Momentos complexos

07 July 2020

aeropuerto de méxico

A Baixa demanda por voos de passageiros provocada pela pandemia seria um dos fatores para cancelar a obra do Terminal 3 do aeroporto Benito Juárez, no México.

 O título desta reportagem diz tudo. São momentos complexos os que se vivem no mundo em geral e na América Latina em particular. Na edição passada da CLA comentou-se como a pandemia do Covid-19 chegou à região com uma força inusual, e deixando todos os países da região sem muita capacidade de reação. Brasil, México, Peru e Chile viram com desassossego a propagação da doença, enquanto países como Uruguai e Paraguai conseguiram um controle muito maior (ou melhor?) do problema. 

Mas para além dos dados da doença em termos de contágio, letalidade e recuperação, o impacto econômico do Covid-19 será forte, e já deixou entrever seus primeiros abalos no primeiro trimestre do ano, aprofundando seus efeitos em abril, e projetando assim um segundo trimestre que poderia ser até mais difícil do que o anterior. 

Brasil 

A maior economia latino-americana não teve êxito no combate à propagação do Coronavírus, e se alguns pensaram que a flexibilidade nas medidas de contenção poderia permitir melhores desempenhos econômicos, os números dizem o contrário. 

A construção brasileira teve uma contração de 2,4% no primeiro trimestre, comparando-se com os últimos três meses do ano passado. Em comparação com o mesmo período de 2019, a queda é menor, de só 1%. 

Mas de acordo com a economista Ana Maria Castello, que acompanha o setor na Fundação Getúlio Vargas, os números do segundo trimestre poderão ficar um pouco piores. 

brasil foto reuters

O Brasil voltou à rua em protesto devido à propagação do vírus. Até o fechamento da edição, já eram quase 40 mil mortos.

De acordo com ela, a construção informal, familiar a realizada por pequenas empresas, representa quase 40% do total do setor no Brasil. Este segmento do mercado teve uma paralisação quase completa, devido à fortíssima baixa no nível de renda das famílias e o significativo aumento no desemprego. 

As maiores construtoras do país, no entanto, mantiveram seus canteiros de obra porque a atividade foi considerada essencial pelo governo. Mas a especialista afirma que o ritmo de trabalho como um todo se reduziu, com demissões e suspensão de trabalhadores que estivessem em algum grupo de risco.

O nível de emprego na construção caiu fortemente no país. Entre março e abril, 13,2% da força de trabalho da construção perderam seus empregos no Brasil. Com isto, a Fundação Getúlio Vargas prevê que o PIB da construção vá cair até 11% em 2020. 

México 

As notícias da segunda maior economia regional não são positivas. Desde há bastante tempo a construção mexicana está vivendo um momento complexo, que foi aprofundado pela pandemia do Covid-19 e as medidas de precaução sanitária implementadas pelo governo do país. 

Chile

Em maio, a Câmara Chilena da Construção (CChC) anunciou a paralisação de 778 projetos imobiliários em todo o país.

Segundo dados do Centro de Estudos Econômicos do Setor da Construção (CEESCO), em março de 2020 o valor da produção das empresas construtoras do México, em nível nacional, foi de US$ 1,62 bilhão, número que significou uma redução de 16,7% em relação ao mesmo mês de 2019, e uma contração de 3% em relação ao mês anterior. 

Enquanto isso, no trimestre, o valor da produção acumulada entre janeiro e março de 2020 ficou em cerca de US$ 4,91 bilhões, o que implica numa redução de 16% em relação ao primeiro trimestre de 2019, de acordo com o CEESCO. 

No primeiro trimestre de 2020, as obras públicas registraram contração de 20,2% em relação ao mesmo período do ano passado, sendo os estados mexicanos onde ela mais caiu os de Chiapas (-61,5%), Nayarit (-58,4%) e Oaxaca (-58,4%). 

Por sua vez, no que se refere à obra privada, foi registrada uma contração de 13,5% entre janeiro e março, comparando-se com o mesmo período do ano anterior, e aí destacam-se os estados de Tlaxcala (-76,9%), Tabasco (-66,3%) e Michoacán (-61,2%). 

Em março de 2020, o número de trabalhadores ocupados pelas empresas construtoras em todo o México foi de 452.108 pessoas, 11,3% menos do que o número de empregados em março de 2019 e 4,1% menos do que em fevereiro deste ano. 

Argentina 

O indicador sintético da atividade de construção (ISAC), que reflete a evolução do setor a partir do comportamento de um conjunto de insumos representativos, registrou uma queda brutal de 46,8% em março, em comparação com o mesmo período do ano passado. 

No terceiro mês do ano o consumo de asfalto mostrou uma queda de 74,6% contra o mesmo mês de 2019; o de concreto usinado caiu 68% e o de ferro e aço para a construção caiu 61,1%. Isto mostra um quase paralisia total do setor, tanto em obras públicas como em privadas. 

A contração do mercado foi ainda mais grave, ao se considerar que é uma contração recorde, maior à de 44,5% registrada em fevereiro de 2002. 

Em nível trimestral, o índice apresenta uma diminuição de 28,1% com relação ao mesmo período de 2019. 

