Preço e qualidade
07 October 2015
As empresas chinesas estão se desenvolvendo muito nas últimas décadas, e os produtos Made in China há muito já não são sinônimo de baixo custo e baixa qualidade.
A CLA conversou com Xu Ming, presidente da Sany para América Latina, empresa que vem marcando paulatinamente sua presença na região, com contratos gigantescos na Venezuela e duas fábricas no Brasil. O executivo comenta seus planos para a região e faz um verdadeiro convite a uma abertura de mentes no que se refere ao maquinário de países emergentes.
A China está ampliando seus esforços de cooperação com os países da América Latina e Caribe, e durante o primeiro semestre o presidente chinês, Xi Jinping, anunciou investimentos na região por US$250 bilhões em 10 anos.
De fato, segundo detalha Ming, parte dos fundos, cerca de US$ 20 bilhões, irão diretamente para a infraestrutura, enquanto US$ 30 bilhões serão dedicados às cooperações de capacidade produtiva entre China e América Latina.
Neste contexto, as empresas de maquinário chinês seguramente irão desempenhar um papel importante. Algo que o executivo julga como uma oportunidade.
Quão envolvida está a Sany nos projetos de investimentos chineses?
Creio que o governo chinês já começou a aplicar vários conceitos a respeito. De partida já se estabeleceram duas instituições que se encarregarão de controlar os fundos de investimento, e a Sany é uma companhia em que o governo chinês tem colocado muita confiança e muita fé. Nós estamos participando muito ativamente nestas avaliações dos projetos que a China vai desenvolver, mas qualquer projeto necessitaria tempo para ser avaliado e aprovado para só então, mais tarde, ser implementado.
Qual é a estratégia da companhia para diminuir a resistência do mercado latino acerca do maquinário chinês?
Na América Latina existe um costume de consumo. De fato, existem também empresas competitivas americanas, japonesas, europeias e sul-coreanas que chegaram muito antes que a Sany nesta região, e foram elas que conformaram essa cultura. Nós chegamos tarde, essa é a verdade. Eu acredito que com o tempo e com a experiência que os clientes terão com nosso maquinário, pouco a pouco as preferências se modifiquem, bem como esses costumes. Eu acredito que esse é um processo de tempo, e nada mais.
Maquinário mais barato é a estratégia?
Não é somente mais barato, mas tem a ver com a relação preço e qualidade, essa é a maior vantagem competitiva do maquinário que a Sany fabrica. Nossa qualidade está em níveis internacionais e não é inferior a nenhuma outra marca. Nossas escavadeiras, por exemplo, segundo a revista britânica The Economist, já superou a qualidade de companhias como a Komatsu, Hitachi e Kobelco e está imediatamente atrás da Caterpillar. Além disso, nosso preço é somente 80% ou 85% dos que praticam as outras empresas com o mesmo nível.
Pagando 20% a menos, é possível desfrutar da mesma qualidade e um serviço melhor do que oferecem as muitas marcas que a região já vem consumindo ao longo das últimas décadas. Estes 20% a menos são dinheiro que se pode poupar para que os cidadãos paguem menos impostos e para que se possa construir mais projetos para o bem de suas próprias nações.
No Brasil, procuramos manter a cultura de mercado local que diz que os clientes sempre têm razão, ou seja, eles sabem com quem vão trabalhar, por que finalmente o que convém é o investimento e o retorno. Isso é o que mais afeta o futuro de nossa marca na região. Tudo tem sua lógica, obviamente. Temos centros de pesquisa na Alemanha, Japão, EUA e Índia para conseguir integrar os melhores recursos, por isso queremos compartilhar essas conquistas de inovação constante com as autoridades e os povos da América Latina.
Na América Latina, qual é o mercado mais importante para a Sany?
Estamos no Brasil há oito anos, no Peru há sete, na Venezuela entramos recentemente, há dois anos, e foi aí que nasceu a Sany América Latina. O Brasil era um mercado muito importante para nós, mas a Venezuela superou as expectativas que tínhamos. Chegamos lá com uma introdução real, como sócios estratégicos do governo venezuelano, precisamente por que eles queriam provar novas opções, depois de tantas décadas trabalhando com outras marcas relativamente mais custosas.
Com a Venezuela assinamos contratos por mais de US$ 320 milhões para a compra de maquinário e isso é só o começo. Já superamos as expectativas originais do povo venezuelano e por isso estão comprando cada vez mais de nós.
Além disso, realizamos muitos compromissos extras e por isso estão reafirmando novamente seu compromisso de trabalhar com a Sany para toda a sua construção socialista. Eles têm suas vantagens por ser um país socialista, pois poderiam reunir todos os recursos da forma mais eficiente para desenvolver os projetos mais importantes. Nesse sentido, a Sany pôde brindar uma solução mais integral para a modernização tanto de infraestrutura, como industrial e residencial do país. Hoje temos uma base bem sólida lá, conseguimos muitos elogios, tanto do presidente Maduro, como dos ministros, engenheiros y operadores acerca do comportamento de nossas máquinas.
É preciso reconhecer que partimos com uma base muito pobre e todo o nosso trabalho se desenvolveu sobre uma base quase zero. Sem incluir o Brasil, tínhamos em 2012 uma venda anual de US$ 3 milhões, hoje em dia já superamos os US$ 300 milhões. Eu creio que isso é somente um começo. Já tenho meus escritórios instalados em quase toda a região, e eu a vejo com um potencial tremendo, por isso não vou definir um limite para a minha marca. Eu creio que poderíamos obter aqui o mesmo êxito que temos na China.
Quais são as expectativas com a nova fábrica no Brasil?
Pensamos que no último trimestre do próximo ano seria possível terminar de construir a nova fábrica em Jacareí. A capacidade desenhada para esta unidade em um primeiro momento seria de 600 unidades de escavadeiras por ano. Aumentar a presença da Sany na América Latina não dependerá da Sany, mas sim do grau de crescimento entre os mercados. Essa fábrica a princípio será instalada para satisfazer primeiro a demanda doméstica do Brasil, e logo, dados os acordos que o Brasil tem com o Mercosul, aí poderíamos encurtar o período de entrega das máquinas na América Latina.