Foco Chile: Investimento austral

Minería en chile A mineração é a área que mais demandará investimentos no quinquênio 2021-2025. Foto: Sigdo Koppers Engenharia e Construção

O ano passado foi um exercício de esquecimento. A pandemia atingiu com grande força em todo o mundo e o Chile não foi exceção. As medidas tomadas para controlar a propagação do vírus provocaram o colapso das atividades produtivas no sul do país. Sem ir mais longe, segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), o PIB do país contraiu 5,8%, sendo a maior queda desde 1982.

Entre as indústrias mais afetadas estava a construção, cujo PIB setorial teria contraído 14,1% no ano passado. Foi assim que empresas importantes como Constructora Diamar 2, Constructora 3L e Triada, entre outras, iniciaram seus processos de liquidação. Talvez o caso mais emblemático seja o da Brotec, construtora que participava entre as 50 mais importantes da América Latina e que, apesar dos esforços de seus acionistas, não resistiu mais. Claro, essas falências não estão 100% ligadas à pandemia, mas foi definitivamente a Covid-19 que deu o golpe de misericórdia.

Hoje o Chile parece ter um futuro melhor porque o processo de vacinação, não sem problemas, tem sido, em termos gerais, um sucesso. Isso, somado ao levantamento das restrições sanitárias, ao aumento da demanda interna e ao aumento do preço do cobre, entre outros fatores, permite à Cepal estimar um crescimento de 9,2% da economia chilena para este ano, crescimento que em 2022 será moderado 3,2%.

Um véu de incerteza

Desde março de 2020 o Índice Mensal de Atividade Construtiva (Imacon), desenvolvido pela Câmara Chilena da Construção (CChC) apresentava, mês a mês, quedas anuais, sendo a queda mais forte em julho do ano passado com recorde de -16,46%, desde então as quedas continuaram, mas eram menos profundas. Esse movimento se manteve até fevereiro deste ano, quando o índice apontou queda anual de 0,93% e, desde então, vem crescendo, apresentando crescimento de 23,5% em junho.

Deve ser esclarecido que este último valor alto é influenciado pela base de comparação baixa. Embora a atividade tenha retornado a níveis semelhantes aos observados antes da pandemia, ainda está abaixo do nível anterior à agitação social em outubro de 2019.

Os melhores indicadores refletiram-se no resultado das principais construtoras do país. No primeiro semestre, muitos deles revelaram números positivos em seus balanços. A título de exemplo, em relação ao primeiro semestre de 2020, a SalfaCorp teve um aumento em suas receitas de 59%, a Besalco teve um salto de 48%, a Ingevec atingiu um crescimento de quase 37% e a Echeverría Izquierdo de 32%.

Desta forma, apesar do golpe que sofreu o setor, tudo indica que este será um ano de recuperação, embora não se possa reivindicar a vitória e seja necessário estar atento aos vários fatores de incerteza presentes no país e que podem torná-la não seja tão rápido. Em primeiro lugar, não se pode esquecer que os crescimentos descritos acima partem de uma base muito baixa para o contexto de 2020. Da mesma forma, há preocupação com o aumento dos custos dos materiais, dúvidas quanto à capacidade do governo de realizar grandes investimentos e o véu de incerteza devido à institucionalidade é outra variável que aparece como um fantasma no futuro do país.

Vale lembrar que no Chile, além das eleições presidenciais e parlamentares que ocorrerão em novembro próximo, está se iniciando um processo constituinte para a elaboração de uma nova constituição, o que suscita questionamentos sobre o que será a organização e a segurança jurídica do país ser como uma vez concluída a nova Carta Magna.

Investimentos 2021-2025

Grafico inversiones en Chile 2021

De acordo com o último cadastro trimestral da Capital Goods Corporation (CBC), para o quinquênio 2021-2025, o país teria 990 iniciativas a se concretizar por cerca de US$ 61.087 milhões, dos quais 70,8% correspondem a financiamentos privados e o os restantes 29,2% destinam-se ao financiamento público. Ressalta-se que esse valor é 7,36% superior ao apurado no relatório trimestral anterior, que atingiu US$ 56.894 milhões.

Também é interessante que, do total de investimentos privados, cerca de 45,6% correspondem a investimentos estrangeiros, acima da participação de 43,1% do cadastro de dezembro de 2020.

Do total estimado para o período em questão, 53,8% são provenientes de iniciativas que estão em fase de construção e 35,5% estão desenvolvendo sua engenharia de detalhamento. Os números do período também incluem os gastos com as obras que serão concluídas no corrente ano fiscal de 2021 e que representam 1,4% do valor quinquenal.

