O Grande Canal da Nicarágua

05 November 2015

Kwok Wai Pang, vice-presidente ejecutivo de HKND

Kwok Wai Pang, vice-presidente ejecutivo de HKND

A Construção Latino-Americana (CLA) apresenta a seus leitores uma entrevista exclusiva com o vice-presidente executivo da KHND Group, a concessionária responsável pelo projeto do Grande Canal da Nicarágua.

Esta empresa de Hong Kong é quem promete levar adiante este mega-projeto que quer se tornar a principal passagem para os maiores navios de contêineres e de granel do mundo. A iniciativa estaria em operação num prazo de cinco anos, após a execução de uma impressionante logística de construção pesada e um orçamento gigantesco.

Com o projeto bombardeado por questionamentos acerca de sua viabilidade, a CLA conversou com o alto executivo Kwok Wai Pang para saber em primeira mão o alcance de um empreendimento que almeja mudar drasticamente o transporte marítimo internacional e dar uma nova cara à Nicarágua.

Poderia começar apresentando a HKND?

A HKND Group é uma empresa internacional de desenvolvimento de infraestrutura baseada em Hong Kong e com escritórios em Manágua, Nicarágua. Em associação com o governo da Nicarágua, a HKND Group está comprometida com o Grande Canal da Nicarágua e Projeto de Desenvolvimento, uma mega-infraestrutura com potencial de transformar o comércio global, e fazer da Nicarágua um polo importante para o transporte e a logística.

Wang Jin, chairman e CEO da empresa, é o líder da HKND, e um eminente empreendedor e homem de negócios com mais de 20 anos de experiência em casos bem-sucedidos de gestão e investimentos. Ele fundou e investiu em negócios de infraestrutura, mineração, aviação e telecomunicações. Hoje em dia, Wang Jin controla e serve como chairman em mais de 20 empresas, que operam negócios em 35 países ao redor do mundo.

Além da HKND, há outras empresas envolvidas. Quem são e qual sua responsabilidade?

A HKND selecionou os melhores em suas áreas de atuação para as etapas iniciais dos estudos, tal como se fará para as fases de projeto executivo e da construção pesada. Neste sentido, por exemplo, realizamos uma gestão especial para levar a cabo os estudos de impacto ambiental e social, que foram submetidos à aprovação do governo em 30 de maio e agora estão sob revisão da Comissão Especial do Canal Interoceânico da Nicarágua.

Para complementar os estudos, contratamos a CSA Global, da Austrália, que está realizando uma supervisão aérea que cobrirá os 276 quilômetros do corredor do canal, e uma circunferência de dois quilômetros de diâmetro sobre o Lago Nicarágua. Isto começou em setembro e se terminará no início de março de 2016.

Além disso, a HKND confiou à China Railway Construction Corporation (CCRC) os estudos técnicos de viabilidade, à McKinsey & Company, de Washington DC, a análise de dados provenientes dos estudos, e à equipe jurídica internacional Kirkland, de Chicago, as consultorias legais.

Ao mesmo tempo, a HKND convidou a empresa XCMG, a SBE da Bélgica e a MEC Mining da Austrália para ajudar no projeto.

Outras empresas vão se associar em áreas específicas do projeto?

Sim, já conversamos com um amplo leque de grandes empresas que se especializam em aspectos pontuais de construção e outras que fabricam maquinário especializado e equipamentos; elas terão a oportunidade de participar nas várias fases da construção do Canal e seus sub-projetos. Também conversamos com empresas envolvidas na expansão do Canal do Panamá e do Canal de Suez, que têm experiência de primeira mão neste tipo de trabalho.

O projeto vai optar preferencialmente por maquinário e pessoal chinês?

Este é um projeto puramente comercial. A HKND é uma empresa totalmente privada sem influências políticas. O Grande Canal da Nicarágua é um mega-projeto que demandará o esforço, apoio e participação de profissionais nicaraguenses e de todo o mundo. Temos uma política muito clara de não fazer discriminações, e um mega-projeto como este necessita profissionais com os conhecimentos científicos, técnicos e especializados sem considerar sua nacionalidade.

O orçamento é realmente de US$ 50 bilhões?

A queda no preço do petróleo beneficiou o projeto. Como o consumo de combustível será um dos maiores custos, o valor total vai ficar menor. Nossos especialistas em Hong Kong estão fazendo cálculos relevantes para determinar os valores exatos, e publicaremos o resultado quando o tivermos.

De onde virá o capital?

Os fundos requeridos para a construção do canal provirão de financiamento global. Serão considerados vários esquemas potencialmente aplicáveis, inclusive fundos privados, emissão de dívida e IPO. A HKND fará os anúncios sobre isso no devido tempo.

