Mais que demolir

03 August 2018

A demolição e a reciclagem de materiais podem contribuir para resolver problemas habitacionais na América Latina. 

As sociedades muitas vezes só reagem diante de seus principais problemas quando eles se tornam tragédias irremediáveis. A deterioração de edifícios se enquadra perfeitamente nesta descrição, e infelizmente no Brasil a crônica de uma tragédia anunciada foi o marco de uma destas lições que deveriam mudar a mentalidade de todos.

Wilton

Assim ficou o Wilton Paes de Almeida após o desabamento, que começou com incêndio.

Em pleno dia do Trabalho – 1º de maio -, um forte incêndio tomou por completo o edifício Wilton Paes de Almeida, no centro de São Paulo. Em poucas horas, o prédio teve sua estrutura absolutamente comprometida e desabou, matando um número de pessoas que até o fechamento desta edição era de cinco (dois deles eram gêmeos de dez anos, cuja mãe também veio a falecer no desabamento).

Não se tratava de um edifício comum. Quem ali vivia eram famílias de baixa renda que o ocuparam há cerca de 15 anos. Vítimas de um déficit habitacional que afeta milhões de pessoas no Brasil, as famílias estabeleceram no edifício um sistema de gestão habitacional coletiva, liderado por um “movimento social” de luta por moradia.

Mas o Wilton Paes de Almeida foi construído na década de 1960 para abrigar escritórios de empresas. Por dívidas com o governo, nos anos posteriores passou a propriedade do Estado, que o usou como sede de órgãos burocráticos. Em 2003, o que até ali era a sede da Polícia Federal em São Paulo ficou abandonado, abrindo espaço para a ocupação desordenada.

Sem qualquer manutenção, o Wilton Paes de Almeida recebeu um número excessivo de pessoas (e, portanto, de peso) sobre sua estrutura. Obviamente, sua instalação elétrica e hidráulica, que além de velha havia sido feita para uso laboral, foi abusada. Um curto-circuito foi suficiente para queimá-lo por completo e finalmente derrubá-lo.

Segundo capítulo

FABIO

A Fabio Bruno Construções, referência em demolições no Brasil, realizou a operação no Rio.

Dias depois, com o escândalo, a segunda maior cidade do Brasil, o Rio de Janeiro, deu o passo seguinte nesta crônica de tragédias anunciadas. Uma ocupação de um prédio público abandonado, que existia há anos, finalmente recebeu atenção do poder público municipal.

O antigo edifício do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que ficava praticamente dentro da favela da Mangueira (uma das maiores da cidade), havia se tornado ele próprio uma favela vertical. Inúmeras famílias viviam ali sem qualquer segurança: na falta total de manutenções regulares, fiscalização sobre suas instalações e qualquer outro tipo de formalidade.

Tendo em mente as omissões de São Paulo com o Wilton Paes de Almeida, as autoridades municipais do Rio de Janeiro contrataram uma demolição do edifício do IBGE, serviço para o qual chamaram a Fabio Bruno Construções, uma empresa referência em demolição no Brasil. Às famílias, neste caso, restou a promessa de uma solução habitacional futura. Mas o pior foi evitado.

O que cabe perguntar, em ambos os casos, é: não fosse pela tragédia consumada em São Paulo, em quanto tempo mais o Rio de Janeiro daria a solução adequada a este caso? Por sua vez, em ambas as cidades estes são apenas dois casos de edifícios que antes abrigavam órgãos públicos e agora são ocupações dos chamados “sem teto”. Resolver com antecipação as demais potenciais tragédias é uma tarefa inadiável. E se o Brasil é agora o foco de atenção, é certo que toda a América Latina tem seus fantasmas habitacionais que, por uma razão ou outra, representam ameaça à vida de pessoas.

A conclusão é que, em situações de deterioração estrutural avançada e omissão de longo prazo do poder público, demolir e reciclar se torna política pública.

Novas práticas

É no contexto das políticas habitacionais urbanas que os processos de demolição e reciclagem de resíduos devem ser pensados na América Latina. Mas sem ilusões: se este processo depender da boa vontade de políticos, as edificações velhas ou ocupadas por famílias sem casa vão continuar caindo.

É necessário que demolir para reconstruir se torne um verdadeiro negócio, que agregue valor a seus participantes e preste um serviço à sociedade, inclusive gerando postos de trabalho e arrecadações ao Estado.

E o estabelecimento de uma cadeia produtiva da demolição não será realidade sem que seu produto – os resíduos da demolição – possa ser corretamente monetizado e comercializado como material a granel, muitas vezes de nobre origem. É quase inevitável que os chamados RDC (resíduos de demolição e construção) sejam aproveitados comercialmente, o que falta é conectar seu aproveitamento a uma cadeia de demolição e produção de novas moradias e infraestruturas.

GRECO

Planta de reciclagem de resíduos de construção e demolição da GRECO em Cota, perto de Bogotá.

Na Colômbia, uma experiência lançada em 2017 promove a escalabilidade comercial dos RDC, através do estabelecimento de uma operação de reciclagem. Se trata da GRECO, Granulados Reciclados de Colombia, que é uma joint venture entre as empresas Cementos Argos, Fanalca e Daeyang.