A mineração seria o setor que mais investisse nessa cifra, com 81 projetos públicos e privados por cerca de US$ 21.440 milhões ou 35% do total do quinquênio. Seguem-se as obras públicas com desembolsos de US$ 20.274 e o setor de energia com investimentos projetados para o período de US$ 7.278 milhões. No total, esses três setores explicariam 80,2% dos investimentos projetados.

Para este ano estão previstos investimentos da ordem de US$ 20.598 milhões, valor que representa um crescimento de 16,9% em relação à carteira estimada no ano anterior. “Porém, para 2022, espera-se uma contração anual de 20,1%, de acordo com a carteira de iniciativas a partir de junho de 2021”, alerta o CBC, e os investimentos chegariam a US$ 16.453 milhões.

Projetos em destaque

Dentre os projetos mais relevantes em termos de investimento (acima de US$ 1.000 milhões) listados no cadastro do CBC, sete se destacam, dos quais seis correspondem ao setor de mineração.

Das iniciativas, a maior é a Quebrada Blanca Fase II (QB2), que demandaria investimentos de US$ 2.965 milhões no quinquênio em estudo. Sim, porque é preciso esclarecer que o investimento total do projeto é de não menos de US$ 5,2 bilhões, maior projeto de mineração privado em construção na América do Sul.

QB2 vai explorar um dos maiores recursos de cobre do mundo ainda não desenvolvido. Segundo seu proprietário, a Teck, terá baixos custos operacionais, vida útil inicial de 28 anos e significativo potencial de crescimento adicional. A primeira produção de cobre está prevista para o segundo semestre de 2022.

O segundo maior projeto em termos de desembolsos é o Desenvolvimento de Infraestrutura e melhoria de capacidade de Collahuasi, que envolveria investimentos da ordem de US$ 2.946 milhões, e que consiste na melhoria das instalações atuais e na otimização do uso dos ativos do mineradora, buscando estender sua vida útil de operação até o ano de 2040.

Por meio de melhorias operacionais, o projeto contempla a otimização da planta concentradora para passar de uma produção de 170 ktpd para 210 ktpd.

Entre os investimentos do quinquênio, destaca-se a construção da Linha 7 do Metrô de Santiago. Foto: Cristian - Adobe Stock.

Também buscando estender a vida útil operacional da mina, até o ano de 2036, está o projeto Los Bronces Integrado, da Anglo American, iniciativa que exigirá investimentos da ordem de US$ 2.758 milhões no quinquênio 2021-2025 e que envolve a substituição de parte do mineral extraído atualmente por outro com maior teor de cobre. Desta forma, mesmo mantendo os níveis atuais de alimentação da planta de 180 ktpd e sem modificar a capacidade dos tanques estéreis ou de rejeitos e sem necessitar de mais água doce, o local poderá continuar mantendo seus níveis de produção.

O quarto é o único projeto não mineiro. Trata-se da construção da Linha 7 do Metrô de Santiago, que com um investimento de cerca de US$ 1.756 milhões, 19 estações e 26 quilômetros de extensão, visa ligar os bairros de Renca e Vitacura na capital.

Para o primeiro semestre de 2022, o Metrô projeta que todas as empreitadas de obras civis de poços, galerias e túneis estejam em andamento, nos seis trechos da linha, iniciando escavações entre poços de construção, poços de ventilação e futuras estações.

Em seguida, há a adaptação do projeto El Teniente New Mine Level, da Codelco e que envolveria investimentos de US$ 1.658 milhões. Por que adequação? Porque a iniciativa mudou drasticamente desde o que foi inicialmente projetado em 2010. Este “novo” Novo Nível de Mina começaria a operar em 2023 e impediria a mina de cessar suas operações em 2028.

Mas nem tudo é apenas cobre. Dentro desta lista está um projeto polimetálico (além do cobre, exploraria ferro e ouro, e também haveria possibilidades de explorar sulfato de cobalto) que vem tentando iniciar há muitos anos, mas que tem enfrentado uma oposição muito forte. Trata-se de Santo Domingo, da Capstone Minning, que exige investimentos da ordem de US$ 1.414 milhões.

Em sétimo lugar está outro projeto Coldelco, mas desta vez visa estender a vida útil de Salvador até 2065. É o projeto Rajo Inca, que dará acesso a reservas estimadas em 796 milhões de toneladas com teor de 0, 59%, e que no quinquênio exigirá investimentos da ordem de US$ 1.257 milhões.

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