A indústria de concreto frente o Covid-19

22 April 2020

Panamá

A empresa de cimento e concreto Cemex iniciou o projeto de limpeza pública no Panamá.

A pandemia do COVID-19 tomou literalmente todo o mundo de surpresa, incluindo aí países ricos e países pobres, empresários e desempregados. As estratégias para o combate à doença têm sido muito variadas ao redor do globo, desde o confinamento quase total das populações, até estratégias de continuidade para prevenir o contágio e em tese produzir imunidade na população, que assim estaria mais resistente ao vírus. No momento em que escrevo esta coluna, como dizem alguns especialistas, não estamos imersos em uma crise, e sim numa situação de incerteza cuja data final ainda não é conhecida, assim como tampouco a solução definitiva. Neste cenário, vem a pergunta: o que se espera para o setor de concreto usinado?

Pois bem, o primeiro é revisar o que vem acontecendo com o setor de construção, destinatário final do nosso produto. Enquanto em vários países do mundo se optou por manter o setor de construção operando, utilizando protocolos de biossegurança, em boa parte da América Latina o setor e suas empresas tiveram que suspender as operações, por decisões tomadas por autoridades sanitárias de seus respectivos governos. Mesmo naqueles países onde não se suspenderam os canteiros de obra, a redução dos volumes despachados foi considerável. Há quem argumente que, nos países latino-americanos, a suspensão do setor de construção pode ter um impacto maior do que o próprio vírus em seus trabalhadores a médio e longo prazo, e por outro lado há aqueles que sustentam que as decisões de suspensão foram as mais adequadas. Alemanha, Canadá, Bélgica, Reino Unido ou Califórnia nos EUA, são alguns dos exemplos dos lugares onde a construção permanece funcionando, enquanto Boston, Nova York, Equador, Peru, Panamá e Colômbia paralisaram total ou parcialmente a atividade. Em alguns lugares foram adotados alívios econômicos automáticos para dar conta da situação, e em outros o setor privado vem tendo que suportar uma carga bem maior.

Sem entrar nesta polêmica, o certo é que a suspensão da atividade de construção pode gerar vários efeitos na indústria do concreto, como a dificuldade para a sobrevivência econômica de muitas empresas – grandes, médias e pequenas – e por consequência para a recuperação do emprego depois que a crise passar, ao impossibilitar a percepção de receitas que sustentem os empregados durante esta paradeira forçada, e tendo que se ver com as contas de credores, locações, leasing etc.

Quanto ao futuro, pode-se vislumbrar que o mercado de edificações, em sua grande maioria privado, terá maiores dificuldades para ver uma recuperação do que o setor de obras públicas. A incerteza financeira entre as famílias – dado que se prevê uma enorme destruição de empregos no mundo – faz com que se perca a confiança, um dos fatores indispensáveis para mobilizar a compra de moradias. Neste sentido, são os Governos, como já vem fazendo o da China, que devem criar incentivos muito potentes e de longo prazo para reativar o setor e assim permitir uma preservação significativa de empregos.

Cemex

Todo o setor a seguiu, e vem contribuindo para dar mais segurança ao ambiente urbano em meio à pandemia.

No caso da infraestrutura, embora a intervenção do Governo seja mais imediata e possa gerar uma reação nos despachos do setor de concreto, não será de estranhar que no pós-Covid nós sejamos testemunhas de prazos mais largos e mesmo de cancelamentos de projetos de todo tipo. Ou então podemos ter uma importante aposta dos Governos na reativação de suas economias, mediante a comprovada fórmula de injetar dinheiro em projetos de construção, conseguindo uma rápida recuperação.

Enfim, a atual incerteza pode produzir inumeráveis cenários dependendo da imaginação do analista, desejando que logo tenhamos maior certeza sobre o caminho a se seguir, e confiando que as decisões dos governantes sejam as mais adequadas e de acordo com as informações disponíveis, para dar prioridade à vida de todos os cidadãos.

Neste sentido, devo destacar o papel da indústria de concreto da região, desde o momento em que se declarou a pandemia. Muitas empresas do setor uniram esforços e compartilharam suas ideias para produzir um primeiro documento de orientação de biossegurança para manter ou retomar as operações na forma mais segura possível, diante do que já se conhecia do Coronavírus, com o objetivo fundamental de proteger a saúde dos colaboradores do setor. O “GUIA DE ORIENTAÇÃO PARA EMPRESAS DE CONCRETO USINADO DURANTE A PANDEMIA DO COVID-19”, desenvolvido pela FIHP, foi posteriormente traduzido pela European Ready Mixed Concrete Association e adotada para a Europa, pela National Ready Mixed Concrete Association para os EUA, depois traduzida ao francês e adaptada pela associação de concreto do Canadá, e finalmente traduzida ao turco pela associação de concreto da Turquia, sendo então um aporte da região para o mundo.

Wash

Os caminhões usados para transportar concreto agora contribuem com a saúde pública.

Mas além disso, cabe destacar a colaboração voluntária de ao menos 17 empresas de concreto na região. Sob uma ideia que surgiu na Cemex Panamá, de utilizar os caminhões betoneira como unidades de apoio para lavar com água e sabão lugares críticos de aglomeração popular, em menos de uma semana centenas de caminhões betoneira de grandes, médias e pequenas empresas estavam a serviço das autoridades nacionais e locais para contribuir na desinfecção de entradas de hospitais, estações de transporte público, praças de mercado, delegacias de polícia e cemitérios, entre outros. Só na Colômbia, em uma semana foram asseados mais de 200 pontos em 25 cidades e bairros, e no geral da América Latina e Caribe foram vistos exemplos espontâneos similares do México à Argentina.

O gesto foi reconhecido e agradecido por diferentes Governos e prefeituras, e mostra um senso de responsabilidade que nem todos os setores econômicos demonstraram neste momento em que é tão necessário atuar como sociedade, além de provar o sentido de pertencimento daqueles que estão vinculados ao setor.

Termino este artigo desejando segurança para todos, suas famílias e seus colaboradores, oxalá que logo se possa voltar ao desenvolvimento de nossos países, fazendo o que melhor sabemos fazer: construir sonhos com concreto!

 

* O engenheiro Manuel Lascarro é Diretor Executivo da Federação Iberoamericana de Concreto Usinado (FIHP), e Diretor Geral da Associação Colombiana de Produtores de Concreto (ASOCRETO).

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Cristian Peters
Cristián Peters Editor Tel: +56 977987493 E-mail: cristiá[email protected]
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