Lean Construction: um eficiente conceito

By Luciana Guimaraes06 March 2023

Com a otimização de processos que consiste na entrega de um produto final de qualidade cada vez mais em foco, grandes grupos no mundo inteiro correm para se adaptar. Afinal, eliminar desperdícios e buscar um prazo rígido para a execução da obra, torna as empresas competitivas no cenário atual do mercado.

Bernardo Etges, Engenheiro Civil formado pela UFRGS e Co-fundador da Climb Consulting fala sobre a mudança de mentalidade vigente.

1- Explique um pouco como surgiu esse conceito e como ele se fortaleceu na contemporaneidade

O Lean Construction surgiu do entendimento de que a construção também pode ser compreendida como um sistema de produção onde existem etapas de conversão que seriam a “transformação ou construção” em si, e existem etapas de fluxo, que contemplam todas as atividades que permitem a conversão, que são os transportes, movimentações, rotinas de comunicação, etc. A eficiência de prazo e custo vem justamente da melhoria dessas conversões e dos fluxos.

Anteriormente, a visão era muito focada na eficiência das conversões, sem se analisar o todo. Porém, o que vemos é que as atividades de fluxo ou de apoio são a maior parte do tempo das atividades da construção.

Dessa forma, a construção pode ser vista e compreendida como um sistema de produção, onde não há uma esteira, ou linha física de produção, mas existe uma sequência ideal de etapas de conversão e de fluxo de produção, no qual a construção enxuta, passa a fazer total sentido.

Entendo que atualmente as empresas estão cada vez mais capazes de compreender que são ineficientes e que existe espaço para a melhoria. Em outra perspectiva, o mercado está cada vez mais maduro e competitivo que exige uma entrega de valor mais assertiva no prazo, na qualidade e, pela própria sobrevivência da empresa, no custo.

2- Como eliminar lacunas na comunicação e conectar cada vez mais as áreas?

Bernardo Etges, Engenheiro Civil formado pela UFRGS e Co-fundador da Climb Consulting.

O Lean tem sempre como foco a entrega de valor para o cliente. Em primeiro momento, vale ressaltar que aqui, falamos no cliente final, porém, como estamos analisando o processo produtivo como um sistema de conversões e fluxos, cada etapa, ou subprocesso, passa a ser um cliente interno da etapa anterior. Essa visão nos traz o conceito de entrega de valor para toda a organização.

No momento que se entende as necessidades, ou os requisitos que o meu cliente interno deseja, adaptamos nosso processo e nossa atividade para essa entrega. E assim, abre-se uma grande oportunidade de melhoria.

3- Pode-se afirmar que pensamento Lean começa a ser utilizado fora do ambiente de fábrica e dos canteiros de obras?

Com certeza. Cada vez mais se fala do Lean Office e do Lean as a Service, ou do Lean aplicado aos processos indiretos da organização. Como mencionado anteriormente, a clareza dos requisitos e as necessidades dos clientes internos, evidencia uma grande oportunidade de melhoria interna.

Vocês já se perguntaram ou perguntaram pra sua equipe se quantos relatórios são feitos para ninguém ler? Ou quantas rodadas de aprovação em sistema passa um pedido de compras? Não é eliminar o controle ou o relatório, mas sim fazê-lo de forma inteligente para atender às necessidades

4- Fazer pesquisas de mercado antes ajuda nesse objetivo?

Com certeza. Todo conhecimento prévio apoia muito. Hoje vejo que as empresas que nos procuram, já tem um maior nível de entendimento do Lean. Cada vez mais há conteúdos disponíveis, sejam cursos, webinars, publicações. Nos últimos 10 anos, o número de publicações sobre o lean cresceu 130%.

Além disso, o mercado está cada vez mais aberto à troca. Um dos princípios do Lean Contruction é justamente o benchmarking. Cada vez mais as empresas do setor buscam conhecer experiências prévias e visitar obras que já tiveram experiência com Lean. Vejo como uma forma muito saudável de conexão e visão de uma rede de trabalho em colaboração entre as empresas

5 - A eliminação de algumas das atividades de fluxo trará melhores resultados?

Sem dúvidas! Ao trazer melhorias no fluxo e eliminação de desperdícios, haverá melhorias de resultado para aquela operação ou processo, porém, não necessariamente uma melhoria em uma operação irá garantir a entrega no prazo e custo de todo o empreendimento. É necessário compreender o todo e trabalhar na melhoria de cada parte de forma contínua. Muitas vezes, o problema não está no desempenho de uma operação ou processo e sim na conexão desta com todo o empreendimento.

O Lean Construction, também conhecido como construção enxuta, veio para mudar a forma como o mercado enxerga e realiza o processo construtivo. Foto: Climb Consulting

Por exemplo: posso trazer grandes avanços operacionais no canteiro de obra e obter uma melhor performance operacional, com obra concluída no prazo, porém não tratei o processo legal da forma adequada e o habite-se atrasou 7 meses. Para visão do cliente final e do dono do negócio (investidor) o empreendimento não foi bem, certo?

6 - Fale um pouco sobre o que prega o modelo JIT (ou Just in Time).

Normalmente, se associa o Just in time (JIT) com o “estoque zero”. Na verdade, o JIT é muito mais amplo. O JIT é o pilar do Sistema Toyota de Produção que aborda os fluxos físicos. Este pilar, envolve três elementos fundamentais: (i) Sistema puxado; (ii) Tempo Takt e (iii) Fluxo contínuo.

