Mills: O projeto ideal
14 June 2022
Luciana Guimarães viajou para São Paulo para conversar com Eduardo Lema, COO da Mills sobre a decolagem que a empresa experimentou nos últimos anos, com investimentos significativos e recentes, tanto em novos equipamentos (a empresa anunciou a compra de plataformas elétricas e híbridas da Genie prometendo se diferenciar do mercado), quanto em empresas do setor.
A Mills vem numa escalada de ascensão já impressionante com a compra de empresas como Solaris, SK Rental, Nest, Tecpar e Altoplat. Como estão funcionando essas fusões?
As aquisições fazem parte da nossa estratégia de forte crescimento, tanto orgânico quanto inorgânico. Tem sido um processo com grandes desafios, principalmente no caso da Solaris, porque as duas maiores empresas do segmento, até então concorrentes diretas, se fusionaram para criar uma empresa que mantivesse o melhor de cada uma, oferecendo melhores produtos e serviços para os clientes e com uma maior capacidade de crescimento futuro.
Foi um processo muito bem-sucedido, principalmente se destacarmos a integração cultural, a captura de sinergias e o crescimento obtido. Esse aprendizado foi fundamental para que consigamos fazer as seguintes aquisições em pouco tempo, atingindo os objetivos estratégicos previstos.
O mercado está ainda em um processo de recuperação de preço, por isso estudamos de perto a oferta e demanda de cada região para direcionarmos desta forma os nossos investimentos. Já temos bastante prática e bons resultados, e é muito comum em nosso segmento complementar o crescimento orgânico da frota com aquisições de companhias.
A Mills hoje conta com caixa líquido (mais caixa do que dívida no balanço), o que representa uma capacidade de investimento muito relevante e grandes oportunidades de crescimento. Nosso plano estratégico contempla continuar com aquisições no nosso segmento, assim como a entrada em novas linhas de produto.
Nossos objetivos são “Encantar” (melhorando a experiência dos nossos clientes), “Crescer” (obtendo ganhos de escala e aumentando a capacidade de alocação de capital de forma estratégica) e “Transformar” (criando um impacto positivo para a sociedade, com foco na sustentabilidade).
A temida e inelutável crise, ao que parece, não afetou a companhia, certo?
A pandemia de Covid nos afetou menos que a outros segmentos devido a que atendemos atividades que foram consideradas essenciais e tivemos que nos reinventar para continuar proporcionando soluções aos nossos clientes.
Já no ano 2021 e início de 2022, a Mills conseguiu manter um forte crescimento, alcançando uma receita líquida da divisão Rental de R$ 202 milhões no 1T22, apresentando crescimento de 54% na comparação com o mesmo período de 2021. Esse resultado foi impulsionado pelas maiores receitas de locação, que alcançaram o montante de R$ 189 milhões entre os meses de janeiro e março. Nosso lucro operacional teve um aumento expressivo de 137% na comparação anual.
Fomos capazes de melhorar a liquidez durante a pandemia, conseguindo gerar caixa operacional, o que contribuiu com a nossa capacidade de investimento e crescimento.
Como estão os pedidos de novos equipamentos, se considerarmos o aumento de preços nas locações? Ainda há o desequilíbrio entre oferta e demanda?
O desequilíbrio vem desde 2014, e chegamos a ter uma oferta de mais de 5000 máquinas maior do que a demanda da época. Em outros países, isso se resolve mais rapidamente reduzindo frota através da exportação, por exemplo como aconteceu na Espanha. No Brasil, por causa dos custos logísticos e os impostos para incorporar máquinas na frota, se formos vender fora do pais, o valor é bastante inferior ao ideal, então não é uma solução conveniente para corrigir desequilíbrios temporários de oferta e demanda. Vivenciamos esse desequilíbrio por vários anos, e em 2020 / 2021 a demanda chegou perto do que era antes da crise da Lava Jato.
Ou seja, a oferta e a demanda se equilibraram e o mercado voltou a uma taxa de utilização (Time Utilization) saudável, perto de 70%. E por isso nesses últimos anos o ‘rental rate’ vivenciou um processo de recuperação e, mesmo que ainda abaixo dos padrões internacionais da indústria, foram alcançados valores mais próximos dos normais.
Mas, em seguida, observamos o aumento de preço das máquinas a nível mundial, fazendo regredir um pouco esse ‘rental rate’, mas estamos acompanhando de perto para continuar procurando um valor mais próximo do ideal para a sustentabilidade do negócio.
