BNDES muda regras do Finame
04 January 2016
Se ao longo de 2015 o governo federal tentou com razoável modéstia promover um controle mais rigoroso de suas contas para baixar o nível de endividamento público e assim conseguir mais consistência nos indicadores macroeconômicos, e readquirir a confiança dos mercados, a primeira semana de 2016 dá a entender que esse esforço terminou.
O BNDES anunciou mudanças no Finame, seu principal programa de financiamento de máquinas e equipamentos. A mudança favorecerá as condições de compra, o que certamente vai aumentar a venda de equipamentos de construção e agricultura no curto prazo, e poderá reequipar construtoras defasadas. Mas trará consigo o risco de um desequilíbrio econômico ainda maior do que o verificado até agora.
O BNDES passará a financiar 70% do valor do bem adquirido, contra 50% pela regra anterior. Além disso, a Taxa de Juros de Longo Prazo do banco, mesmo aumentando de 7% ao ano para 7,5% ao ano, passará a compor uma parte maior do financiamento, reservando para as taxas de mercado (muito maiores) não mais do que 30% de cada financiamento.
Para as micro, pequenas e médias empresas, a aquisição de máquinas será ainda mais facilitada, com financiamento de 80% do valor do bem, e taxa de 7,5% em todo o custo financeiro.
A medida deverá recompor grande parte do mercado de máquinas do Brasil, duramente afetado pela recessão em 2015. A indústria de máquinas de construção deverá ter se contraído cerca de 20% no ano passado. Enquanto isso, alguns subsetores, como o de máquinas rodoviárias, caíram mais de 60%.
As novas regras do Finame vêm após a mudança de Joaquim Levy por Nelson Barbosa à frente do Ministério da Fazenda. O novo ministro se identifica com a corrente de pensamento econômico conhecida como nacional desenvolvimentismo, que defende geração de crescimento mediante concessão de créditos facilitados e gastos públicos, muitas vezes descuidando-se dos efeitos inflacionários.
Mas ainda que esta e outras medidas generosas para com os atores econômicos produzam resultados imediatos, a capacidade de endividamento da sociedade brasileira como um todo está próxima do fim. Dificilmente as políticas de Barbosa, se continuarem assim, serão capazes de gerar crescimento a partir de uma recessão de mais de 3% do PIB em 2015 com inflação de mais de 10%.