A primeira planta da GRECO, na cidade de Cota, a cerca de 1,5 km de Bogotá, tem capacidade de processar 200 toneladas de material por hora. Suas tecnologias de classificação permitem a correta separação de metais, plásticos, madeiras e materiais pétreos (concreto incluído).

Os materiais pétreos são triturados para reutilização como matérias-primas de concreto, mas também como areia e agregados maiores para uso em bases e sub-bases de construção de pavimentos.

Não por acaso, a própria GRECO oferece o serviço de desmontagem e demolição de edificações, recuperando para posterior utilização a maior quantidade possível de materiais. A empresa é clara ao oferecer esta alternativa como vantagem para todos: promete demolir com menores custos, assume a responsabilidade pela gestão dos RCD produzidos e, após processá-los, vende material reciclado mais barato para novas obras.

Toda sua operação comercial se enquadra dentro de uma proposta de gestão integral dos RDC, o que pressupõe que não se trata apenas de demolição, isoladamente. Trata-se de um novo negócio, cujo serviço inclui planejar, executar e gerir a demolição e a reciclagem dos materiais do início ao fim, dando-lhe novo sentido econômico e gerando valor ao longo do processo.

A nova empresa quer reciclar por ano 1 milhão de toneladas de materiais, e assim reduzir a quantidade de RDC que vai para os aterros sanitários colombianos. Como benefício adicional, a proximidade da GRECO com relação a Bogotá lhe permitirá fornecer matérias-primas para novas construções com menor utilização de transportes. Isto porque as pedreiras mais próximas da capital colombiana estão a cerca de 100 quilômetros.

Fica assim comprovado pela GRECO que a solução dos dramas ambientais vem mais facilmente quando resolvê-los produz vantagens econômicas. O mesmo raciocínio se pode aplicar à solução dos dramas habitacionais da América Latina.

Este é um exemplo de esquema produtivo envolvendo a reciclagem de resíduos que pode estimular que a demolição seja bom negócio com mais frequência. A criação e estabelecimento de um mercado tal como este da Colômbia pode incentivar que se os edifícios antigos sejam demolidos, pois será bom negócio. No caminho, evitam-se tragédias anunciadas como a de São Paulo.

 

Brokk ataca o aço

BROKK

Implemento para robô de demolição corta elementos metálicos de até 200mm.

Com a finalidade de ampliar sua oferta para aqueles que necessitam uma máquina para o corte de aço, o fabricante de robôs de demolição norte-americano Brfokk lançou um novo implemento, o MC200 Multi Cutter.

Produzido por sua companhia irmã Darda, o modelo tem design compacto e promete ser uma solução de alta potência com pequeno peso operacional. De acordo com a Brokk, o MC200 Multi Cutter se aplica bem ao corte de aço em demolições para obras civis, mas também em indústrias como a reciclagem de resíduos, processamento de materiais, plantas nucleares e outros setores.

Trata-se de um implemento pensado e realizado para trabalhar em conjunto com os robôs de demolição da própria Brokk. A fabricante afirma que o seu desenho compacto (102 centímetros de comprimento) o adequa bem aos modelos Brokk 110, 120D e 160, que têm pesos operacionais de entre 1,2 e 2,8 toneladas longas.

É um equipamento de uso específico, tal como os robôs de demolição. Agrega vantagens à realização de serviços como a demolição subterrânea, em espaços confinados e/ou internos, dado que os robôs Brokk sempre têm alimentação elétrica.

Quando instalado a um robô, o MC200 Multi Cutter gira 360 graus sobre seu eixo, e abre a mandíbula a um limite de 200 milímetros. Sua potência de corte chega ao equivalente a 50 toneladas. O fabricante afirma que suas lâminas podem ser amoladas, o que evitaria trocas constantes.

 

Kinshofer em múltipla demolição

KINSHOFER

Mandíbulas intercambiáveis dão versatilidade à operação com cisalhas.

O fabricante alemão de implementos para demolição e outras aplicações Kinshofer apresentou este ano um novo modelo de cisalha para demolição, que tem um diferencial interessante para empresas construtoras que necessitam demolir estruturas antigas para abrir espaço a novas edificações.

Trats-se da linha Multi-Quick Processors, que tem como características destacadas as mandíbulas intercambiáveis em um mesmo corpo principal. Com isso, ao adquirir uma cisalha com um jogo de mandíbulas, a empreiteira pode ter diferentes capacidades de corte em um só produto.

Dependendo do modelo de Multi Quick Processor escolhido, o cliente pode receber jogos de seus ou oito mandíbulas. Estas podem ser dedicadas ao corte de concreto, aço ou tubulações, e permitem combinações para atender necessidades especiais.

“Sabemos que, ao habilitar os prestadores de serviço a fazer mais trabalho com nossos equipamentos, aumentamos sua lucratividade e expandimos seus negócios”, diz François Martin, gerente geral da Kinshofer nos Estados Unidos.

O sistema Multi Quick Processos da Kinshofer se acopla e, escavadeiras de entre 18 e 65 toneladas.

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