Crescimento contínuo

07 November 2011

O PIB da América do Sul, de acordo com a IHS Global Insight, crescerá 4,5% em 2011, após uma importante alta de 5,8% em 2010. Harald Böhaker, chefe de marketing da empresa austríaca fabricante de guindastes Palfinger observa uma tendência similar. Para Böhaker, o Brasil deveria alcançar um crescimento próximo a 5% em 2011, enquanto o Chile deveria chegar a 6%, a Argentina a 8% e o Peru a 4%. Segundo o executivo, este nível de crescimento deveria manter-se estável durante os próximos quatro anos.


"Estamos trabalhando com a expectativa que a Palfinger cresça na América do Sul entre 15% e 20% anual no período 2010-2015. Dependendo do país, serão estabelecidas diferentes estratégias, como a expansão de nossa representação por meio de novos distribuidores em territórios onde não estamos presentes, principalmente no norte e nordeste do país", garante.

Definitivamente o Brasil é, de longe, o país que está liderando o mercado da construção na América do Sul, graças a um forte impulso em nova infraestrutura. Scott Hazelton, da empresa de análise e projeções IHS Global Insight, explica que a preparação para a Copa do Mundo 2014 e as Olimpíadas 2016, junto com seu crescente setor petroleiro, prevê um gasto em infraestrutura por US$140,5 bilhões para 2020.

O executivo também acrescenta que mesmo depois que a emoção pelos jogos tenha passado, o mercado brasileiro se manterá saudável, com um gasto em construção crescendo cerca de 7% por ano, impulsionado pelo setor energético, indústria do petróleo e gás, que captará 62% dos investimentos nos próximos três anos.

Vendas crescentes

De acordo com Wolfgang Beringer, chefe de promoção de vendas do fabricante de guindastes móveis Liebherr-Werk Ehingen, as vendas da empresa no Brasil tem aumentado cerca de 60% e o país é agora o melhor mercado de exportação. Entre as vendas, estão incluídos guindastes móveis sobre rodas como a LTM 11200-9.1, com uma capacidade de 1.200 toneladas, como também grandes guindastes sobre esteiras. "Mas as melhores vendas no Brasil são aqueles equipamentos de 90, 220 e 500 toneladas de capacidade", conta.

Mas essa taxa de crescimento excepcional é ofuscada por alguns atrasos em projetos de infraestrutura, de acordo com a explicação de Rene Porta, gerente de guindastes da companhia chinesa Sany no Brasil. Segundo o executivo, a empresa vendeu no país cerca de 20 guindastes de esteiras que variam entre 750 e mil toneladas de capacidade, mas esses ainda não entraram em funcionamento e estão nos pátios dos clientes. "A maioria das iniciativas de infraestrutura foram prejudicada, mas alguns dos grandes projetos de infraestrutura ainda não começaram. Eles deveriam ter começado no segundo período de 2011, mas agora estamos escutando que serão adiados até o começo de 2012", acrescenta.

Enquanto os equipamentos de alta capacidade esperam sua vez, Porta comenta que os guindastes mais utilizados são os modelos de 300 toneladas de capacidade, operando em projetos de construção. Os guindastes Rough Terrain (RT) também tem várias aplicações e são os que estão registrando a maior taxa de crescimento.
"Este crescimento é o resultado do tipo de trabalho, definido pelos grandes projetos que estão sendo executados, como estádios e refinarias. Os equipamentos RT são uma ferramenta muito conveniente para esse tipo de iniciativas", afirma Bruce Buchan, vice-presidente sênior de vendas e marketing para a América Latina da Manitowoc. O executivo acrescenta que "o principal responsável deste boom de vendas dos RT são as aplicações relacionadas com energia, como também pela produção das commodities, cujo preço está muito forte".

Porta, da Sany, está de acordo com esta observação do sucesso dos RT. "No Brasil tivemos um crescimento de 18% a 20% nos últimos 12 meses. Os RT de 55 toneladas são mais utilizados. Este tipo de guindastes não foram muito utilizados nos últimos dez anos; mas agora estão se transformando em algo cada vez mais comum devido aos projetos de longo prazo que estamos tendo", acrescenta.

O mercado dos caminhões guindaste também é muito forte, segundo Buchan da Manitowoc. "Sentimos que há muita concorrência, mas é realmente um mercado para "todo terreno" crescente, muitos clientes estão preferindo os All Terrain (AT) e estão expandindo suas frotas com equipamentos de 4,5 e 6 eixos", afirma.

Aprofundando um pouco neste sentido, Porta acrescenta que "os ATs são muito populares, mas temos maior demanda por caminhões guindaste". A capacidade desses equipamentos está aumentando; antes tínhamos caminhões guindastes de até 70 toneladas de capacidade, mas agora chegam até as 100 e 130 toneladas, servindo a projetos nos quais poderiam ser usados os guindastes AT, que continuam sendo muito populares, principalmente os de mais de 220 toneladas de capacidade".
Lupercio Neto, presidente da empresa brasileira de locação Irga, acrescenta que o Brasil está se transformando em um mercado para fabricantes chineses de baixa capacidade de até 70 toneladas. Esta situação, no entanto, não afeta as tarifas de locação, que estão estáveis, ao mesmo nível de 2010 em todos os tipos de guindastes.

