Chile: Buscando reverter efeitos adversos

23 October 2020

O impacto da Covid-19 é inegável. A pandemia não é apenas uma crise sanitária, mas também atingiu com muita força as economias dos países. E embora seja quase ocioso mencioná-lo, é importante estarmos conscientes disto. 

A economia chilena teve um duríssimo primeiro semestre, e as projeções de futuro são pouco claras. O Fundo Monetário Internacional realizou um corte de três pontos porcentuais nas projeções do país, e a queda no PIB chileno deverá ser então de 7,5% no ano , maior inclusive do que se espera para o resto do mundo, que é de 4,9%, mas menor do que se espera para a América Latina, que é uma queda de 9,4%. 

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Projeto MAPA, da empresa de celulose Arauco.

A construção, por óbvio, não está alheia a esta dinâmica e as principais empresas do setor perceberam forte redução nas receitas, e impactos ainda maiores nas taxas de lucro. 

Semestre do horror 

A maior construtora chilena (e latino-americana), a Sigdo Koppers, foi testemunha dos impactos da pandemia, e seu relatório semestral comunicou uma queda de 15,5% em suas vendas na comparação com o primeiro semestre do ano passado, alcançando receitas de apenas US$ 985,3 milhões. A diminuição se explica por menores vendas físicas na maioria de suas filiais, as quais se viram afetadas pelos efeitos da propagação da Covid-19 em nível mundial. 

Por outro lado, o lucro líquido da empresa ficou em US$ 18,3 milhões, o que representa uma queda de 59,7% frente o período janeiro-junho de 2019. 

“Estes tempos de Covid-19 são um momento de mudança e adaptabilidade, em que o grande desafio é reagir rapidamente, tomando as medidas sanitárias necessárias para a proteção ante possíveis contágios do nosso pessoal e conseguir continuar o negócio. Além disso, implementamos o trabalho remoto e viemos apoiando nossos colaboradores com informação oportuna e relevante frente a pandemia, que por certo é um tema desconhecido para todos, e estamos aprendendo na prática”, disse à CLA o CEO da empresa, Sandro Tavonatti. 

“Nos 60 anos de história da Sigdo Koppers, enfrentamos várias crises e de todas soubemos sair adiante, já que é importante ver este tipo de acontecimento como oportunidades para melhorar e desenvolver novas habilidades, que em situações normais quem sabe não teríamos dado atenção. O bom de uma crise desta envergadura é reagir a tempo e adaptar permanentemente às mudanças que nossos clientes e o mercado demandam, a fim de assegurar a continuidade do negócio. Estamos trabalhando constantemente em fazer mudanças significativas que nos permitam maior eficiência e agilidade nos nossos processos”, afirmou. 

A segunda maior construtora chilena, a Salfacorp, sentiu um golpe ainda mais forte. A receita por atividades ordinárias da empresa caiu 50,9% e ficou em cerca de US$ 255 milhões. Já a sua taxa de lucro se reduziu em 30,7%, se estabelecendo em cerca de US$ 27 milhões. 

“Colocamos especial atenção na continuidade operacional para seguir atendendo aos clientes e mandantes de nossas obras, mas a o mesmo tempo controlando ao máximo os custos e gastos, e implementando uma política geral de austeridade. Isto incluiu, por exemplo, a eliminação de qualquer gasto e custo cruzado; fomentar o trabalho remoto com o devido suporte tecnológico; diminuição da dotação mediante a redução permanente ou transitória de jornadas de trabalho; redução temporária de salários do pessoal indireto e de certos benefícios. Tudo isto foi possível graças à disposição e compromisso de nossos colaboradores”, afirmou a companhia. 

Outra empresa importante, a Besalco, registro um decréscimo de 22% em suas receitas, passando de um faturamento de cerca de US$ 275 milhões no primeiro semestre de 2019 a algo cerca de US$ 213 milhões entre janeiro e junho deste ano. Não obstante, a empresa reduziu em 25,2% os custos de vendas, logrando assim um aumento de 12,2% em seu lucro bruto. Finalmente, o lucro líquido da companhia ficou em cerca de US$ 3,7 milhões, no primeiro semestre do ano. 

Com otimismo 

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Sigdo Koppers vem resistindo à queda econômica.

Em termos de faturamento, algo mais positivo são os números da Echeverría Izquierdo, empresa que conseguiu obter vendas de cerca de US$ 193 milhões no primeiro semestre, 3,6% acima do obtido no mesmo período do ano passado, quando havia faturado US$ 186 milhões. 

Fernando Echeverría, investor relations da empresa, destaca que no segmento de edificação e obras civis foi o mais impactado pela Covid-19, com receitas de cerca de US$ 50 milhões no semestre, uma queda de 34,4% em relação ao mesmo período do ano passado. “Isto devido, principalmente, às paralisações por quarentenas decretadas pelas autoridades sanitárias em resposta ao problema da pandemia”, disse o executivo. Os números de edificação e obras civis se contrastam com os do segmento de serviços e construção industrial, que no período gerou receitas que foram mais de 66% do total consolidado da empresa, um salto de 36,9% com relação a janeiro-junho do ano passado. 

Em termos de receita bruta, estas se reduziram em 54,6% no período analisado, totalizando algo em torno de US$ 12,5 milhões. 

