produção de aço na China, o país necessita exportar o excedente, comercializando o produto a preços mais baixos.

Fora isso, governo local fornece subsídios às empresas produtoras chinesas. Adiciona-se à isso, o fato de que o mercado imobiliário chinês, um dos maiores compradores de aço do mundo, enfrenta grave crise econômica desde 2020, quando a Evergrande, uma das maiores empresas do setor, precisou renegociar o pagamento de várias dívidas e pediu socorro ao governo de Guandong, onde fica a companhia. 

A crise que afeta o setor imobiliário chinês desde 2021 teve início com a gigante imobiliária do país. Na época, a empresa anunciou a incapacidade de quitar suas dívidas, que totalizavam 2,4 trilhões de yuans (aproximadamente R$ 1,7 trilhão), correspondendo a 2% do Produto Interno Bruto (PIB) da China.

País exportou um total de 90 milhões de toneladas, e o Brasil se destacou como o sétimo principal destino desses embarques.

No segmento de aços laminados, mais de 2,5 milhões de toneladas provenientes da China entraram no mercado brasileiro, competindo diretamente com empresas como CSN, Usiminas, Gerdau e outras produtoras locais, que representavam um total de 4,4 milhões de toneladas. Considerando também produtos semiacabados, as usinas chinesas enviaram aproximadamente 3 milhões de toneladas ao Brasil, o que equivale a 60% do volume total importado pelo país.

Como será?

Para o ano de 2024, as projeções do Instituto Aço Brasil indicam uma redução de 3% na produção de aço, atingindo 30,4 milhões de toneladas, e uma queda de 6% nas vendas internas, totalizando 18 milhões de toneladas.

Antecipa-se um aumento significativo nas importações, estimando-se um crescimento de 20%, superando a escalada observada em 2023, para 6 milhões de toneladas. Esse valor representa um aumento de 79% em relação ao realizado apenas dois anos antes, em 2022. Por outro lado, as exportações devem registrar um acréscimo de 1,3%, e o consumo aparente aumentará 1%, impulsionado exclusivamente pelo aumento das importações.

O Instituto Aço Brasil ressalta que esse volume de aço estrangeiro resulta em uma perda de arrecadação estimada em R$ 3,4 bilhões, além do impacto na diminuição de milhares de empregos. A perda potencial de faturamento para o setor é projetada em R$ 36,7 bilhões.

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