Desafios dos canteiros de obra diante da pandemia
04 August 2020
Esta pandemia é, sem dúvidas, o maior desafio para esta geração de seres humanos. Dito isto, nossos preceitos e instituições são exigidos de uma forma para a qual jamais haviam sido pensados ou preparados, nem nos piores pesadelos.
No contexto da construção, e sua grande participação nos processos econômicos dos países, há um momento de inflexão histórica, a respeito de seus paradigmas de desenvolvimento.
Há até bem pouco tempo, a grande pergunta era como aumentar a produtividade da construção, e repetíamos isso como um mantra. A pergunta que se impõe agora, na minha opinião, é como conseguimos construir com a melhor produtividade possível sem deixar de manter as novas medidas sanitárias para o pessoal de obras e para a cidadania como um todo.
É um desafio nada trivial, já que mesmo com a pressão de concluir as obras, fechar os contratos e obviamente fazer frente aos pagamentos de fornecedores e subcontratados, tudo deve ser feito num contexto de cuidado, distanciamento e sanitização de todas as partes do nosso trabalho.
Embora as obras de construção, devido à natureza e implementação dos protocolos de qualidade e segurança ocupacional, não devessem estar tão distantes de uma mudança de cultura, a verdade é que o cenário de mudança que atualmente verificamos nos coloca uma necessidade de rever valores. As organizações precisarão colocar relevância sobre as equipes, o ser humano, suas relações e sobretudo na confiança mútua.
É peculiar que esta pandemia obrigue o setor a ser mais horizontal e próximo, na relação entre seus diferentes atores, mas é a maneira com que se pode seguir adiante. O cumprimento das medidas e protocolos é um ato de respeito à equipe em sua máxima expressão, mais do que uma obrigação coercitiva a cumprir. É um exemplo de pertencimento, de respeito, de colaboração e responsabilidade compartilhada. A construção precisa de uma nova forma de administrar suas obras, em que a colaboração, o trabalho em equipe e a responsabilidade coletiva sejam os eixos.
Por fim, há boas práticas e protocolos que os participantes do setor já implementaram, como medidas de sanitização, gestão e controle de equipes, tratamento de contágios sintomáticos e assintomáticos. Mas nenhuma delas será a solução por si mesma.
O autor
Carlos Aguirre é diretor da Escola de Construção da Universidade de Las Américas, do Chile.