A construção começou em dezembro passado. Como está agora?

Os trabalhos que começaram em dezembro foram recuperações em vias locais que criarão as condições para a construção das novas eclusas e o novo porto no lado Pacífico. A escavação e outros serviços maiores devem começar na segunda metade de 2016. Enquanto isso, a HKND terminará os projetos básicos, resolverá os assentamentos e se preparará para a enorme logística necessária durante a construção.

É possível terminar este canal em só cinco anos?

Até que conheçamos com exatidão a rota final, o prazo é apenas estimado. Mas fizemos cálculos e de fato com as modernas inovações em maquinário e equipamentos podemos avançar mais rápido do que nunca. A expansão do Canal de Suez levou apenas um ano.

Seu competidor, o Canal do Panamá, entrou em uma guerra jurídica com o consórcio por sobrepreços. Como a HKND quer evitar isso?

Em primeiro lugar, não vemos o Canal do Panamá como nosso competidor, e não somos os únicos. Há poucos dias, o presidente do Conselho Nacional da Empresa Privada do Panamá (Conep), Julio de la Lastra, disse publicamente que não vê o Canal da Nicarágua como concorrência porque eles capturam diferentes faixas de carga, de maneira que se complementam. Muitas outras pessoas compartilham essa visão, e no fina, os centro-americanos são os que mais se beneficiam dos dois canais interoceânicos.

A respeito de batalhas legais com empreiteiras, a transparência e as melhores práticas internacionais são nossos melhores aliados, e isso é uma política firme que estamos implementando em cada uma das etapas do projeto.

Que tipo de maquinário será exigido na construção?

Para a escavação a seco, aplicaremos tecnologia australiana de mineração a céu aberto, trabalhando com caminhões de 200 e 400 toneladas e escavadeiras de grande porte que podem extrair 50 toneladas de material por vez.

Na parte do Lago Nicarágua, usaremos navios de dragagem por sucção para retirar o lodo e material úmido hidraulicamente. Para materiais duros e rochas no fundo do lado utilizaremos dragados de corte e sucção que podem escavar materiais de maior dureza.

Qual o papel do governo da Nicarágua?

O governo e o Estado da Nicarágua são as principais contrapartes e sócios em fazer com que o Canal seja realidade. O governo foi fundamental em aprovar e promover a lei especial de concessão, a criação da Comissão da Autoridade do Canal, a revisão e aprovação dos estudos ambientais, e como autoridades, eles têm que garantir que o projeto obedeça a lei em todos os aspectos, inclusive nos reassentamentos.

Que vantagens o Canal da Nicarágua vai ter sobre o do Panamá?

Novamente, não vemos o Canal do Panamá como concorrente, o vemos como complementar ao nosso canal. As duas maiores diferenças serão que nós seremos capazes de servir navios de contêineres de até 25 mil TEU (unidade correspondente a um contêiner comum de 20 pés), enquanto o Canal do Panamá expandido servirá navios de até 13 mil TEU. Nós poderemos atender navios graneleiros de até 400 mil toneladas, e eles com a expansão atenderão navios de até 199 mil toneladas. Então, é importante reiterar que o tráfego marítimo necessita o Canal do Panamá, o Canal de Suez e o Canal da Nicarágua para reduzir o custo de navegação e o preço das mercadorias, pelo que os beneficiados serão os consumidores do mundo.

Em quanto tempo se espera o retorno do investimento?

Quando o Canal da Nicarágua estiver completo, será capaz de dar passagem a navios de até 25 mil TEU, portanto poderá satisfazer melhor a crescente demanda do comércio marítimo global. Além disso, o Canal da Nicarágua proverá uma rota marítima mais curta (especialmente para o comércio marítimo entre Ásia e Estados Unidos).

O Canal por si só já poderia tornar o projeto rentável, mas além disso, as margens dos projetos associados, como os portos, a zona de livre comércio e o aeroporto podem fazê-lo ainda mais rentável.

Com o Canal Interoceânico, faremos da Nicarágua um investment hub (polo de investimentos), com dois portos de águas profundas com a última tecnologia para atender simultaneamente navios de até 25 mil TEU, uma zona de livre comércio que provavelmente será a maior das Américas, centros turísticos e recreativos, um aeroporto classe 4A e outras indústrias que serão necessárias para prover ao Canal e seus sub-projetos.

Há chance de que o Canal da Nicarágua se estabeleça como empresa de capital aberto?

A HKND Group considera absolutamente todas as potenciais opções de financiamento, e assim para diferentes partes do estudo já contratou de diversas fontes, inclusive financiamento por fundos e emissão de dívida. A HKND Group não descarta a possibilidade de abrir capital no futuro. Os anúncios sobre isso serão feitos no devido momento.

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