Exportar é o caminho
26 January 2016
O Brasil é o principal mercado da América Latina, e quando ele não vai bem, isso se reflete nos demais países. Isso foi especialmente notório durante o ano passado, quando o real começou a perder valor ante o dólar, o que pode ter favorecido as exportações brasileiras, mas trouxe consigo grandes dificuldades para as importações.
O gigantesco fluxo de importações chinesas que vinha acontecendo nos últimos anos e o “custo Brasil” (impostos altos, juros altos, infraestrutura insuficiente e burocracia) são fatores que agora, em tempos de crise, mostram como prejudicaram a indústria nacional, pois não permitiram o crescimento de alguns segmentos, como o setor de insumos para a construção, por exemplo. O resultado consolidado de 2015, divulgado após essa entrevista, ilustra bem o que aconteceu: queda de 12,6%.
O setor de insumos brasileiro nos últimos anos apresentou algum crescimento somente graças a políticas sociais, e para conhecer um pouco das expectativas do mercado para o próximo ano, a CLA conversou com Walter Cover, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat).
Qual é a situação econômica do setor?
O faturamento real das indústrias de materiais de construção em 2015, se comparado com o de 2014, caiu 11,5%. Todos os segmentos do mercado se viram negativamente afetados. As vendas no varejo, responsáveis por 50% do total, se viram prejudicadas pelo aumento do desemprego, queda na renda das famílias e consequentemente menor acesso ao crédito. Esperamos que em 2016 esse segmento apresente uma nova queda de cerca de 8%. O mercado das construtoras, que representa os 50% restantes, cairia ainda mais, cerca de 14%.
E qual será o impacto disso no âmbito da América Latina?
A América Latina é um grande comprador de materiais de construção, o que se deve à grande necessidade de crescimento que ainda existe na região. A indústria brasileira vem conquistando novos clientes nos países do Mercosul, o que deveria diminuir o efeito da crise no setor, que por sua vez tenderia a reduzir em 2016.
No que se refere à situação das grandes empreiteiras, ainda não está bem definido, pois muitas estão envolvidas nas investigações da operação Lava Jato. Nesse caso seu efeito é somente no âmbito nacional.
A exportação seria um caminho para a recuperação?
O câmbio evoluiu um pouco e com isso as exportações podem ganhar um fôlego. O efeito não é imediato, pois ainda é necessário abrir novos mercados. As exportações brasileiras de materiais de construção já foram maiores no passado, mas com o forte incremento da construção local, as empresas se voltaram para o mercado interno, pois a demanda e os preços eram favoráveis. Por isso acredito que em 2016 deveríamos estar mais ativos em exportações, com a crise elas deveriam ser incrementadas e ajudadas por um câmbio baixo e por políticas internas de facilitação de comércio internacional.
Outro fator é que o mercado latino é muito disputado por membros de outros acordos internacional, precisamos de maior competitividade.
E quais são as expectativas para o setor em 2016?
As expectativas são de que teremos uma inflação menor, uma pequena melhora na renda familiar, menores importações em função do câmbio desfavorável e uma retomada nos investimentos de infraestrutura e logística. Esses fatores certamente poderiam reaquecer a economia do setor.