Para nosso setor, puxar a produção é produzir conforme uma previsão de demanda futura e é o que acontece: no ramo da incorporação, os financiamentos só se viabilizam entre um equilíbrio de venda e execução física; no ramo energético, as novas unidades produtivas já tem uma “venda” de energia garantida. Quanto ao fluxo contínuo, é uma extrapolação da visão da fábrica, afinal, na construção não temos uma esteira contínua, mas é imaginarmos que em cada lote de produção, as nossas frentes de serviço irão transitar sem folgas, ou sem vazios.

É como se em cada apartamento, a cada intervalo de tempo sucessivo, entre uma nova frente de serviço, sem folgas, até a entrega das chaves. Ou seja, o fluxo de atividades é contínuo, no lote de produção.

E quanto ao tempo takt, vejo como a grande virada de chave do Lean na Construção civil. Trata-se de entender que a partir da demanda do cliente e do prazo de entrega, tenho diversas fatias iguais de tempo para as quais defino um volume de trabalho (dias/apartamento, dias/km, horas/1000m3 por exemplo) que passam a ser minha premissa de controle diária. E quanto ao estoque, nenhuma fábrica produz sem estoque, mas o que o Lean tem como prerrogativa é que os estoques sejam dimensionados e organizados para atender ao tempo takt, sem excessos.

7 - Há como prever as taxas de imprevistos e incertezas que são recorrentes?

O sistema Last Planner busca, no seu último nível, no curto prazo, o efeito de aprendizado. O que isso quer dizer? – A partir de rotinas diárias de comunicação com as frentes operacionais compreender as principais causas do desvio de ritmo e traçar medidas de recuperar ou manter a atividade em produção. Assim, acontecendo diariamente, cria um efeito de aprendizado para que contramedidas de controle sejam tomadas de forma preventiva ao processo construtivo

8 - Lean Construction demanda muita disciplina e organização de toda a equipe. Nesse caso é preciso um treinamento para alinhar pensamentos?

Qualquer nova metodologia ou conceito de gestão envolve uma mudança do comportamento das pessoas envolvidas. Qualquer mudança não é fácil, mas também não precisa ser um trauma organizacional. Para o sucesso da implementação de um novo processo, ferramenta ou filosofia, treinar e capacitar a sua equipe é um passo importante, pois a medida que há um nivelamento, mesmo que básico, do que está por trás da implementação para o time envolvido há maior predisposição a motivação e a engajar adeptos ao processo.

O Lean, ao ser inserido nos canteiros de obra, vai implementar alguns rituais semanais e diários que exigem a participação, colaboração e comprometimento multidisciplinar da equipe. O que vemos hoje é que nunca nos comunicamos tanto de forma errada. São muitas mensagens, áudios, e-mails, sem nenhum deles concluir a sua necessidade. Os rituais propostos pelo Lean vão trazer todos para a mesma sala para que em alguns minutos possam se traçar ações e um plano de trabalho. Precisamos de alinhamento, entendimento dos benefícios e disciplina.

9 - Além de tudo, trata-se de uma iniciativa mais sustentável e ecológica, conceito está mais forte e vertiginoso, certo?

Considerando a pauta ESG atual, vejo o Lean Construction como grande aliado. Sempre que falamos em eliminar desperdícios (e aqui o grande desperdício que se busca eliminar é o tempo), há uma conotação sustentável. Inclusive, é muito grande o número de publicações que relacionam a pauta lean e a sustentabilidade.

A medida que más empresas de construcción comienzan a ver los beneficios y los datos telemáticos se vuelven más fácilmente disponibles, los expertos en tecnología dicen que su uso en la construcción se está generalizando. Metodologia Lean Construction ajuda a visualizar não só as atividades de conversão, mas também as de fluxo, tais como, transportes, esperas e movimentos. (Foto: Foto: Adbostock / Blue Planet Studio)

Além disso, a disciplina e os rituais de comunicação colaborativos implementados pelo Lean permitem uma maior interação com todas as demais pautas, como qualidade, segurança do trabalho e meio ambiente. Inclusive, muitas implementações recentes acabam fazendo uso das rotinas diárias e semanais para tratar dos indicadores e destes três temas. O que vemos é que tanto a segurança, quanto a qualidade e o meio ambiente têm melhorias de desempenho em seus indicadores em obras com o Lean implementado.

10 - Como você encara o futuro do setor no Brasil? E no mundo?

A construção civil no Brasil e no mundo é um setor crescente. Há déficits de habitação, energia e infraestrutura claros. Todos os investimentos nestes três pilares passam pela construção civil. Porém, o setor passa por desafios importantes quanto a três aspectos: (i) produtividade, pois é um setor muito improdutivo, (ii) nível de tecnologia ainda muito baixo e (iii) pegada de carbono, pois a cadeia da construção civil cria um grande impacto de carbono (consumo de água, produção de cimento e aço como grandes fatores de impacto).

Estes três desafios convergem para a questão da industrialização, modularização e construção offsite. Vejo que grande parte da pesquisa atual e do investimento das empresas do setor passa pela pergunta de “O que posso industrializar no meu negócio? E como posso fazer isso?”.

E para este novo paradigma produtivo, o lean construction é, com certeza, um grande aliado.

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