Colômbia no Caminho
20 February 2017
Não há dúvidas de que este ano a Colômbia escreverá uma página fundamental em sua história. O acordo de paz que está sendo feito com as FARC é um fato histórico ao qual ninguém conseguirá ficar indiferente, inclusive porque há milhões de colombianos que se opuseram explicitamente à primeira versão do acordo através de um plebiscito em que, chocando o mundo, votaram “Não”.
Embora esteja claro que o novo contexto impactará algumas áreas econômicas do país, que se verão beneficiadas pelo novo ambiente de paz, o setor de construção e infraestrutura não deverá perceber grandes diferenças. Segundo informe produzido pelo banco Scotiabank, “na Colômbia, a maior parte do futuro investimento em rodovias (o chamado plano 4G) se encontra em áreas abandonadas em lugar de terrenos não urbanizados, não afetados por conflitos”.
Não obstante, o mesmo relatório do banco considera que a perspectiva de longo prazo do gasto em construção é interessante, dadas as prementes necessidades por mais infraestrutura no país. “A magnitude do crescimento da população urbana na Colômbia e a topografia do país deverão fazer do país um mercado com forte potencial para melhorar o consumo histórico de cimento per capita, que ficou em 266 quilos em 2015 e que em 2016 pode ter até mesmo baixado para 230 quilos por habitante”, afirma.
É dessa forma que o setor vai continuar na luta por um papel mais ativo na economia, e contribuir para que se passe dos papéis e projetos aos fatos concretos, porque se há uma crítica que se escuta em diversos em diversos setores é exatamente esta: muito se fala, mas pouco se faz.
Visão setorial
A Câmara Colombiana da Construção (Camacol) e a Câmara Colombiana da Infraestrutura (CCI) fazem um balanço positivo do ano de 2016, e olham para o ano que começa com otimismo.
No terceiro trimestre de 2016, o PIB colombiano apresentou variação anual de 1,2%, crescimento que deixa em evidência a desaceleração vivenciada pelo país. Apesar disso, o setor de edificações cresceu 11% na comparação com o mesmo período do ano anterior, totalizando um crescimento de 8,1% nos primeiros nove meses.
Assim, nos primeiros três trimestres de 2016, o PIB do setor de edificações alcançou um número preliminar de 13,5 trilhões (US$ 4,6 bilhões), chegando assim a representar 3,3% do PIB total.
Segundo a Camacol, este dinamismo se explica por alguns projetos comerciais de grande escala, e o impulso dado pela política habitacional do governo nacional. Sandra Forero, presidente executiva da entidade, afirmou que “diante da atua conjuntura macroeconômica e as necessidades de investimento, moradia e desenvolvimento urbano nas regiões do país, a construção de edificações deve ser um pilar fundamental para levar à frente e preservar o dinamismo econômico”.
Para 2017, a Camacol espera que a atividade de construção cresça cerca de 4,4%, projeção que se baseia em parte na reativação do segmento de moradia de interesse social, e a segunda fase do programa de moradia gratuita do governo. Segundo Forero, a estimativa representa “um desempenho moderado, mas favorável diante de um contexto econômico que vem tendo uma recuperação lenta, em que persistem riscos de desaceleração”.
Por sua vez, a CCI declarou que 2016 foi um bom ano para o setor de infraestrutura. De acordo com os dados preliminares do Departamento Administrativo Nacional de Estatísticas (DANE), o investimento em infraestrutura entre janeiro e setembro de 2016 ficou em 16,7 trilhões de pesos (cerca de US$ 5,7 bilhões).
Desta maneira, o total do setor de construção teria alcançado investimentos de pouco mais de 30 trilhões de pesos (ao redor de US$ 10,2 bilhões), representando assim 7,4% do PIB total no período. Se este índice tiver se mantido no último trimestre do ano, a representação do setor no PIB nacional terá aumentado levemente desde os 7,3% de 2015.
Estes indicadores estão condizentes com um comunicado lançado pela CCI, no qual a entidade afirma que “depois de um ano de desaceleração da economia, o setor de infraestrutura está convocado a ser um dos motores de 2017. Evitar que o nível de atividade desse setor da economia se contraia – este que já demonstrou ser, junto com moradia, o maior impulsionador do crescimento do PIB nacional – é um dos grandes desafios, sem dúvida o mais importante”.
Desafios de 2017
Dentre os grandes desafios que a CCI apresentou para 2017, está o financiamento dos projetos do programa de concessões viárias 4G. Segundo a entidade, “ainda que sete projetos da primeira leva de licitações contem já com desembolsos de parte de entidades financeiras locais e estrangeiras, em 2017 os projetos das segunda e terceira levas do 4G, junto com as iniciativas privadas, deverão completar os trâmites para então garantir a execução dos demais projetos”.
A esse propósito, o vice-presidente da Colômbia, Germán Vargas Lleras, se pronunciou no final do ano passado, e segundo ele a primeira leva de concessões – que compreende 1.628 quilômetros e investimentos de 13 trilhões de pesos colombianos (cerca de US$ 4,1 bilhões) – tem já sete projetos em construção e outros três em fase de pré-construção. Da segunda leva, que compreende 1.827 quilômetros e um investimento similar, tem cinco projetos em pré-construção e quatro em construção.
Por último, Vargas Lleras explicou que da terceira há sete projetos em estruturação, um em pré-construção e outro pendente de aprovação pela agência de controle Confis. Estes nove projetos preveem a construção de 1.913 quilômetros e desembolsos no valor de 13 trilhões de pesos (cerca de US$ 4,4 bilhões).
Continuando no tema rodoviário, a Câmara vem apontando a necessidade de obter recursos para malha vicinal, e atender 140 mil quilômetros de estradas rurais nas próximas duas décadas. Calcula-se que a malha viária rural do país precise de 48 trilhões de pesos (mais de US$ 16,3 bilhões) neste período.
Outro desafio colocado pela CCI é o financiamento da Unidade de Planejamento de Infraestrutura e Transporte (Upit) – criada pela Lei de Infraestrutura número 1682 de 2013, e que ainda é uma dívida do governo. “Em 2017, o governo deverá estruturar a equipe e buscar algum mecanismo para obter recursos de investimento, a fim de que este órgão possa empreender seus serviços de planejamento, que sem dúvida são estratégicas”, afirma a CCI. Dentre as tarefas prioritárias desta dependência do Estado, está a priorização dos projetos contemplados no Plano Mestre Transporte Intermodal.
A coordenação é um tema que não se pode esquecer, e neste aspecto a CCI menciona dois pontos fundamentais. Um se refere a tramitar uma lei estatutária de consultas prévias com as comunidades para o avanço dos projetos. O segundo ponto é manter um bom nível de coordenação e supervisão dos projetos de infraestrutura, seja qual for o departamento do Estado que assuma a responsabilidade.