Para se atualizar
07 October 2015
Infraestrutura. Em uma só palavra se poderia resumir as necessidades do Chile. Uma só palavra, mas que demanda investimentos superiores aos US$190 bilhões ao longo da próxima década.
O presidente da Câmara Chilena da Construção (CChC), Jorge Mas, em interessante entrevista que concedeu à Construção Latino-Americana, foi enfático ao dizer que seu país precisa ter visão de longo prazo para resolver seus déficits de construção e fazer um projeto de país.
O compromisso não é simples, já que nos últimos anos o Chile investiu em sua infraestrutura menos de 2,5% do PIB, e os números não mentem. “Apenas para evitar que o déficit siga aumentando, precisamos investir 3,5%, e se quisermos diminuí-lo realmente, precisamos investir 5,5% do PIB”, advertiu o representante.
A CChC realizou um estudo detalhado das necessidades do setor: o Chile precisa investir, entre 2014 e 2023, US$112,5 bilhões em infraestrutura urbana, interurbana, ferrovias, hospitais, penitenciárias, portos, aeroportos, eletricidade e recursos hídricos.
Não é de estranhar que as áreas de rodovias e transporte urbano sejam os setores que mais demandarão recursos no futuro, pois isso reflete o aumento na renda da população, que consigo trouxe um crescimento sustentado da compra de automóveis. A infraestrutura urbana e interurbana precisa de investimentos de mais de US$56 bilhões nos próximos dez anos, ou 51,7% do total.
Um exemplo destas necessidades mencionadas no documento Infraestrutura Crítica para o Desenvolvimento 2014-2018 é que a capital Santiago ostenta um déficit de 34 quilômetros em sua rede de metrô, mesmo se considerando a atual construção das linhas 3 e 6.
Um terceiro item em termos de necessidade é a área de energia, que demandaria investimentos de US$24,3 bilhões entre 2014 e 2023, abarcando 21,6% do total. Segundo a CChC, o consumo de eletricidade em 2023 poderia alcançar – numa análise conservadora – 102 TWh, ou 66,9% acima do consumo registrado em 2012. Para poder suprir esta demanda é necessário aumentar a capacidade de geração instalada em 7.370 MW.
Dentre tudo o que se necessita no Chile nos próximos dez anos, Jorge Mas destaca a especial importância do setor portuário, que deveria receber investimentos de US$5,3 bilhões. Isso porque, deste valor, 65% deveriam estar destinados à zona central do país, basicamente para um megaporto planejado para Valparaíso ou San Antonio. “O megaporto é um investimento que o país precisa fazer. Com a ampliação do Canal do Panamá, e com a infraestrutura atual, não poderíamos receber os navios Post Panamax, e se nós não fizermos os investimentos, outros farão, e o Chile pode se tornar um país de cabotagem, de navios menores, com grande perda de competitividade”, diz.
A moradia é outro ponto à parte. Segundo explica o representante, “para resolver o déficit habitacional de hoje, e ainda atualizar as moradias atuais que estão abaixo do padrão, o investimento deve ser de US$79 bilhões”. Embora o Chile tenha avançado muito nessa matéria, ainda se devem construir mais de 560 mil moradias para os setores mais vulneráveis da população, e melhorar o padrão de outras 327 mil.
No Chile, o setor de moradia representa cerca de 30% do investimento em construção.
Financiamento
O investimento público aumentou 27,5% este ano em relação a 2014, com o que se mitigou a perda de dinamismo da economia, e o desemprego se manteve relativamente controlado. Em todo caso, as autoridades já anteciparam que o crescimento do orçamento público no ano que vem será bastante pequeno.
“Por sua vez, o investimento privado tem ao menos oito trimestres consecutivos em queda ou mostrando níveis de crescimento muito baixos, o que é especialmente preocupante, já que em nosso país o setor privado é responsável por 90% do emprego e 80% do total de investimentos da economia”, afirma Jorge Mas.
Assim, a construção cresceu apenas 0,9% em 2014, e para este ano a CChC calcula um crescimento próximo a 0%, o que se resume em dois anos seguidos com níveis de atividade muito abaixo do potencial, que historicamente está em torno de 5%. “O comportamento da construção reflete o fraco momento da economia nacional em seu conjunto”, diz ele.
A indústria da construção chilena representa 64% do total de tudo o que se investe no país, por isso que se o investimento se contrai, a construção se ressente, tal como agora acontece. Para reverter essa tendência, Jorge Mas afirma que “o principal para a nossa indústria é que o país volte a ter altas taxas de crescimento econômico, e para isso é fundamental que se reinstale na sociedade um clima de confiança, que favoreça a materialização dos projetos de investimento”.
Além disso, para financiar as necessidades do país, são necessárias mais e melhores parcerias público-privadas (PPPs).
