Cimento global

15 September 2017

O mercado de cimento está experimentando um momento complexo, com preços em alta e uma demanda heterogênea em muitas regiões.

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De longe, o tema ambiental é a mais importante preocupação técnica da indústria cimenteira mundial.

O setor cimenteiro está no coração da construção. Conhecê-lo de perto pode pôr empresas de outros segmentos em posição de vantagem. Pensando nisso, a CLA preparou um pequeno resumo das tendências e números do cimento na América Latina.

Tendências

Sem dúvidas, o tema ambiental é o centro de muitas atenções nesta indústria. Com cerca de 5% das emissões totais de gases de efeito estufa produzidas apenas pelos fornos cimenteiros, isto não chega a ser uma surpresa.

Conscientes da necessidade de mudar os padrões de produção, as empresas cimenteiras adotaram o co-processamento, que significa utilizar resíduos de outros setores econômicos como combustível alternativo para os fornos. Em sua maioria, usam-se pneus usados cortados em pedaços pequenos. Mas também podem ser usados resíduos têxteis, resíduos químicos, madeira velha, biomassa e outros elementos.

Mas para isso é necessário adaptar corretamente a usina para o co-processamento. A falta desta adaptação pode gerar intermitências na temperatura do forno, mistura de material carburante ao clínquer, excessiva recirculação de enxofre e outros inconvenientes químicos.

Neste sentido, destaca-se o recente investimento anunciado pelo maior fabricante de cimento do Brasil, a Votorantim Cimentos, em sua unidade de produção de Cantagalo, no estado do Rio de Janeiro, com a finalidade de aumentar a capacidade de co-processamento da planta.

Com um investimento de R$ 2,5 milhões, a fábrica de Cantagalo poderá assim aumentar em 10% a substituição de combustíveis fósseis por resíduos sólidos e líquidos na produção de cimento. De maneira que a planta passará a absorver 9,7 mil toneladas de resíduos líquidos e 11,6 mil toneladas de resíduos sólidos por ano, reduzindo então a utilização de recursos naturais não renováveis e as emissões de dióxido de carbono.

A Votorantim é pioneira no co-processamento no Brasil, atuando desta forma desde 1991, sempre aumentando a adaptação de seus fornos à combustão de resíduos em lugar do coque de petróleo.

De acordo com a empresa, em 2016 suas unidades de produção em conjunto reduziram a emissão de gases de efeito estufa em 213 mil toneladas.

E embora a prática de usar combustíveis alternativos seja vista como obrigação da indústria, em mercados como a Áustria ela alcançava mais de 70% em 2015, e mais de 60% na Alemanha no mesmo ano. Na América Latina, esta proporção estava ao redor de 20% nos últimos anos.

Outra tendência que se verifica na indústria cimenteira diz respeito aos moinhos, responsáveis por moer o cimento após o processamento, resfriamento e clinquerização.

Em geral, ao aumentar a demanda por cimento, a cimenteira investe em novos moinhos como resposta, despendendo aí capital e tempo. Mas há técnicas de otimização de moinhos que estão se tornando mais comuns e possibilitam um aumento de produção com redução de custos operacionais.

As adaptações num moinho de 100 t/h podem fazer com que o consumo de energia baixe de 4- kW/t para 32 kW/t, dando margem para a produção subir a 120 t/h pelo mesmo custo. Os cálculos da empresa Corcement Group, que oferece esta adaptação, dão conta de que a diminuição destes 8 kW/h reduziria o custo fixo unitário por tonelada, refletindo-se em mais lucros operacionais com igual nível de produção. Se a demanda crescer, o moinho entregaria uma curva de rentabilidade otimizada quando mais produza ao longo do tempo, pagando o investimento inicial em cerca de um ano.

Por outro lado, empresas como a espanhola Anivi apontam tendências na escala de produção, como a demanda por moendas de menor capacidade para atender mercados de nicho, áreas remotas ou projetos de baixo orçamento.

Segundo a empresa, em 2017 a demanda por moinhos de menos de 350 mil toneladas/ano ultrapassou a de moendas maiores pela primeira vez. Com os preços médios internacionais do cimento em aumento desde o final da crise de 2008 (estima-se aumento médio de 4,4% este ano), os mercados onde há menor atividade de construção naturalmente veem seu nível de produção pressionado para baixo.

A Anivi também aposta na demanda crescente por cimentos compostos, que não são o Portland tradicional, e têm produções de menor volume. Com isso, sua oferta é de moendas modulares e compactas, que uma vez instaladas em mercados pequenos entregariam um retorno do investimento em menor prazo.

Números

Os mercados latino-americanos de cimento seguem a tendência que lhes corresponde em seus setores de construção e infraestrutura.

O país de mais destaque do momento é a Argentina, onde em julho deste ano o consumo de cimento subiu impressionantes 19,8%, alcançando 1.016.590 toneladas no mês, ou 1% acima do mês anterior. Registrando os números acumulados dos primeiros sete meses de 2017, a demanda do país aumentou em 10,3%, chegando às 6.498.648 toneladas entre janeiro e julho. A importação de cimento também experimentou um crescimento interanual de quase dez vezes em julho.

