Região de oportunidades
By Cristián Peters14 June 2016
Com mais de 22 anos na Caterpillar, Philip Kelliher, vice-presidente da Caterpillar Inc. e responsável pela Americas and Europe Distribution Division, conhece bem as flutuações do mercado latino-americano, e as idiossincrasias de seus países, a tal ponto que se atreve a assegurar que a “América Latina talvez seja a região do mundo que mais conheço”.
Desde que entrou na Caterpillar em 1994, teve diversos cargos administrativos e de marketing na empresa, mas sempre esteve muito vinculado ao mundo da mineração, assumindo dentro de suas responsabilidades a gerência de aplicações mineiras da Caterpillar Austrália, gerente comercial na formação da divisão Global Mining e gerente de contas para a BHP Billiton, entre outros. O executivo também está ciente da relação que a América Latina tem com a indústria e como sua economia está fortemente ligada ao preço das matérias primas e suas flutuações. De fato, Kelliher se desempenhou como gerente de distrito da indústria mineira para o Cone Sul, com base no Chile, onde viveu por cerca de três anos.
Nascido na Austrália e graduado na Universidade de Melbourne em 1994 com uma licenciatura em engenharia do meio ambiente, em entrevista a CLA, Kelliher comenta sobre suas novas responsabilidades.
“Minha principal responsabilidade é controlar a relação e rendimento dos distribuidores, sem importar exatamente qual é a área de negócio. É preciso ver o resultado global do dealer, demonstrar que a Caterpillar os está apoiando e procurar fazer com que seu rendimento seja o melhor possível para seus clientes no território”, explica o executivo a respeito de suas novas funções.
Visão regional
Em um diagnóstico geral do mercado latino-americano, Kelliher, ele é enfático em advertir que é complexo fazer uma leitura comum a toda a região dada as individualidades de cada país, mas sim, assegura que o caso do Brasil é especialmente grave. “O mercado em geral está deprimido. O Brasil era provavelmente o maior mercado da América Latina e em 2015 experimentou um descenso dramático de quase 60%, passando em poucos anos do pico ao fundo do poço. Diria que o Brasil tem desafios especiais já que não só precisa enfrentar um duelo com relação aos commodities, mas também possui aspectos relacionados ao Governo e a corrupção. Tudo criou uma tormenta em nossa indústria, com consequências negativas”, analisa.
No restante da região, o executivo vê uma tendência bem negativa, mas assegura que, na maioria dos casos, “está ligado aos aspectos mais lógicos, como o valor das matérias primas, que obviamente impactaram na indústria mineira, e que também afeta a construção em termos de projetos. Por outro lado, o setor de petróleo e gás também está vivenciando um tremendo impacto em países como Venezuela, México e Colômbia”, assegura.
Os resultados da Caterpillar desde 2012 caíram consistentemente, enquanto esse ano a companhia gerou vendas e receitas de cerca de US$65,8 bilhões, em 2015 alcançaram US$47 bilhões, experimentando assim uma queda de 28,6% neste período. E para 2016 as projeções segundo Doug Oberhelman, CEO da empresa, estão em torno de US$40 e US$42 bilhões.
A situação latino-americana não está distante desta realidade e as vendas na região também vêm caindo sistematicamente desde os US$8,9 bilhões alcançados em 2012. Não obstante, neste caso a queda foi mais tumultuada, alcançando 46,3% dos US$4,8 bilhões registrados no ano passado. A porcentagem está também alinhada com uma queda interanual do primeiro trimestre de 2016. A companhia obteve vendas e receitas de cerca de US$772 milhões na região, cifra que representa 41,2% menos que no mesmo período de 2015.
Como foi advertido por Kelliher, essa forte redução nas vendas se deve principalmente à debilidade econômica generalizada em toda a região, o que impactou negativamente sobre a demanda da construção e da mineração e nos equipamentos utilizados em aplicações de petróleo e gás.
Porém, esses resultados, Kelliher asegura que ainda que “a América Latina esteja passando por um mau momento, isso não durará muito tempo, ela vai se recuperar. A pergunta é quando”.
Distribuidores
Pelo relatório de 2015, a Caterpillar tinha uma rede global de 175 distribuidores no mundo, 32 deles na América Latina. A atual depressão econômica pode impactar a representação da companhia na região?
“Não temos nenhum dealer com o qual tenhamos de nos preocupar por sua sobrevivência. Existem alguns que por motivos particulares requerem um foco especial, mas não em aspectos significativos. Nossos dealers estão enfrentando a situação muito bem”, assegura Kelliher.
O executivo explica que dada a história da América Latina, acostumada a altos e baixos, os distribuidores da Caterpillar estão preparados para as contingências. “É interessante. Como nossos distribuidores cresceram em condições muito cíclicas, são capazes de administrar o atual ciclo, talvez mais que ninguém no mundo”, afirma.
Um exemplo disto é a Sotreq, distribuidor da Caterpillar no Brasil. Segundo comenta Kelliher, a companhia, ainda consciente do mau período que está experimentando o gigante sul-americano, está tranquila e vê nesta crise uma oportunidade, já que enquanto eles poderão suportar a queda do mercado, alguns de seus competidores não terão essa capacidade. “A longo prazo, é quase saudável que isso aconteça. Obviamente é doloroso no momento, mas estaremos bem em longo prazo”, insiste.
Dentro das oportunidades está o aprofundamento em áreas de negócios onde a companhia não atua diretamente, mas possuem potencial para abrir esse espaço com alguns equipamentos, como agricultura.
Da mesma maneira, Kelliher olha com atenção especial para algumas economias que podem apoiar o crescimento da empresa. “A Argentina é um grande exemplo, graças a estabilização política do país. Talvez, inclusive a Venezuela possa apresentar uma história similar. Existe potencial de crescimento, é preciso se organizar e voltar para aqueles mercados que se restringiram por um tempo”, diz.
Se existe um mercado que não teve cobertura por razões políticas e que hoje se abre como uma oportunidade, é Cuba. A companhia já atua com certas restrições em algumas partes do mundo, porém, apenas três países não possuíam negócios: Coréia do Norte, Irã e Cuba. “É um evento muito raro para nós, abrir novos negócios é excitante”, indica o executivo, que já visitou a ilha com o seu distribuidor portorriquenho, a RIMCO, que seria a encarregada de representar a marca no país.
“Hoje ainda seria ilegal fazer negócios em Cuba, mas a administração de Barack Obama em março introduziu uma legislação que nos permitiria pedir uma licença para poder fazer negócios em áreas específicas. Algo em que estamos trabalhando e esperamos que no curto e médio prazo possamos entrar no mercado cubano”, finaliza Kelliher.
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