Atualmente, alguns segmentos de máquinas estão sofrendo com um gargalo de produção por falta de componentes a nível internacional e a Mills, graças à nossa parceria de muitos anos com importantes fabricantes, antecipamos esse momento e em setembro do ano passado, compramos as máquinas que precisaríamos receber esse ano. Um timing pensado e adequado e um traçado de longo prazo.
Agora, a empresa fechou negócio com a Genie onde foi efetuada a compra das tesouras elétricas Genie GS E-Drive e plataformas articuladas híbridas FE, tornando a frota da Mills a maior frota híbrida do Brasil. Fale um pouco sobre como foi essa negociação?
A decisão de investir nesse tipo de máquinas se deu em função da nossa estratégia de adequação da frota para atender ao nosso compromisso de “Ecoeficiência operacional”, em linha com o nosso DNA no que tange à nossa preocupação com o impacto social e ambiental da nossa atividade. Buscamos tecnologias que permitam alcançar uma maior sustentabilidade, que reduzam os impactos ambientais e que consigam alcançar a viabilidade econômica.
O intuito é adotar novas tecnologias, e uma migração natural seria substituir máquinas com motor a combustão por máquinas elétricas. No entanto, existem ainda limitações tecnológicas que levaram a Mills a adotar a tecnologia de máquinas híbridas.
Uma das limitações é que para equipamentos de maior porte ainda não tem oferta de máquinas 100% elétricas no mercado. Além disso, no Brasil existem algumas deficiências na cobertura da rede elétrica em algumas regiões ou nas obras, então os clientes podem não ter onde carregar esses equipamentos.
As máquinas híbridas oferecem uma alternativa atraente para essas limitações e a Genie possui uma oferta interessante de máquinas com esta tecnologia, o que nos levou a fazer um investimento relevante em estes equipamentos, nos tornando a maior frota de máquinas híbridas do Brasil. Também investimos em uma nova geração de máquinas elétricas com maior eficiência e menor consumo de energia.
Cabe destacar que todas as iniciativas de sustentabilidade da empresa, tem levado a Mills a se aproximar da certificação com o sistema B (Certified B Corporation), que esperamos alcançar em breve.
Além das mais de 400 tesouras Genie GS E-Drive e 25 plataformas híbridas articuladas Z® FE. Estamos falando de um assunto que está, e não poderia ser diferente, encabeçando a lista de prioridades das empresas que se veem mais impelidas e direcionadas á redução de emissões. No entanto, por conta de todas as complexidades tecnológicas, o valor de aquisição de uma máquina híbrida ainda é mais alto que um exemplar de mesmo porte com motorização tradicional. A tendência é que a legislação e a sociedade se tornem cada vez mais exigentes com relação a emissões atmosféricas?
Sim, observamos uma crescente demanda por uma atitude das empresas que promova um relacionamento sustentável com o meio ambiente e a sociedade. O desenvolvimento sustentável está cada vez mais intimamente relacionado com o progresso das empresas e das indústrias. Tanto globalmente como aqui no Brasil, é uma demanda que vem ganhando muita força e a Mills, que sempre foi pioneira nesta questão desde a sua origem já há 70 anos, quer ser protagonista desta transformação.
É por isso que queremos contribuir na divulgação e conscientização das emissões geradas pelos equipamentos com motor a combustão, incluindo em breve em nosso site uma calculadora de emissões (onde ao alugar um equipamento, se saberá quantas emissões são geradas), assim como no aumento da nossa oferta de equipamentos, como os elétricos e híbridos, que permitem reduzir as emissões.
Queremos ser pioneiros também em oferecer outras alternativas para os nossos clientes que não tenham atualmente como reduzir ou eliminar as emissões, e estamos estudando diversos programas nesse sentido (por exemplo a compensação de emissões).
A diferença de preço das máquinas híbridas não é tão significativa, em média é menor a 10%, mas são equipamentos mais complexos, o que aumenta o custo de manutenção. Mesmo assim, acreditamos que o impacto gerado e a maior versatilidade compensam essa diferença.
Um dos atrativos destas aquisições é que, no modo híbrido, os modelos FE podem trabalhar uma semana inteira em um único tanque de combustível, graças a um sistema de controle inteligente que carrega as baterias enquanto a máquina funciona e elimina o tempo de inatividade associado ao carregamento. Além disso, contam com tecnologia de telemetria Genie Lift Connect, que virá instalada de fábrica. Como isso funciona?