“Quando fazíamos as projeções econômicas no ano passado, pensávamos que 2020 seria o melhor ano da empresa, mas é claro que estas estimativas mudaram”, diz Echeverría, que de qualquer maneira se mostra otimista em relação ao que resta do ano. “Em geral, tivemos segundo semestres positivos, e sem dúvida no restante do ano vamos compensar algo do resultado do primeiro semestre”. Para o executivo, em se tratando de um ano diferente, o resultado até que vai bem: “para um ano assim especial, não está tão mal, e as construtoras conseguiram contornar a crise”. 

Pequenas e médias 

Enquanto as grandes empresas do país sentiram com dor os golpes da Covid-19 em seus negócios, para as pequenas e médias o rigor da experiência foi ainda maior. Principalmente, porque a crise chegou de surpresa. “Quando recebemos a notícia no Chile sobre a aparição deste novo vírus e o avanço que tinha em seu país de origem, víamos muito de longe o impacto no curto prazo, e por isso as medidas eram nulas ou quase nulas. Afinal, só se optou por dar um último grande impulso aos projetos, para que o período de detenção não afetasse tanto o retorno aos canteiros”, afirmou Fernando Toloza, gerente geral da Dos Cumbres Spa. 

Segundo ele, não se pode deixar de lado a desorganização econômica provocada pela pandemia, nem a incerteza sobre o comportamento do mercado mundial após este evento, somado à pressão dos clientes solicitando o cumprimento dos compromissos adquiridos, já que tudo isso junto levou a um estresse significativo. Toloza adverte que “nada disso desvia a nossa atenção do nosso dever social de respeito a nossos colaboradores, já que como primeira prioridade se decidiu manter os contratos, fazendo uso da lei de proteção ao emprego mobilizada pelo governo”. 

Mas ele se pergunta: “este setor, e suas pequenas empresas como a que eu represento, estão preparados para enfrentar no curto prazo fenômenos de características similares?” 

Reativando o setor 

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A ICSK também está no projeto MAPA.

A Câmara Chilena da Construção (CChC) apresentou em meados deste ano uma proposta para reativar o setor no país, que considera para os próximos três anos investimentos de US$ 22,6 bilhões e a criação de 600 mil postos de trabalho. 

O “Plano de Emprego e Reativação” contempla para o triênio 2020-2022 um investimento total de US$ 22,6 bilhões, considerando US$ 10,29 bilhões de investimentos públicos e US$ 12,31 bilhões de investimentos privados, e a criação de 600 mil empregos (240 mil em 2020, e 360 mil entre 2021 e 2022). 

A proposta coloca também outros dois objetivos prioritários: satisfazer demandas sociais associadas a moradia, equipamento urbano e infraestrutura básica, e abordar problemáticas urgentes, como a crise hídrica que afeta o Chile. Tudo isto através de um impulso ao investimento e a um estreito trabalho de colaboração entre o setor público e o setor privado. 

Moradia e Cidade 

A CChC propõe a criação de 495 mil empregos diretos e indiretos (200 mil este ano e outros 295 mil entre 2021 e 2022) com a mitigação dos problemas de déficit habitacional, favelização e proliferação de acampamentos, mediante: 

- Criar 271 mil empregos através da construção em condições especiais de 90 mil moradias de integração social e territorial associadas ao Programa DS 19 para reativar de imediato a oferta já disponível.

- Criar 135 mil empregos através da resolução de incertezas que afetam 45 mil moradias já autorizadas, mas cujas obras não se iniciaram.

- Criar 40 mil empregos através da construção de 5 mil moradias de um plano piloto de “Aluguel Protegido” em terras públicas.

- Criar 30 mil empregos através da entrega em condições especiais de 20 mil novos subsídios para melhoramento de moradias e bairros.

- Criar 19,5 mil empregos através da construção em condições especiais de 10 mil moradias para setores vulneráveis em zonas de maior déficit habitacional. 

A proposta considera um investimento total de US$ 9,6 bilhões, com US$ 7,5 bilhões de investimento privado e US$ 2,1 bilhões de investimento público. 

Infraestrutura 

Com o objetivo de gerar 104.200 empregos diretos e indiretos (42,6 mil este ano e outros 61,6 mil entre 2021 e 2022), a proposta da associação é: 

-Criar 62,4 mil empregos através da construção de 331 projetos para melhorar a mobilidade urbana e interurbana.

- Criar 18 mil empregos através da construção de 224 projetos para aumentar a disponibilidade de água no país.

- Criar 17,9 mil empregos através da construção de cinco projetos nas áreas de mineração e energia.

- Criar 5,9 mil empregos e incorporar 423 novos leitos ao sistema hospitalar através da execução de 105 projeto relacionados com a reparação e construção de consultórios e serviços de saúde, entre outros. 

A proposta em infraestrutura considera um investimento total de US$ 13 bilhões, dos quais US$ 4,81 bilhões seriam de investimentos privados e US$ 8,19 bilhões seriam de investimento público. 

Requisitos estruturais 

Na apresentação do “Plano de Emprego e Reativação”, a câmara afirmou que para conseguir realizar estes objetivos se deve cumprir com uma série de “requisitos estruturais”. Entre eles, destacou a importância da política pública para reduzir a insolvência das empresas, o aperfeiçoamento das relações contratuais, a certeza jurídica para o desenvolvimento de investimentos, a eliminação de travas regulatórias e de burocracia, uma política de estímulos ao investimento privado e à contratação, a elaboração de uma “Agenda Digital” e um plano de retorno para iniciar a reativação baseado em protocolos sanitários, como o que foi colocado em prática pelo próprio setor de construção.

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