A tendência deve se manter no número de abril. De acordo com os dados do Índice Construya, que mede o nível de atividade de mais de uma dezena de empresas representativas do mercado de construção (fabricantes e fornecedores de blocos cerâmicos, cimento Portland, cal, aços longos, carpintaria de alumínio, pisos e revestimentos, argamassas, etc.), as vendas do quarto mês do ano caíram 74,3% em relação às de abril de 2019. 

Os números argentinos são especialmente preocupantes se recordarmos que o país enfrenta a pandemia ao mesmo tempo que busca sair de uma recessão que registrou quedas de 2,6% e 2,2% em seu PIB de 2018 e 2019, respectivamente. O presidente Alberto Fernández já prognosticou uma queda de 6,5% para a economia do país este ano. 

Peru 

colombia

O governo colombiano lançou uma série de medidas para reativar o setor da construção depois da pandemia no país.

Calcula-se que o setor de construção do Peru se contraia 4% em 2020, em comparação com uma previsão de crescimento interanual anterior de 5,5%, e abaixo do crescimento de 1,5% obtido em 2019. Tudo resultado das estritas medidas adotadas pelo governo peruano para conter a propagação do Covid-19, segundo a GlobalData.

As medidas tomadas, que incluem ordenar o fechamento da grande maioria das atividades de construção, levaram à paralisação de muitos projetos de grande porte, particularmente nos setores de obra residencial, industrial e infraestrutura. “É provável que se realizem novas revisões para baixo, já que o número de casos confirmados de coronavírus continua se acelerando em todo o país, e as restrições governamentais para frear a propagação da doença ainda se estenderão. As projeções atuais de produção da GlobalData vão no sentido de que a maioria dos projetos será reativada em junho, e que o surto estará em grande parte contido então”, afirma Dariana Tani, economista da GlobalData.

Embora o recente anúncio do governo de suavizar gradualmente as restrições nos projetos essenciais de construção em maio possa dar ânimo ao setor, a extensão das restrições em nível nacional continuará tendo impacto negativo sobre o setor. Segundo a Câmara de Comércio de Lima, cerca de 85 mil empresas do setor de construção e mais de 1 milhão de trabalhadores foram afetados pelas restrições adotadas pelo governo peruano.

Espera-se que o mercado residencial diminua bruscamente este ano, devido à queda significativa a demanda por imóveis, o que corresponde ao aumento nos níveis de desemprego e à atividade econômica mais fraca. Dados recentes do Ministério da Moradia e Desenvolvimento Urbano indicaram que as vendas de imóveis no país deverão cair 25% em 2020.

Chile 

O Índice de Atividade Econômica Mensal (Imacec) do Chile caiu 14,1% em abril, em comparação com o mesmo mês do ano anterior, uma notícia que gerou preocupação no país. “Os dados do Imacec de abril mostram que o impacto econômico da pandemia será muito pior durante o segundo trimestre de 2020, especialmente para os setores de construção e mineração, que até abril haviam sido menos afetados que outros setores, como a edição, o transporte, restaurantes e hotéis”, afirmou Tani. 

“Embora o governo chileno tenha levantado as restrições de quarentena em várias áreas do país, o crescente número de casos e mortes por Covid-19 em maio, especialmente em Santiago, capital do país, levou os funcionários públicos a impor novas restrições de fechamento em Santiago, Iquique e Alto Hospício até 12 de junho, para aliviar a pressão sobre o sistema de saúde do país. Isto obrigou a deter temporariamente muitos projetos de construção, especialmente no mercado imobiliário, colocando em risco muitos milhares de dólares em investimentos e empregos na construção”, indicou a especialista. 

Em meados de maio, a Câmara da Construção do Chile (CChC) anunciou a paralisação de 778 projetos imobiliários em todo o país, devido às novas medidas de quarentena adotadas pelo governo. Na ocasião, a CChC calculou que os projetos afetados representam um total de 103.145 unidades habitacionais e empregam mais de 338 mil pessoas.

“Refletindo sobre estes fatos, a GlobalData espera que o setor de construção do Chile se contraia 4,5% este ano, portanto, abaixo da projeção já ruim de -3% na atualização de abril”, afirmou a economista.

Colômbia

Nem todas as notícias são negativas. A Colômbia vem para ‘salvar o dia’, já que entre janeiro e março o setor de obras civis percebeu crescimento de 9,1% com relação ao mesmo período de 2019, segundo o Departamento Administrativo Nacional de Estatísticas do país. Desta forma, a atividade liderou o PIB, que cresceu 1,1% nos primeiros três meses do ano.

“Foi muito positivo que as obras de construção civil mostraram altíssimo crescimento nos primeiros três meses do ano, o que comprova mais uma vez a liderança do setor e sua capacidade de impulsionar a economia”, afirmou o presidente executivo da Câmara Colombiana da Infraestrutura, Juan Martín Caicedo.

De acordo com o órgão de estatística do país, as atividades que lideraram este desempenho estão no grupo de rodovias, ruas, caminhos, pontes, viadutos, túneis e construção subterrânea, cujo investimento teve um repique de 18% no primeiro trimestre.

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