Aumentando a carga

Com relação aos guindastes articulados, para Böhaker da Palfinger, os produtos mais comuns são aqueles modelos de médio porte, como as PK 12500, PK15500, PK 23000 e MD 43607. "A tendência para os próximos anos é de equipamentos maiores, como a PK 32502 e a PK 100002", acrescenta.
Para os guindastes torre, as perspectivas também são positivas, "apesar de que não as consideraria como gigantes" comenta Buchan da Manitowoc. "Nosso modelo mais comum é a Potain MCI85; é um guindaste pequeno, mas é o "cavalo de batalha" dominante nas frotas de locação. Alguns de nossos mais antigos distribuidores estão repondo e substituindo suas frotas e isso é muito importante para nós", afirma.

Da mesma forma, o uso desses guindastes de menor tamanho também é positivo para Liebherr, empresa alemã que, em abril, durante a feira SMOPyC na Espanha, apresentou o guindaste de cidade 85 EC-B 5 FR.tronic flat top. Montado na fábrica de Pamplona, na Espanha, este equipamento de cinco toneladas de capacidade está feito para os mercados sul-americanos e asiáticos, onde o espaço urbano é estreito. "Um problema comum quando o trabalho é em uma cidade pequena ou no centro da cidade é o espaço extremamente reduzido. Uma vantagem decisiva é que as dimensões de todos os componentes da nova 85 EC-B 5 FR.tronic são compactos", afirma Hans-Martin French, diretor de marketing da Liebherr-Werk Biberach.

Novas instalações

Este crescimento substancial tem incentivado os fabricantes a começar sua própria produção na região, particularmente no Brasil, país eleito pela Manitowoc para instalar sua primeira fábrica latino-americana.

A fábrica, de 12.000 m² estará localizada em Passo Fundo, ao sul do Rio Grande do Sul. Inicialmente, sua produção estará centrada em guindastes hidráulicos móveis, os quais sairão da linha de produção aproximadamente 15 meses depois de começar a construção da fábrica.

Por sua vez, no começo do ano, a Sany abriu um centro de montagem de guindastes no Brasil, onde produz, com componentes importados desde seu país de origem, 200 caminhões guindastes por ano, com capacidades de 25, 55 e 75 toneladas. Também monta escavadeiras.

A mesma companhia também adquiriu 550 mil m² de terreno e construirá uma nova fábrica para a produção dos principais componentes. "Estamos preparando o terreno e a infraestrutura. Esperamos começar a produção em 2013", explica Porta. "Vamos produzir guindastes AT, caminhões guindaste e provavelmente RT, de até 220 toneladas. Também estaremos focados em bombas de concreto, niveladoras, escavadeiras e rolos compactadores, para oferecer toda a linha de produtos", afirma.

Por sua vez, a japonesa Tadano está em processo de estudo de um joint venture de vendas e serviços no Brasil. Está em processo de estabelecimento com um distribuidor da companhia e começará como um centro de treinamento e pós-venda. A ideia é fornecer estruturas gigantes para serem montadas em chassis produzidos no mercado local. "Existem muitos pedidos de todo tipo de guindastes no Brasil e mercados próximos. Alguns clientes procuram unidades completas, enquanto outros perguntam por guindastes que possam ser montadas em caminhões convencionais", comenta Shinichi Limura, diretor executivo de operações internacionais. "Tentaremos expandir as vendas de guindastes RT e AT no Japão e na Alemanha", acrescenta. A instalação será aberta este ano.

Já a Liebherr tem um novo centro para a produção de guindastes torre no Brasil, enquanto sua fábrica em Ehingen, na Alemanha, dobrou as equipes de venda e serviços em quase todos os países da América do Sul e inaugurou um escritório de serviços no Chile.

Desafios

Enquanto a Manitowoc não tem planos de novos modelos desenhados para o mercado sul-americano, adaptou suas máquinas às condições locais. "Até agora vimos que os clientes desta região aceitam, mais ou menos, as mesmas especificações da Europa e da América do Norte. Mas estamos vendo motores para maior altitude. Como os motores nos guindastes AT e RT se tornam mais pesados pelo processo do Tier IV, fazer os equipamentos funcionarem em altura é um desafio. Ainda podemos utilizar o Tier III na América Latina, mas assim que tenhamos o combustível para o Tier IV, a Manitowoc mudará estes motores", garante Buchan.

Apesar de que o Brasil é o mercado mais forte da América do Sul, há um crescimento significativo em outras partes do continente. "A Argentina e o Chile estão se desenvolvendo muito bem. No Chile a principal área é a mineração, com guindastes de 130 toneladas até 250 toneladas. Inclusive no Peru, poderíamos vender alguns guindastes móveis. Vale a pena citar a venda de uma LTM 1500-8.1 de 500 toneladas", comenta Beringer da Liebherr. "Em geral, vemos um bom mercado para guindastes de grande porte e sobre esteiras, mas também vendemos equipamentos menores.