A telemetria já é uma realidade na nossa empresa e acaba sendo uma ferramenta fundamental para oferecer para os clientes maiores serviços que permitam extrair o máximo valor da máquina locada. Permite também que a nossa operação tenha de forma remota os dados para prevenir e corrigir desvios, reduzindo expressivamente os custos de manutenção e estendendo a vida útil dos ativos.
Esses sistemas aplicados à manutenção ampliam o campo de visão sobre as máquinas e permitem realizar análises de eficiência operacional com base em dados reais do funcionamento dos equipamentos durante as 24 horas.
Todos os três elevadores de tesoura (GS-1930, GS-2632 e GS-3246) são fáceis de manobrar em espaços apertados com tração dianteira e um raio de giro zero dentro. Essa pode ser considerada uma tendência para o setor, vislumbrar equipamentos mais funcionais e compactos?
Recentemente, o crescimento vertiginoso do comércio eletrônico, especialmente nesses dois anos de pandemia, impulsou o aumento da quantidade e do tamanho dos centros de distribuição. Isso também estimulou a busca de maior eficiência operacional e maior aproveitamento do espaço físico, impactando nas exigências dos clientes em relação às especificações das máquinas. As frotas de locação precisam se ajustar a essa nova realidade.
Ou seja, são espaços pequenos, que demandam equipamentos com maiores alturas. Aumentou a demanda de equipamentos de 45 e 60 pés, ou seja, de 16 a 20 metros, quando a demanda costumava ir até 12 metros normalmente. Ao mesmo tempo, os clientes exigem uma maior manobrabilidade em espaços reduzidos para aproveitar melhor a área dos centros de distribuição. O desafio tecnológico é atender as duas demandas simultaneamente, maior altura e menores raios de giro. Também optamos por tecnologias mais eficientes de carregamento das máquinas que maximizam o tempo de operação e estendem a vida útil das baterias
Como podemos classificar a evolução do mercado de locação brasileiro?
Está se desenvolvendo muito rápido no Brasil o mercado de locação de ativos, seja de carros, caminhões, linha amarela e todo tipo de equipamento.
No caso das plataformas elevatórias móveis para trabalho em altura (PEMT, que é o nome técnico), é um mercado ainda recente que começou com a própria Mills faz duas décadas. Ainda são utilizados sistemas de trabalho em altura que são menos seguros e menos eficientes, porque as PEMTs são ainda um produto relativamente recente no Brasil. Tomando como referência a quantidade atual de plataformas a cada 100.000 habitantes, é 10 vezes menor que nos mercados mais maduros, o que demostra o grande espaço de crescimento que temos pela frente para os próximos anos.
No que diz respeito a outros produtos, estamos vendo uma forte recuperação da demanda de equipamentos em virtude do crescimento económico e a licitação de obras de infraestrutura.
Estamos observando uma migração de compra para locação (Rent vs Buy), porque as empresas preferem dedicar o investimento ao seu negócio principal para maximizar o retorno do capital investido. Também está acontecendo um processo de consolidação do mercado de locação, causado pela maior necessidade de capital para renovar as frotas porque teve um aumento expressivo do valor dos equipamentos a nível global, a redução da atratividade dos créditos FINAME e o aumento significativo das taxas de juros.
Há como definir um setor que represente maior demanda e com necessidades em aberto nos dias atuais?
São várias verticais de crescimento. Uma é o Agronegócio, que teve um desenvolvimento muito significativo e tem influenciado positivamente à economia brasileira.
Ele chega a representar um terço do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Também é responsável por praticamente metade das exportações que ocorrem, o que, consequentemente, gera mais investimentos, desenvolvimento e oportunidades de emprego.
Outras verticais são a mineração, a construção e a indústria. E há ainda os projetos de leilões e concessões, que representam um volume muito relevante de investimentos privados, onde antes havia maior dependência do Estado. Isso tem contribuído para reduzir a volatilidade própria dos anos de eleição presidencial.
O Governo, através do Minfra, está investido em pacotes de leilões, concessões e de obras espalhadas pelo Brasil em diferentes pastas. Acredita que tais movimentos ajudem o país em uma escalada de desenvolvimento em empino?
Nossa perspectiva é bastante favorável. Vemos a iniciativa privada com maior protagonismo e isso muda um pouco os paradigmas.
Estamos muito confiantes com o crescimento do Brasil para os próximos anos e, especialmente, com o forte crescimento da Mills, apoiado na nossa capacidade de crescimento orgânico em todo o território, com quase 50 filiais e impulsado pela maior adoção das plataformas elevatórias; assim como a nossa capacidade de crescimento inorgânico, tanto no nosso segmento quanto em novos produtos.