Difícil acesso

26 November 2020

O mercado de plataformas de trabalho aéreo na América Latina teve uma queda muito forte neste ano. Entre janeiro e agosto foram importadas à região cerca de 1,5 mil máquinas, número 45% menor do que no mesmo período do ano passado. 

Obviamente, as quedas foram diferentes de acordo com o lugar. Enquanto no Brasil se percebeu uma queda de cerca de 30%, no resto da América do Sul e na América Central a queda foi muito maior, em torno de 50%. 

O caso dos manipuladores telescópicos não fica muito diferente das plataformas. A queda de toda a América Latina teria sido de cerca de 40%, com números negativos da ordem de 50% na América do Sul e 40% na América Central. Em contraposição, o Brasil surpreendeu com mais de 20% de crescimento, o que se explicaria graças aos setores da construção civil e agronegócio. 

Para conhecer mais detalhes de como a pandemia impactou as diferentes empresas dedicadas ao setor de acesso, a CLA entrevistou alguns de seus executivos. 

JLG

A JLG informou que suas vendas do terceiro trimestre caíram 60,9% em comparação com o mesmo período do ano passado. As plataformas de trabalho aéreo experimentaram uma diminuição de 66%, enquanto as vendas de manipuladores telescópicos tiveram queda de 64%.

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“No começo de 2020, a JLG antecipou uma redução na demanda global de equipamentos aéreos, com vento contra até 2021. Em geral, nossa perspectiva foi positiva e nosso prognóstico se alinhou com a natureza cíclica do negócio, que é algo que planejamos. O que antecipamos foi uma pandemia de saúde mundial que afetou rapidamente a economia global”, comentou Mike Brown, vice-presidente de vendas e desenvolvimento de mercado para a América Latina.

A primeira ação da empresa, segundo o executivo, foi proteger e apoiar os empregados e suas comunidades, mas sempre mantendo um enfoque fiscalmente responsável no negócio. “Como ocorreu com a maioria das empresas, vimos atrasos nos pedidos e alguns cancelamentos, tudo que era de se esperar dada a magnitude da situação mundial. À medida que os pontos críticos para o vírus se afiançaram em cidades chave e os canteiros de obra de todo o mundo começaram a fechar, trabalhamos rapidamente para entender o estado da cadeia de suprimentos e o novo cenário de taxas”, diz ele.

“Por experiência, aprendemos que alguns dos maiores riscos para uma recuperação rápida é não contar com pessoas ou estoque adequados. Para aumentar rapidamente é necessário um ecossistema saudável. Isto ajudou a orientar nosso enfoque pragmático e equilibrado para alinhas a disponibilidade da cadeia de suprimentos com a demanda dos clientes, ao mesmo tempo que retínhamos os membros da equipe. Quando todas essas coisas se alinham, permite-se que a empresa saia do problema mais sã e mais rápido”, afirma.

E embora o impacto tenha sido duro na região, Brown mostra-se otimista em que o setor poderá eventualmente se recuperar. “A América Latina é um mercado emergente para as plataformas e manipuladores telescópicos. À medida que estes produtos passem de um estado de mercado emergente para um estado de mercado maduro, esperamos ver a expansão e o crescimento da frota”, assevera.

Outro grande desafio nesta época de pandemia, dado o cancelamento de eventos, é o contato com clientes, e para todos os atores do setor este ano foi momento de encontra novas maneiras de comunicação. “Tivemos que encontrar novas formas de atender os clientes e vender produtos. Aprendemos o que funciona e o que não funciona. Sem dúvida, estes conhecimentos serão úteis à medida em que avancemos para continuar trazendo a melhore experiência de cliente possível àqueles com quem interagimos”, finaliza Brown.

GENIE

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A Terex AWP, propietária da Genie, informou recentemente uma redução de 29% nas suas vendas de plataforma de trabalho aéreo no terceiro trimestre do ano, em comparação ao mesmo período do ano passado. Embora seja uma queda forte, é menor às experimentadas no começo da pandemia. Para o período entre janeiro e setembro, as vendas totais diminuíram 36,5% em relação ao mesmo período do ano passado.