O pico dos investimentos através de concessões no Chile foi alcançado durante o governo de Ricardo Lagos (2000-2006), período em que se desenvolveram projetos de mais de US$1 bilhão anuais sob esta modalidade, chegando ao máximo de quase US$1,8 bilhão em 2004. Não obstante, o sistema caiu de maneira abrupta no governo seguinte, para logo em seguida retomar um ritmo em torno aos US$600 milhões anuais. “O nível de investimento para este ano se calcula em torno de US$700 milhões, mas isso ainda é longe do que realmente precisamos”, avalia o presidente da Câmara Chilena da Construção.
Para fortalecer a institucionalidade público-privada, o Ministério de Obras Públicas (MOP) do país está levando adiante dois projetos importantes: o primeiro é a criação da Direção Geral de Concessões, órgão que terá maiores recursos e capacidades ampliadas de gestão, organização e supervisão que permitam manter um ritmo forte de concessões de qualidade. Uma segunda iniciativa é a criação do Fundo de Infraestrutura, que considerará o valor de todas as obras que estão licitadas no país. De acordo com cálculos do Conselho de Políticas de Infraestrutura, o Chile teria um valor patrimonial em obras por volta de US$25 bilhões. “Neste fundo, estarão todos os ativos das atuais concessões, que têm seus fluxos, o que nos permitirá acessar garantias e assim gerar um círculo virtuoso para futuras iniciativas”, diz Jorge Mas.
A importância dos investimentos reside não apenas em eliminar o déficit chileno, e sim na competitividade agregada por ele. Segundo o ranking de competitividade 2014-2015 elaborado pelo Fórum Econômico Mundial, o Chile está na posição número 33 no que se refere à competitividade geral. Ao se calcular apenas a competitividade da infraestrutura, o país cai para a posição 49. “Perdemos seis posições em oito anos, exclusivamente por não investir”, diz o executivo.
Peso da mineração
Um indicador importante a ter em mente para medir o pulso da economia chilena é que durante o segundo trimestre de 2015 submeteram-se a tramitação no sistema de avaliação de impactos ambientais um total de US$15,3 bilhões em vários projetos, contra US$29,1 bilhões em projetos ingressados ao sistema no mesmo período de 2013.
Já entre abril e junho deste ano, o investimento aprovado foi de US$9,9 bilhões, valor que se concentra principalmente nas iniciativas do setor energético, com 70% do total. Em segundo lugar fica a mineração, com 16% do total, o que mostra bem o fim do super ciclo desta indústria.
É interessante perceber a relação entre a atual situação da construção chilena e o fim do ciclo da mineração, setor que encomenda grande parte do investimento da construção, em média 42,1% dele entre 2008 e 2014, com pico de 57,1% em 2012. A exemplo disso, a participação da mineração no investimento de infraestrutura produtiva só alcançará 30% ao longo deste ano.
Confiança empresarial
As expectativas dos empresários da construção chilena são pessimistas. Segundo o Indicador Mensal da Confiança Empresarial (IMCE), elaborado pela instituição Icare e a Universidade Adolfo Ibañez, que congrega entre outros dados o Índice de Confiança da Construção (ICOT), a confiança ficou em 27,5 pontos em agosto, muito abaixo da média histórica de 50,1 pontos.
Segundo o documento, a demanda atual aparece pessimista com 24,6 pontos (3,9 pontos a menos que no mês anterior). O nível de atividade se apresenta a um nível pessimista de 29,6 pontos (2,9 pontos menos que o mês anterior), e a situação atual do negócio de construção é pessimista com 41,5 pontos, contra os 42,9 pontos registrados em julho.
Em termos de expectativas, aumentaram os indicadores de custo de produção e pressões salariais, enquanto o emprego setorial a futuro está em queda.
Mas a Câmara Chilena da Construção e seu presidente, Jorge Mas, têm uma visão clara de para onde deve-se apontar os esforços em 2016.
O primeiro ponto a se recuperar, de acordo com o representante do setor, é a confiança empresarial.
O segundo se refere à execução dos projetos de concessão. E isso vale tanto para a atual carteira do plano de concessões do Ministério de Obras Públicas quanto para todas as demais obras necessárias para acabar com o déficit de infraestrutura do país.
Outra ênfase mencionada por Jorge Mas é o fim do déficit habitacional, o que segundo ele “é um dever cidadão e um dever de governo”.
Implementar uma política adequada de planejamento territorial é também uma tarefa fundamental.
Outro ponto essencial é melhorar a produtividade para que os projetos sejam atrativos.
Uma última ênfase é na questão trabalhista. Não apenas com a intenção de melhorar as condições daqueles que hoje têm trabalho, mas também na capacidade de oferecer novas oportunidades àqueles que não têm, com especial destaque para a empregabilidade de mulheres. Vale destacar que o setor de construção representa cerca de 8,7% do emprego nacional chileno.
BOLETIM
CONECTAR-SE COM A EQUIPE

