Guatemala trabalha em Corredor Interoceânico

07 February 2014

CLA14/1FeatureGuatemala

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Desenvolver uma infraestrutura de transporte que aponte ao crescimento do comércio mundial e que satisfaça a tendência de navios de tamanho cada vez maior são alguns dos objetivos do mega-projeto do Corredor Interoceânico da Guatemala, iniciativa que vai demandar investimentos de cerca de US$ 8 bilhões e cuja construção começaria em meados desse ano.

O projeto é ambicioso e vem competir diretamente com alternativas como o Canal do Panamá e a rota terrestre que une ambas as costas dos Estados Unidos. Vale lembrar que 66% do comércio dos EUA e 26% do comércio mundial têm lugar na costa Leste, razão pela qual as perspectivas de mercado são absolutamente amplas.

A importância da iniciativa é tal, que em meados do ano passado o governo da Guatemala tornou pública a Declaração do Acordo de Governança 270-2013, documento que declara o Corredor Interoceânico como de utilidade pública e interesse nacional, e mais concretamente, sua gestão, promoção, construção e operação. Em particular, o Artigo Terceiro expressa a proteção do Estado mediante a emissão de leis, regulamentos e outras disposições que garantam a segurança jurídica do projeto.

Entre os principais componentes do Corredor Interoceânico estão a construção de novos portos (um em cada costa) que permitirão a atracação de navios de até 22 mil Teus de capacidade (embarcações cuja construção já foi anunciada pelo estaleiro STX Offshore & Shipbuilding). Adjacentes a cada um dos portos, serão localizadas plataformas de desenvolvimento econômico de cerca de 1,7 mil hectares, para o desenvolvimento de parques industriais, agroindustriais, logísticos e tecnológicos, que atuarão em regime de zona franca.

Também haverá uma conexão ferroviária de mão dupla com extensão de 372 quilômetros, que unirá a costa do Atlântico com a do Pacífico. Esse Corredor permitirá a passagem de contêineres, automóveis, cargas de commodities sólidas e líquidas, e se considera também a possibilidade de criar linhas de trens de passageiros, com estações ao longo do percurso.

Outra parte essencial é o Corredor de Energia, uma estrutura associada que contará com quatro sistemas independentes de bombeamento de petróleo cru e de derivados de petróleo e gás.

Por fim, também se destinarão zonas de multiatividade, com reservas de espaço para passagem de rede elétrica, água e fibra ótica.

Projeto

Guillermo Catalán, presidente da Odepal (Escritório de Relações e Negócios para América Latina, por sua sigla em espanhol), gestora do projeto, comenta que o custo total do Corredor está em cerca de US$ 8 bilhões. “Quando contratarmos os projetos executivos saberemos com exatidão o montante total dos investimentos”, afirma. Ferrovias e portos vão demandar cerca de US$ 3,5 bilhões. Espera-se investir cifra igual no oleoduto que conectará os litorais, e o US$ 1 bilhão restante será de investimento em superestruturas.

De acordo com o executivo, a construção do corredor dinamizará a economia guatemalteca, já que gerará mais de 30 mil empregos diretos. Isso sem contar o enorme cluster com diferentes setores industriais que se desenvolverá ao longo de seu percurso pelo país.

No Oceano Pacífico ficará localizado o porto de San Luis, e no Atlântico, o de San Jorge. Cada um deles terá capacidade total de 7,6 milhões de Teus por ano, e contará com dragagem de 17,5 metros, o que lhes permitirá receber navios do tipo Super Post Panamax. “Os portos estão dimensionados para receber navios Triplo E class da Maersk e os futuros navios de 22 mil Teus”, detalha Catalán.

Entre os equipamentos que se deverão ser instalados em cada porto estão 15 guindastes STS (ship to shore) de 64 Teus por hora de capacidade, além de 45 guindastes RTG (Rubber Tyred Gantry), e três reach staker.

Por sua vez, o sistema de transporte ferroviário contará com duas locomotivas, na frente e atrás, que poderão deslocar-se a uma velocidade máxima de 120 km/h, embora se calcule que a velocidade média será de entre 60 e 70 km/h. Estima-se que o tempo de carga do trem (carregando ao redor de 100 Teus) deva ser de 35 minutos. Nesse caso, o percurso de porto a porto seria de seis horas.

Considerando o tempo de descarga de 15 mil Teus no Pacífico, que levaria cerca de 32 horas, o transporte até a outra costa, que tomaria cerca de 69 horas, e mais a carga no Atlântico, a travessia levaria, em total, ao redor de 5,6 dias.

Basicamente, como já se viu, o Corredor guatemalteco se converteria numa alternativa complementar tanto ao Canal do Panamá (que mesmo com sua ampliação só poderá receber navios de até 12 mil Teus), como à ponte terrestre dos Estados Unidos.

O mercado potencial está crescendo enormemente e, segundo Catalán, nesse ano poderia alcançar os 6,8 milhões de Teus. Em dez anos, cresceria 60,2%, chegando aos 10,9 milhões de Teus em 2024; e então passaria a 15,5 milhões de Teus em 2034. Finalmente, em 2044, chegaria aos 20 milhões de Teus.

Construção

Atualmente, Guillermo Catalán está muito ativo na busca de empresas que desejem investir no projeto. Segundo explica, o modelo de negócios do Corredor está estruturado sob contratos BOT (Build, Operate and Transfer), no qual o consórcio ganhador aluga por um tempo específico uma área da zona franca onde no âmbito privado ele tem a liberdade de uso das operações acordadas.

Os contratos BOT terão um prazo de 50 anos, que são prorrogáveis, com a intenção de dar lugar a uma amortização plena dos investimentos realizados pelos concessionários sem castigar os faturamentos por operação.

Os construtores se responsabilizarão pelos investimentos de infraestrutura específicos dentro de cada contrato BOT, sendo estes oleodutos, gasodutos, ferrovias, telecomunicações, dois portos e uma autopista.

Desafio social

Um dos principais desafios trazidos pelo Corredor Interoceânico tem a ver com o aspecto social. De acordo com Guillermo Catalán, o projeto envolve 58 municípios (agrupados em dez regiões), razão pela qual foi primordial incorporá-las todas em seu desenvolvimento. Na realidade, as regiões são sócias do Corredor Interoceânico através do chamado Corredor Tecnológico, que conta com 12% de propriedade sobre o projeto.

Ao tornar as comunidades sócias do Corredor Interoceânico, elas receberão uma renda constante derivada dos lucros da atividade que ele promover, o que será investido no desenvolvimento de infraestrutura, saúde, educação, segurança alimentar e produção agrícola, entre outras necessidades.

Além disso, “as mais de 3,5 mil famílias proprietárias das terras pelas quais passará o Corredor Interoceânico da Guatemala poderão gozar de uma injeção em suas economias, não apenas pelo preço que receberão pela terra, mas também serão parte de uma sociedade anônima que será proprietária de 5% das ações do Corredor Interoceânico”, explica o executivo. Efetivamente, os proprietários receberão 75% do valor de suas terras em dinheiro (o processo de compra de terras demandará desembolsos totais de cerca de US$500 milhões), enquanto que os 25% restantes serão através de ações do projeto.

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