Idas e vindas
06 November 2014
A desaceleração verificada na economia da região durante os últimos meses é uma situação, na visão de muitos atores, preocupante. A indústria da construção, como qualquer outra, está alerta com o que acontece com os mercados das principais potências mundiais, mas além de observar a situação internacional, está consciente de que na América Latina há fatores que geram incertezas, como eleições presidenciais e mudanças de governos.
No entanto, um cenário aparentemente pouco promissor pode ser visto como oportunidade de desenvolvimento. Em tempos assim, a indústria requer, mais do que nunca, aumento de produtividade e mais eficiência nos tempos de trabalho e mão de obra. E é nesses fatores que se concentra hoje a atenção das empresas de escoramento e formas, sistema que progressivamente ganha força na região.
Um exemplo nítido de crescimento é o da italiana Pilosio. A empresa cresceu 30% nos últimos três anos, graças, entre outros fatores, ao forte processo de internacionalização que está promovendo. Na região, a companhia atua no Chile, Colômbia, Peru, Panamá e México. Além disso, tem intenções de penetrar no mercado brasileiro. A esse respeito Dario Roustayan, CEO da marca, assinalou à Construção Latino-Americana que “estamos investindo e em 2015 devemos anunciar uma notícia importante para nosso desenvolvimento de negócio”.
Por outro lado, a brasileira Metax, que no momento atua só no mercado local, espera crescer em 2015 entre 5% e 8% em seu segmento de locação. Segundo Vanderlei Bertaglia, diretor da companhia, essa expectativa de crescimento não será homogênea em todos os segmentos do mercado, e estará “fortemente influenciada por obras de infraestrutura, já que como a inflação se manterá, vamos continuar com uma política governamental de juros elevados, gerando dúvidas quanto à demanda por unidades habitacionais, atualmente dependentes do crédito imobiliário”.
Maria Alice Moreira, diretora da unidade de edificações da Mills Estruturas, tem expectativas moderadas para o ano que vem. “Acredito que seremos conservadores pela situação do país e também porque estamos em um processo de melhoria da gestão e da qualidade”. A isso, temos que agregar que o Brasil, devido às suas dimensões, é um mercado heterogêneo, no qual cada estado, além de ter as suas próprias particularidades, se comporta de maneira diferente. Ainda estamos em pleno processo de fechamento do ano. No entanto, acho que muito provavelmente no Brasil alguns lugares vão manter seus índices de crescimento, em outros, essa cifra vai diminuir, e em outros vai crescer. A expectativa geral, nós ainda não temos”, afirma.
O que devemos esperar para 2015 tem relação direta com o que aconteceu durante os últimos anos. No Brasil, houve uma contínua desaceleração no setor da construção civil, e espera-se que 2014 termine com o pior resultado dos últimos 14 anos. Isso acontece devido a múltiplos fatores. O desempenho fraco da economia, término de empreendimentos da Copa do Mundo e dificuldade para aumentar os investimentos em infraestrutura. Em contrapartida, a quantidade menor de projetos está abrindo uma forte concorrência no ramo de formas e escoramentos.
Em 2013, a construção civil teve uma participação de 5,4% no PIB brasileiro. O melhor resultado dos últimos anos aconteceu em 2010, quando o PIB do setor avançou 11,6%, influenciado, em especial, pelo boom imobiliário. De lá para cá, o crescimento das atividades do setor foi um pouco mais modesto.
A Mills, contudo, mantém uma visão otimista ainda que moderada. “O déficit habitacional no Brasil não tem se reduzido, apesar de que muitas casas foram feitas, como o programa Minha casa, Minha Vida. O projeto significou mais de um milhão de unidades por ano, no entanto, ainda faltam oito milhões. É a histórica carência do Brasil. Por outro lado, o acesso ao crédito ainda é relativamente fácil, é a insegurança das famílias o que muitas vezes gera os problemas”, diz Maria Alice Moreira.
Panorama regional
O panorama latino-americano no mercado de escoramento e formas também é heterogêneo. Na opinião de Helcio Moraes, gerente da filial do Rio de Janeiro da companhia alemã Peri, o Chile e o Brasil estão na frente. “Os mercados mais desenvolvidos são o do Chile, através de uma forte influência das empresas internacionais em virtude da facilidade de importação dos materiais, e o Brasil pela experiência de um mercado que foi obrigado a evoluir através das empresas nacionais”.
Daniel Goldring, diretor comercial regional da brasileira SH, também vê o Chile e o Brasil como os mercados mais desenvolvidos da região, juntos do Panamá. Essa parece ser uma opinião consensual. “O Chile está em um processo muito mais evoluído que os demais países da região, com padrões similares aos da Europa devido a sua grande história de abertura comercial”.
