O cerco ao aço chinês: a América Latina na encruzilhada industrial

Há menos de um mês a Compañía Latinoamericana informou como o setor siderúrgico brasileiro estava enfrentando um impacto significativo devido ao aumento das importações de aço da China e como a Gerdau, principal produtora brasileira deste material, já iniciou uma onda de demissões de sua Pindamonhangaba fábrica , no interior de São Paulo.

(Foto: AdobeStock / Phonlamaiphoto)

Na ocasião, a empresa emitiu um comunicado destacando a importância da implementação de uma tarifa emergencial de 25% sobre as importações de aço, com o objetivo de garantir a sustentabilidade das operações do setor siderúrgico nacional e preservar os empregos na área.

Na semana passada foi anunciado que a concorrência do aço chinês estava a fazer mais uma vítima na indústria latino-americana. A siderúrgica Huachipato, uma das principais empresas do setor no Chile, anunciou a suspensão por tempo indeterminado de suas operações. A medida drástica surge após uma série de negociações e pedidos de ajuda por parte da empresa, que tem sido sufocada pela concorrência do aço chinês.

A situação atingiu um ponto crítico quando a Comissão Chilena Antidistorção recomendou ao Governo a aplicação de sobretaxas tarifárias sobre os produtos siderúrgicos chineses. Porém, essas recomendações foram consideradas “insuficientes” pela Huachipato que, assim como a Gerdau, havia solicitado salvaguardas de até 25%, porém a recomendação da comissão foi de apenas 15%. A empresa, que atravessa uma crise profunda, esperava medidas mais contundentes para neutralizar o dumping praticado pela China no mercado siderúrgico.

De 2009 até à data, as perdas da Huachipato ultrapassaram mil milhões de dólares, reflectindo a magnitude do desafio que a empresa enfrenta e a importância de encontrar soluções rápidas e eficazes.

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A histórica siderúrgica Biobío, com mais de 70 anos em Talcahuano e mais de 20 mil empregos diretos e indiretos na região, é uma peça fundamental do tecido industrial chileno. No entanto, o seu futuro está ameaçado pela concorrência desleal e pela falta de medidas eficazes por parte das autoridades.

Ascensão meteórica

A ascensão meteórica da China como principal produtor mundial de aço abalou os alicerces da indústria global. Em apenas duas décadas, o gigante asiático passou de representar 15% da produção mundial em 2000 para deter uma quota esmagadora de 54% em 2023. Entretanto, a América Latina mal conseguiu um modesto aumento de 4% na sua produção durante o mesmo período.

Em apenas duas décadas, a China passou de representar 15% da produção mundial em 2000 para deter uma quota esmagadora de 54% em 2023. (Foto: AdobeStock / littlewolf1989)

Qual é a causa deste aumento do aço? Em grande medida, deve-se às políticas económicas e comerciais agressivas adoptadas pelo governo chinês. Ao subsidiar generosamente as suas empresas, a China conseguiu reduzir drasticamente os custos de produção, permitindo-lhe inundar os mercados internacionais com aço a preços que desafiam toda a concorrência. Esta estratégia, no entanto, não deixa de ter consequências devastadoras para as indústrias locais.

Na América Latina, o impacto é fortemente sentido. Embora a China tenha exportado modestas 80.500 toneladas de aço para a região em 2000, hoje esse número disparou para quase 10 milhões de toneladas anuais. Esta inundação de produtos chineses causou uma crise na indústria siderúrgica latino-americana, forçando muitas empresas a suspender as operações, enfrentar demissões em massa e até fechar fábricas inteiras.

A prática comercial de dumping, onde a China vende os seus produtos a preços mais baixos nos mercados internacionais, tem sido uma das principais armas do seu arsenal. Apesar das queixas e da pressão crescente, a China continua a desafiar as regras do jogo económico global, ameaçando assim a estabilidade de milhões de empregos na América Latina.

Neste contexto de emergência industrial, é necessário que os governos locais intervenham com urgência e eficácia. A imposição de tarifas mais elevadas, em linha com as medidas tomadas por grandes mercados como os Estados Unidos e a Europa, poderia ser um primeiro passo crucial para proteger as indústrias locais.

Além disso, é essencial trabalhar em conjunto para melhorar a competitividade da indústria latino-americana e exigir padrões de qualidade e ambientais para as importações de aço chinesas. Só através de uma acção concertada e determinada poderemos enfrentar esta ameaça que põe em risco o tecido industrial de toda uma região.

Em última análise, combater o cerco siderúrgico chinês não é apenas uma questão de economia, mas também de justiça social e de desenvolvimento sustentável. Para o bem de milhões de trabalhadores e consumidores em toda a América Latina, é hora de tomar medidas ousadas e decisivas para garantir um futuro industrial próspero e equitativo.

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