Na Argentina, no ano passado, a maioria dos guindastes era de 30 a 100 toneladas de capacidade de elevação. A Argentina está sendo impulsionada pela indústria petroquímica, a mineração e os projetos de infraestrutura e energia eólica", garante o executivo.
Böhaker, da Palfinger, conta que, "estamos substituindo nossos distribuidores mais frágeis para alcançar uma posição mais forte e melhor no mercado, principalmente no sudeste e centro-oeste do Brasil, Argentina e Peru. Estamos procurando distribuidores com conhecimentos em venda e pós-venda".

Da mesma forma que cresce a economia e a necessidade por trabalhadores, a capacitação é um tema recorrente para todos os fabricantes e empresas. "Se focarmos no risco geral do mercado, eu diria que é o capital humano", disse Buchan. "Encontrar trabalhadores qualificados para nossos clientes, sejam eles operadores, técnicos, elétricos ou soldadores, está se tornando muito difícil em algumas partes da região. Conversei com alguns grandes clientes, especialmente do Chile e do Peru e tiveram que expandir seu recrutamento como nunca tinham feito antes. Alguns clientes estão recrutando pessoal na península ibérica para encontrar mão de obra qualificada", acrescenta o executivo da Manitowoc.

"É um mercado de trabalho muito dinâmico. Instaladores, operadores e engenheiros estão se movendo de um lado para outro rapidamente. Trabalhamos de perto com empresas como a brasileira Macro para ajudar com o treinamento. Como consequência, eles tiveram que administrar o negócio e, da mesma maneira que precisam terminar os trabalhos, devem treinar pessoal ao mesmo tempo", explica o executivo.
Cifras
Apesar desses aspectos um pouco negativos, as projeções para outros países latino-americanos, além do Brasil, também são boas.
O setor da construção argentino, de acordo com a empresa de análise IHS Global Insight, teve um valor de US$14,4 bilhões em 2010, o que mostra que os recursos investidos em construção poderiam crescer a taxas de 3,8% durante 2011 e 2012, liderado pelos investimentos em construção não residencial.
Apesar disso, a construção no Chile cresce por diversas razões, entre elas, os projetos de reconstrução logo do devastador terremoto de 2010, os quais poderiam impulsionar neste ano um crescimento no setor de 10,8%, segundo a Câmara Chilena da Construção.
Da mesma forma, o Peru também projeta um forte crescimento na indústria da construção, que espera uma alta de 12% para o presente exercício, de acordo com a AEM (Association of Equipment Manufacturers, por suas siglas em inglês), principalmente graças aos setores residencial e comercial.

Apesar disso, existem alguns riscos de curto e médio prazo na região, principalmente associados à economia mundial, como também aos problemas do sul da Europa, devido à estreita relação entre a América Latina e a Espanha, e a possibilidade de uma desaceleração na China. Sem dúvida, uma recaída na recessão mundial poderia acarretar uma queda dos preços e da demanda de exportações da América Latina. Os grandes perdedores neste contexto seriam Venezuela, Equador e, em menor escala, Colômbia, segundo Hazelton da IHS Global Insight.

Outra preocupação é a relacionada com os direitos trabalhistas e impostos de importação, especialmente no Brasil, sustenta Beringer da Liebherr. "O financiamento é também outro grande tema, mas vemos sinais positivos no fato de que as possibilidades de financiamento na América Latina estão crescendo à medida que os investidores estrangeiros estão mais ativos. Estamos confiando que o mercado continuará em alta, graças a uma grande demanda pelo desenvolvimento em infraestrutura, na qual importantes investimentos estão sendo feitos em refinarias, dutos e plataformas de perfuração".

Rene Porta, da Sany, é também otimista. "Nossa empresa vê um grande potencial para os próximos dez anos. Nossas perspectivas são crescer mais de 50% a cada ano. A vantagem das marcas chinesas é que contam com a possibilidade de trabalhar rapidamente na busca de oportunidades e a implantação de melhorias". O executivo acrescenta que "esperamos liderar o mercado e ser a marca número um no Brasil nos próximos cinco anos. Pretendemos vender 800 unidades de todas nossas linhas nesse período".

BOLETIM
Entregue diretamente na sua caixa de entrada, o Informativo Semanal da Construção traz a seleção das últimas notícias, lançamentos de produtos, reportagens e muito mais informações sobre o setor de infraestrutura na América Latina e no mundo.
CONECTAR-SE COM A EQUIPE
Cristian Peters
Cristián Peters Editor Tel: +56 977987493 E-mail: cristiá[email protected]
Simon Kelly Gerente de vendas Tel: 44 (0) 1892 786223 E-mail: [email protected]
CONECTAR-SE COM A MÍDIA SOCIAL