Outros países com boas referências, segundo Vanderlei Bertaglia, da Metax, são Colômbia e Panamá.
A Pilosio tem um ponto de vista diferente. Segundo a marca, a diferença entre os países latino-americanos é enorme. A companhia decidiu nos últimos anos investir nos mercados que, para ela, são os mais promissores. Um exemplo é o México, que graças a suas reservas de petróleo e gás, representa uma oportunidade para as empresas que oferecem formas para a construção de infraestruturas.
O que acontece com outros mercados menos mencionados como a Venezuela e a Argentina é um caso aparte. Para Roustayan “seriam mercados estratégicos, mas temos que considerar a forte instabilidade política e econômica desses países”.
Ao comparar a América Latina com mercados mais desenvolvidos como Europa e Estados Unidos, especialmente considerando a sua situação atual, Goldring, da SH Formas, reconhece que na região a indústria “está aquecida, embora com demanda menor que a observada nos últimos anos”.
A ideia de que o mercado latino-americano ainda engatinha em comparação com os mais desenvolvidos é rebatida por Bertaglia, da Metax. O executivo afirma que mesmo havendo uma quantidade menor de projetos e uma má execução de muitos deles, “as empresas brasileiras já possuem opções técnicas que não deixam nada a desejar em relação às empresas estrangeiras, falta apenas o desenvolvimento de uma norma técnica brasileira mais completa que assegure mais confiabilidade aos projetos, com o mesmo nível das normas europeias”.
Além das normas, existe outro fator importante que nos separa das regiões mais desenvolvidas nessas matérias. São os custos de transporte e importação, que criam barreiras para trazer tecnologia avançada por parte das empresas locais. “A introdução dessa nova tecnologia é um desafio para as empresas nacionais e, em particular, para a Peri”, explica Moraes. A empresa está presente em mais de 70 países, e na América do Sul atua no Chile, Argentina, Brasil e Colômbia.
Automatização
O mercado de escoramento e formas não está alheio à introdução de novas tecnologias. A tendência aponta, cada vez mais, a sistemas leves, resistentes e de fácil montagem. Novamente, tudo que está relacionado com o aumento da produtividade através da redução do tempo de execução das obras e a diminuição do uso de mão de obra é bem recebido pelas construtoras.
“A nossa mão de obra é aparentemente barata. No entanto, é muito improdutiva, em geral é um trabalhador pouco capacitado que causa muitos erros e requer de muita fiscalização”, explica Alice Moreira, da Mills. Daí surge a necessidade de substituir custos excessivos com processos mais automatizados que requeiram a menor quantidade de mão de obra possível.
Em busca disso, a empresa oferece, por exemplo, o sistema de mesas voadoras. Ele é especialmente utilizado para trabalhos em altura, aumenta a velocidade de execução e requer muito pouca mão de obra, o que o tem tornado cada vez mais popular. “Nesse sistema, quem faz o trabalho é o caminhão guindaste. Você leva todo o sistema de formas e escoramento em um grande pano de laje montado, não tendo que montar e desmontar, o que vem ao encontro da produtividade”, argumenta Moreira.
A SH Brasil destaca um de seus últimos lançamentos, a linha Multiform, geralmente utilizada em obras de infraestrutura de grande porte. Trata-se de mesas deslizantes que permitem executar laje com rapidez e sem necessidade de mão de obra especializada.
Nessa mesma linha, a Metax oferece painéis manuais EFCO, sistema de formas fabricadas em aço que não precisam de suportes de madeira e podem ser utilizadas muitas vezes sem perder suas características. Também tem a vantagem de poder ser montado por um único trabalhador.
Projetos
A Pilosio está participando no projeto Etilenio XXI, que prevê a construção de uma usina petroquímica no México com uma capacidade nominal de mais de um milhão de toneladas. Esse projeto representa o maior investimento da indústria petroquímica mexicana nos últimos 20 anos.
Helcio Moraes, da Peri, afirma que um dos grandes desafios para a marca nesse momento é a construção do Museu do Amanhã, no Rio de janeiro o do Museu da Imagem e do Som, em São Paulo.
A Mills trabalha em uma grande quantidade de projetos ao longo de todo o Brasil. Um dos mais importantes é executado em parceria com a construtora OAS. Trata-se de um grande complexo de edifícios em Porto Alegre.
Por último, a Metax destaca a obra da filial comercial da empresa de alimentos JBS Friboi. Ali, foi utilizado o sistema de escoramento convencional durante a primeira etapa, e o multidirecional Speed na fase final.