“Havia boas expectativas para 2020 para quase toda a América do Sul. Hoje voltamos ao nível anterior a 2018, mas acreditamos que 2021 e 2022 serão anos de crescimento mais rápido, devido à demanda reprimida”, diz Gustavo Faria, presidente regional da Terex AWP para América Latina e gerente geral da Genie.

Por ter uma estrutura ajustada na América do Sul, a Genie pôde reagir bem à paralisia do mercado em função da pandemia, cortando alguns gastos sem ter que cortar pessoal, e segundo o executivo, com a reativação do mercado a empresa está bem posicionada para continuar crescendo nos próximos anos.

“Acreditamos que é um mercado que ainda tem muita margem para crescer. Lamentavelmente, a pandemia atrasou este crescimento ao longo de 2020, mas acreditamos que nos próximos anos deverá haver investimentos tanto no Brasil como nos principais países da região, como Chile, Peru, Argentina e Colômbia”, afirma ele.

Mesmo antes da pandemia, a empresa já havia fortalecido seus processos internos, com maior digitalização e otimização para que as equipes pudessem trabalhar remotamente sem prejuízo ao atendimento dos clientes, o que permitiu enfrentar a pandemia em boa situação. “Outro projeto que conseguimos iniciar este ano foi o novo e-commerce de venda de peças no Brasil, uma nova plataforma que facilitará e agilizará todo o processo de venda de peças originais da Genie no país”, agrega Gustavo Faria.

Haulotte 

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Outra empresa que sentiu forte impacto nas suas vendas foi a francesa Haulotte Group, cujas receitas caíram 35% no primeiro semestre do ano, em comparação com o mesmo período do ano passado, e na América Latina esta queda foi de 47%. 

Mesmo assim, a empresa tem uma visão positiva a respeito do Brasil. “É o único mercado na região onde prevemos recuperação em 2021. De fato, depois da China, o Brasil pode ter a recuperação econômica mais forte, não apenas em comparação com a América Latina, mas inclusive em comparação ao resto das Américas”, diz Marcelo Racca, gerente geral da Haulotte do Brasil. 

Giancarlo Bobbio, diretor de marketing da empresa para a América, declara que embora “tenhamos visto uma queda de 30% no mercado de plataformas do Brasil, no Canadá se observou uma queda ainda maior, de 65%. Uma razão pode ser que, durante a pandemia, a liderança do governo pró-economia do Brasil tenha se centrado em impulsionar a recuperação econômica em lugar de estabelecer grandes bloqueios em todo o país”. 

Embora a empresa não conte com fabricação própria na maior economia latino-americana, algumas mudanças tributárias, como a isenção de imposto de importação, permitiram à empresa poder competir com maior facilidade. “A mudança recente realmente ajuda a nivelar o campo de jogo para empresas como a Haulotte, que fabricam fora do Brasil”, afirma Racca. 

A Haulotte já goza de uma sólida reputação, mas é menos conhecida por seus manipuladores telescópicos, e apesar disso a empresa vê novas oportunidades de reintroduzir estes equipamentos no mercado de locação do Brasil, à medida em que novos players assumem a liderança no mercado. “Muitos anos construindo relações sólidas nos permitiram aproveitar estas novas condições de mercado que não poderíamos aproveitar sem nossos sócios estabelecidos”, afirma o executivo. 

“Estamos concentrando nossos recursos no Brasil para aproveitar a oportunidade. Temos uma equipe incrível dirigindo nossa operação no Brasil. O pessoal é bom e estável. Não sofremos com alta rotação de empregados. Todos os ingredientes estão aí para prognosticar o crescimento em um mercado de 2021 que será desafiador”, complementa Bobbio. 

Snorkel 

As receitas da Snorkel também experimentaram forte retrocesso, e nos primeiros seis meses de 2020, a empresa registrou vendas 46,4% menores do que no mesmo período do ano passado. 

