Entrevista Genie: Crescimento e estruturação apesar da pandemia
09 August 2021
A Terex Corporation anunciou uma receita de operações contínuas no primeiro trimestre de 2021 de US$ 39,7 milhões, sobre vendas líquidas de US$ 864,2 milhões.
A fabricante global de plataformas de trabalho aéreo e equipamentos de processamento de materiais com produtos desenvolvidos na América do Norte, América do Sul, Europa, Austrália e Ásia, e vendidos no mundo todo, manteve seu lugar de destaque no setor e muito além da pandemia, projeta um 2021 que, mesmo com inúmeras particularidades, será de crescimento e amplificação. Em entrevista concedida em junho, e executivo e presidente da Terex na América Latina, Gustavo Faria, fala de transparência, liderança e posicionamento.
CLA: Gustavo, no ano passado nós já havíamos conversado sobre como a crise mundial estabelecida pela COVID – 19 trouxe uma revolução na forma de se fazer negócios e em como a Terex estava conseguindo driblar tamanhos desafios. De lá pra cá, o que mudou?
Um ponto que mudou foi a expansão do nosso território, e somos hoje responsáveis por toda America Latina. A pandemia, claro, afetou de maneira arrebatadora todos os mercados, mas o setor de Construção, principalmente o de Infraestrutura, vem sofrendo desde 2015, com a “Lava-jato”, por exemplo, que mudou completamente a dinâmica das empreiteiras no Brasil. Um mercado que já estava super reprimido desde então, onde esperava-se que em 2020 houvesse uma melhora e veio a pandemia nos colocar à prova novamente, e falo de todo o segmento. A partir de então, precisamos adequar nossa forma de trabalhar. Dimunuímos a produção, enxugamos as fábricas, mudou-se a cadeia produtiva num geral e tivemos que lidar com o todo que se viu corrompido. Não será do dia pra noite esse restauro, é preciso essa consciência e acho que uma outra mudança que veio para ficar é o trabalho remoto. Claro que nada substitui um relacionamento inter pessoal, mas o contato por exemplo com outras regiões do mundo, criou uma conexão mais rápida, com muito mais asertividade até, e com novos negócios sendo viáveis de maneira mais diligente.
CLA: Em maio, foi noticiado o aumento da confiança no setor de Construção em 2,2 pontos, sendo a primeira alta do ano e isso trouxe um pouco de esperança aos trabalhadores do setor. Como você enxerga isso?
É uma ótima notícia, para toda a contrução no geral porque traz mais emprego, movimenta cadeia de suprimentos, de mão de obra, mas com cautela apesar de já mostrar um caminho de retomada. Esse volume crescente seria mais na construção imobiliária, diferente da nossa. A pandemia obrigou os nossos clientes, que locam nossas máquinas, a buscarem outros nichos, para manutenção industrial, limpeza de fachadas. Criou-se a cultura de utilização dessas máquinas em outros ambientes. Voltando a construção efetivamente, significa, uma nova demanda, e aumento de frota que será necessário.
CLA: As locadoras geralmente, apresentam resultados melhores que o esperado. A Genie sentiu esse impulso?
Sentimos, mesmo que o mercado esfrie e não se venda máquinas, o aluguel permenece porque locadoras estao abastecidas. E assim sobe o preço do equipamento. Um indicador que seguimos é o ‘rental rate’, taxa de utilização física do equipamento, que mostra o tanto que o mercado de maquinas está encadeado. Alguns modelos inclusive comecam a faltar.
CLA: Um dos grandes problemas que os fabricantes enfrentam hoje é a falta de fornecimento de componentes. Como a empresa está lidando com essa situação?
Relamente é um desfafio, não é só aqui, é no mundo. Quando uma região se encontra em desequilíbrio, a gente se organiza, mas todos ao mesmo tempo é um problema. Acontece uma ruptura que tentamos gerenciar de acordo com prioridades. Ficamos atentos ao planejamento de peças e uma conversa mais próxima com as locadoras para tentar entender o que elas estão precisando, uma vez que a demanda por peças cresceu vertiginosamente, o que acaba ajudando nesse cenário.
CLA: Vem chamando a atenção últimamente a queda do dólar, que viabiliza alguns pontos e dificulta outros. Como vocês estão encarando isso?
Positivamente. Tudo que comercializamos é importado, e a moeda é dolar. O Brasil tem dimensões e volumes para fazer todos os negócios em sua própria moeda, diferente do Chile e Argentina, por exemplo, onde as maquinas são importadas e alugadas em dolar. As locadoras compram em dólar e alugam em reais e com uma disparidade de câmbio obviamente, afetadas, essas locadoras não compraram equipamentos até então. E quando o dólar comeca a baixar e possiblitar a aquisição de máquinas novas, essa acomodação sim, é vista como benéfica.