A Colômbia também vai bem, respondendo ao avanço lento, mas seguro, dos programas de infraestrutura. Ali, o mercado de cimento viu um aumento de 12,6% interanuais nos despachos de julho, chegando a vender 1.041.000 toneladas. A produção aumentou no mês 18% em relação ao mesmo mês do ano passado, de acordo com o departamento de estatísticas do país, DANE.

Por sua vez, em agosto passado a Indústria Nacional de Cimento (INC), estatal do Paraguai, registrou a comercialização de 1,2 milhão de sacos de cimento, 12% acima do verificado no esmo mês do ano passado. Além disso, a entidade informou que durante os primeiros oito meses de 2017 se venderam já 8,7 milhões de sacos no país.

A INC espera aumentar a produção de cimento em 45% para o final do ano presente, isto graças à implementação de novos equipamentos, como o secador de rocha puzolânica, um novo moinho e a mudança de combustível no forno de clinquerização.

Na República Dominicana, embora a produção tenha chegado às 2.612.099 toneladas métricas entre janeiro e junho deste ano, número 0,5% superior ao alcançado no mesmo período de 2016, o consumo de cimento ficou em 2.089.935 toneladas, 2% a menos do que no mesmo período do ano passado. Segundo a Associação Dominicana de Produtores de Cimento Portland (ADOCEM), a queda no consumo foi por motivos sazonais.

Por sua vez, os valores de venda locais aumentaram 5,5% no semestre, gerando faturamentos de cerca de US$ 180 milhões.

Outro ponto de destaque foi que 17,6% da produção de cimento entre abril e junho foram destinados aos mercados internacionais.

O freio da construção peruana se viu refletido na produção de cimento. De acordo com a associação setorial, a Asocem, a produção nacional caiu 1,2% em julho com elação ao mesmo mês do ano anterior. A produção acumulada de janeiro a julho deste ano ficou em 5.511.000 toneladas, representando uma queda de 4,3% interanuais. Por sua vez, o consumo acumulado de cimento em 12 meses em julho de 2017 ficou em 9,9 milhões de toneladas métricas, verificando assim uma contração de 5,3% em relação ao mesmo período do ano passado.

Não obstante, a associação espera que o consumo do material se reative ao longo do segundo semestre deste ano, e que a indústria possa terminar com números positivos, chegando a um crescimento interanual de 1,5% em 2017.

Preços

Cuba é um lugar onde deve-se prestar atenção. Os preços do saco estão subindo rapidamente devido a um desajuste entre as necessidades de obras e a capacidade de produção e importação de cimento. Um saco de 42,5 quilos de P350 saiu de US$ 4,23 para US$ 6,22, aproximadamente. Por razões de logística e energia precária, a produção nacional cubana opera a 58% de sua capacidade. Enquanto isso, na República Dominicana, o consumo caiu em 2% na primeira metade de 2017, de acordo com a associação Adocem, ficando em 2.132.312 toneladas. O país é um exportador de cimento, e no primeiro semestre despachou para fora de suas fronteiras 17,6% do total de sua produção.

O caso brasileiro continua dramático, e quando se percebe a realidade do setor cimenteiro, as vendas nacionais mais as importações (consumo aparente) caíram 10,5% em julho comparado com o mesmo mês de 2016, ficando em 4.700.000 toneladas. Mas a tímida recuperação que se avizinha já fez com que em julho as vendas tenham crescido 3,3% na comparação com o mês imediatamente anterior.

No México, pela primeira vez na história se ultrapassou a marca dos 40 milhões de toneladas, tanto em produção como em consumo, no ano de 2016. Ao dividir as toneladas de cimento produzido pelo número de habitantes, o crescimento se confirma, pois se obtém uma proporção de 327 toneladas por habitante em 2016 contra 323 um ano antes e 301 em 2014.

Apesar disso, reina no país alguma incerteza, fruto dos aumentos de 15% no cimento em janeiro, que foi seguido por outro aumento de 12%. A Câmara Mexicana da Indústria da Construção afirmou publicamente que muitos pensam em orçar cimento importado, suspeitando que a tonelada do importado pode ser até US$ 30 menos caro do que o nacional. Por sua vez, a Câmara Nacional do Cimento diz que o preço foi reajustado de acordo com o crescimento na demanda interna.

O futuro próximo do mercado cimenteiro mexicano é imprevisível, assim como a totalidade de seus impactos sobre a indústria do concreto e da construção.

O custo do transporte marítimo entre a China e o México pode ser de cerca de US$ 75 por metro cúbico, o que equivale a cerca de 1,5 tonelada de material. Desta forma, o custo de uma tonelada de cimento poderia chegar a US$ 110, ou 35% a menos do que os US$ 168 por tonelada que ele estaria custando no México.

Cemento chino

O cemento chinês está se tornando uma ameaça real para os produtores locais do insumo.

O Peru também está atento ao fenômeno. Naquele país, as importações de cimento vêm tendo um comportamento mais ou menos estável enquanto os despachos nacionais se contraíram.

Na Costa Rica o caso é ainda mais notório, dado que as importações de cimento aumentaram nove vezes entre 2014 e 2016.

Assim, o preço do cimento é um fator a considerar e diante do qual as empresas locais não podem mesmo ficar de braços cruzados.

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Cristian Peters
Cristián Peters Editor Tel: +56 977987493 E-mail: cristiá[email protected]
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