Ahern

“Como era de se esperar, 2020 foi um ano muito difícil muito desafiador para a Snorkel como fabricante, assim como para nossos negócios de distribuição na região da América Latina, a Ahern Chile e a Ahern Argentina. Nós, como muitas empresas, tínhamos planos de crescimento contínuo este ano, e já havíamos completado a relocalização de nosso negócio da Ahern Chile para maiores instalações em janeiro. À medida que aconteceu a pandemia, nosso enfoque mudou de fazer o negócio crescer a encontrar formas pró-ativas de proteger nossos empregados e apoiar nossos clientes à medida que eles continuam se adaptando ao entorno que muda rapidamente, de acordo com as pautas locais”, comenta Matthew Elvin, CEO da empresa. 

O executivo vê com otimismo o futuro no Brasil, e diz que embora o país “tenha enfrentado alguns desafios nos últimos anos, recentemente viemos alguns sinais de movimentos positivos nos segmentos de equipamentos industriais e de acesso. A sensação é que a renovação de frota continuará, e que há esperanças de um primeiro trimestre sólido em 2021”. 

Manitou 

Tal como a Haulotte, a receita da Manitou também teve queda global de 35% na primeira metade de 2020, comparando com o primeiro semestre de 2019. 

Manitou

Com o novo cenário pandêmico, a companhia suspendei a produção de seus manipuladores telescópicos de 18 metros no Brasil. “Tomamos esta decisão porque os mercados eram muito pequenos”, explica Marcelo Bracco, diretor geral para Brasil e América Latina. 

Apesar disso, o executivo declara que o impacto não foi tão duro como se poderia esperar. “Não reduzimos muito o pessoal e aproveitamos para reforçar a equipe de serviços”. Além disso, graças a uma taxa de câmbio favorável, a empresa pôde vender seu estoque no país. De fato, a Manitou no Brasil teve um crescimento de 10% até setembro, número que não se pôde replicar na América do Sul, onde as vendas caíram 20%. 

Apesar das incertezas próprias do covid-19 e das eleições presidenciais de 2022 no Brasil, a Manitou está muito ativa na região, com boas projeções, otimismo e lançando novos equipamentos (ver artigo sobre a Manitou nas próximas páginas). “Estamos crescendo e consolidando nosso nome. Temos mais de 50 distribuidores em toda a América Latina e no Brasil estamos também com servidealers. Crescemos em serviços e peças de reposição”, destaca Bracco. 

Tecnologias digitais 

Em uma época em que as visitas presenciais são cada vez mais difíceis e em que reuniões cara a cara são quase nulas, a adoção de tecnologias digitais se faz imprescindível. 

“A pandemia mudou drasticamente a forma com que nos comunicamos com colegas, clientes e entre nós, e esperamos ver que parte deste comportamento se adote no nosso ‘novo normal’ a longo prazo. As empresas e as pessoas que se adaptem a esta nova realidade e adotem estas novas formas de compartilhar informação serão as mais bem-sucedidas no futuro”, afirma Matthew Elvin, da Snorkel. 

“A adoção de tecnologias que melhoram a eficiência e a segurança das operações continua ganhando impulso em toda a região da América Latina. A telemática já existe há bastante tempo, e continua evoluindo de uma maneira que proporciona dados em tempo real cada vez mais úteis e tangíveis aos proprietários e operadores de máquinas. Os dados que proporcionam estes sistemas, junto a outras tecnologias conectadas, simplificam a logística e permitem a gestão pró-ativa das frotas de equipamentos para uma utilização ótima, e um tempo de inatividade mínimo. São benéficos para as locadoras e para usuários finais”, destaca Mike Brown, da JLG. 

Neste sentido, Marcelo Racca, da Haulotte, afirma que “vemos a lenta adoção da telemática na América Latina, especialmente no Brasil. As grandes locadoras, como a Mills, acreditam firmemente na telemática e na tecnologia em geral”. 

A aplicação de novas tecnologias não apenas permite às empresas economizar, mas também aproveitar melhor os dados que se compilam, o que ajuda a ganhar dinheiro. O executivo dá o exemplo novamente com a Mills, uma das maiores locadoras do Brasil. “Eles aprenderam a usar os dados telemáticos de alta qualidade que compilam, a fim de aumentar o tempo de atividade da máquina, acelerando o processo de resolução de problemas e antecipando e resolvendo problemas antes de que eles se tornem maiores. À medida que os dados se personalizam facilmente para dar conta dos objetivos da empresa, a adoção da telemática crescerá mais rapidamente. As empresas poderão ver facilmente como seu investimento lhes ajudará a aumentar seu faturamento e seu negócio em lugar de apenas ver o preço”, conclui. 