CLA: Um dos últimos lançamentos no mercado são as micro-tesouras. Qual a importância desse segmento?
O mercado de plataformas aéreas sempre teve como foco principal as grandes obras e instalações, com equipamentos de 10 metros de altura de trabalho, por exemplo. Até 2015, 2018 a busca foi por esses tipos de equipamentos. Com a adoção do conceito de utilização de plataformas aéreas, veio à tona a necessidade de máquinas que proporcionassem a mesma produtividade em alturas menores e que dessem mais segurança e otimização do trabalho. Primeiro vieram as micro-tesouras, e ganharam mercado rapidamente ainda que aqui no Brasil, essa aceitação esteja num ritmo diferente, essas tesouras vão substituir a escada, e mecanizar esse trabalho. São opções fáceis de operar, com motores eletricos, baixo ruído e custo menor extremamente confiáveis.
CLA: Outras inovações importantes andam de mãos dadas com os equipamentos elétricos. As empresas latino-americanas estão recebendo bem essas inovações?
Sim e não. Sim, porque claro, queremos vanguarda e tecnologia. E não, pelo custo. A América Latina quer receita maior e baixo custo, e isso não exatamente consegue se alinhar à inovação. As maquinas híbridas e elétricas passam a ter espaço maior mudando um pouco essa visão. E algumas empresas começam a buscar essas soluções também, e vão aceitar pagar um pouco mais por essa tecnologia.
CLA: Recentemente foi anunciado que a partir do próximo ano, a fabricação de manipuladores elétricos será tranferida de Oklahoma para o México. O que influenciou essa decisão?
A Genie conta com uma presença expressiva no mercado de manipuladores telescópicos, principalmente na America do Norte e nem tanto em outras regiões do mundo, e decidiu focar nesse produto que possui tanta sinergia com nosso negócio. Estamos investindo nesse desenvolvimento para maior aceitação no mercado mundial e essa mudança é estratégica porque falamos de custo menor, know-how das pessoas envolvidas e busca de adequação do valor de fabricação dessa linha.
CLA: Como se desenvolveu o mercado para as demais marcas da empresa?
Na America Latina, mais até no Brasil, o segmento de guindastes vem um pouco depois das plataformas aéreas. Mas nas plataformas estamos vendo cotações pesadas, identificamos movimentações, ainda que tímidas, mas que estão surgindo. E para os guindastes acreditamos que na sequencia será a mesma coisa. Para as outras linhas não há grandes alterações, como em processamento de materiais e ‘utilities’.
CLA: Como a empresa enxerga hoje o mercado brasileiro e latino-americano, especialmente considerando os riscos políticos e econômicos atuais?
Volatilidade politica na America Latina é o principal desafio, considerando-se capacidade de investimento, educacional, demanda por obras e outros fatores, que nos levam a crer que poderiamos estar hoje em cenarios melhores de investimentos. Fato é que a política pode acelarar ou desacelerar essa injeção de capital externo. Mas temos que navegar nesse mar.
CLA: Como você acredita que a Genie vá encerrar esse ano?
Muito melhor do que imaginávamos. Começamos o ano relativamente bem, a segunda onda da Covid assustou, mas a demanda ficou tão reprimida, que creio não haver como segurar essa retomada econômica iminente e o Brasil está pronto para um crescimento substancial.
CLA: O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, acredita em um Pib com previsão de 4%. Essa informação traz alento no geral?
Os mais otimistas crêem até em mais, e com isso a falta de mão de obra e materiais acontece já na construção civil e residencial. Isso é um problema bom, porque foca-se em crescimento, produtividade, níveis de negociação. O ministro de infra-estrutura (Tarcisio Gomes de Freitas), viabilizou ações interessantes, como deslanchar concessões que trarão investimentos, a indústria se recuperando, o varejo melhorando e isso são sinais sim, de uma boa recuparação. É preciso planejamento agora para não perder negócios mais para frente.
CLA: A Genie possui um cuidado muito grande com diversidade, equidade e inclusão. Um olhar que falta no país no geral, é pertinente e mira em algo que só traz benefícios. Como isso semanifesta na empresa.
É uma prazer falar sobre isso! Não acontece de dia pra noite. É um processo contínuo, tem que querer fazer, ter um time com o mesmo conceito, mesma cultura e atrair os talentos de forma diversa. O programa de inclusão começou anos atrás, e percebemos que na verdade, esse é o único caminho. É expandir, quebrar paradigamas. Um exemplo é que toda contratação tem que ter ao menos uma mulher entrevistada. Claro, o currículo precisa ser relevante e adequado à vaga, mas estamos sempre tentando dar essa voz. Religião, etnia, são fatores que constroem um time abrangente e a beleza de uma visão diferenciada e ampla.