A Manitou também crê que as ferramentas de telemetria vão ser mais ocupadas, e Marcelo Bracco comenta que a empresa tem como meta trabalhar 100% de seus equipamentos na região com seu sistema Connected Machines. 

Por sua parte, a Genie, que conta com o sistema Lift Connect, espera potencializar ainda mais sua penetração de mercado a partir do próximo ano. “Alguns projetos que estavam programados para lançamento em 2020 ficarão para 2021, a telemetria é um deles”, comenta Gustavo Faria. “A fábrica continua trabalhando nas inovações de produtos e tecnologias para todos os mercados do mundo”, conclui.

BRASIL: UM MERCADO EM CRESCIMENTO (coluna assinada por Jacques Chovghi Iazdi)

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As plataformas de trabalho aéreo no Brasil sempre foram amplamente usadas em obras da construção civil, mas com os cada vez mais estritos requisitos de segurança nas indústrias, e cumprindo com os novos padrões regulatórios, começaram a ser usadas em maior escala.

Hoje em dia é muito comum entrar num centro comercial, mercado, armazém logístico, aeroporto e ver as plataformas em uso ou esperando alguma próxima aplicação.

Um mercado que está crescendo especialmente é o das plataformas de baixa altura, já que são fáceis de montar e algumas já vêm prontas para uso.

Estes dispositivos, devido a seu pequeno tamanho e baixo peso, costumam ser aptos para ser transportados em elevadores e podem ser levados a vários andares.

Uma caminhonete, furgão ou mesmo um pequeno reboque é capaz de transportar esta plataforma, facilitando que qualquer pessoa qualificada e capacitada opere este equipamento de maneira segura, cumprindo obviamente com todas as normas regulatórias, especialmente a NR 18 Anexo IV e a NR 35, entre outras aplicáveis.

Com a pandemia, as empresas tiveram que se adaptar ao novo mercado em diferentes cenários, e muita gente vem realizando serviços em altura com plataformas e total segurança.

Além da segurança, dado que frequentemente basta apenas uma pessoa para fazer um serviço para o qual antes se necessitavam duas ou mais (sem plataformas), ganha-se tempo e se economiza na mão de obra.

Outra característica importante das plataformas de baixa altura é seu baixo custo de manutenção.

Sempre teremos trabalho em altura e para isso o equipamento mais seguro, rápido e ideal sempre serão as plataformas aéreas.

* Jacques Chovghi Iazdi é autor do livro Plataforma de Trabalho Aéreo - Operação e supervisão.

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PM Group

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Também presente no mercado de acesso, mas por meio de guindastes veiculares, a empresa italiana PM Group vem fortalecendo sua atuação no mercado regional nos últimos anos.

Segundo Jorge Carbonell, gerente comercial para América Latina, o impacto da pandemia sobre as operações da empresa foi forte, “mas pouco a pouco estamos começando a nos restabelecer”.

O executivo diz ver grandes oportunidades nesta época de pandemia. “Com a virtualidade de hoje em dia pode-se chegar a mais lugares e ser mais eficientes, tanto no que se refere a compras, como a vendas. O importante é saber se adaptar às novas circunstâncias”, afirma ele.

Tendo a Itália sido um dos países mais afetados pela covid-19 no início do ano, e tendo aplicado estritas medidas de quarentena e isolamento social, o setor empresarial do país teve que absorver o impacto, mas Carbonell afirma que a disponibilidade dos equipamentos já se normalizou. Além disso, ele afirma que “o atraso coincidiu com a queda na demanda na América Latina”, o que suavizou um pouco o cenário.

A empresa aumentou sua cobertura comercial, e recentemente nomeou um novo distribuidor no Peru. É a Trex, empresa que pertence ao grupo Ferreycorp. E analisa a possibilidade de abrir novas oficinas para serviço e atendimento direto na Argentina e no Chile.

 

 

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